Europoa sofre com piores enchentes da sua história; 1.300 pessoas estão desaparecidas
Uma sequência de chuvas fortes deixou a Europa Ocidental em estado de alerta. Pelo menos 120 pessoas morreram e cerca de 1.300 pessoas ainda estão desaparecidas. Rios alagaram e enchentes devastaram partes da Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Suíça e Holanda.
A maior parte das vítimas ocorreu nos estados alemães da Renânia-Palatinado e Renânia do Norte-Vestfália, onde as autoridades afirmam que algumas redes móveis ainda estão fora de serviço, tornando impossível entrar em contato com as pessoas em terra. Cerca de 114 mil pessoas ficaram sem energia na sexta-feira (16). A maioria dos desaparecidos está na parte norte da Renânia-Palatinado.
A infraestrutura e os serviços de emergência estão sobrecarregados
As histórias e fotos que saem da área são medonhas. Uma enchente varreu um asilo para deficientes em uma cidade da Alemanha, matando 12 dos 35 residentes enquanto dormiam. O vilarejo de Schuld, com população de 700 habitantes, foi quase totalmente destruído pelas enchentes e dezenas ainda estão desaparecidas depois que casas desabaram.
“Em algumas áreas, não vimos tanta chuva em 100 anos”, disse Andreas Friedrich, porta-voz do serviço meteorológico alemão, à CNN. Ele também disse que “em algumas áreas, vimos mais do que o dobro da quantidade de chuva que causou inundações e, infelizmente, algumas estruturas de edifícios desabaram.”
As autoridades dizem que estão recebendo ligações de pessoas presas em suas casas pela enchente, mas não podem enviar equipes de resgate para buscá-las.
Um ministro do estado da Renânia-Vestfália disse que equipes de resgate realizaram “cerca de 30 mil missões” transportando pessoas das inundações, além de buscas entre os escombros das casas e edifícios. Um hospital às margens do rio Maas, na Holanda, que transbordou e causou danos em várias áreas, está se preparando para evacuar 200 pacientes na esperança de evitar mais enchentes.
“A rede entrou em colapso. A infraestrutura entrou em colapso. Os hospitais não podem receber ninguém. Os lares de idosos tiveram que ser evacuados”, disse à Reuters uma porta-voz do governo regional de Colônia.
O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, disse que “poderia ser a inundação mais catastrófica que nosso país já viu” e declarou o dia 20 de julho como dia nacional de luto, embora o número de vítimas do desastre continue aumentando.
A chuva quebrou recordes e causou danos
As enchentes foram precedidas por fortes chuvas, com totais que quebraram recordes. Na França, o serviço meteorológico nacional informou que o equivalente a dois meses de chuva caiu nos últimos dois dias. Muitos locais viram 178 milímetros de chuva em dois dias, de acordo com o Weather Channel. Alguns locais eram ainda mais extremos.
Uma estação de medição na Colônia registrou 154 milímetros de chuva em 24 horas; a máxima anterior havia sido em torno de 95 milímetros de chuva em um dia. A CNN relata que Reifferscheid, uma cidade perto de Bonn, recebeu 207 milímetros em apenas nove horas.
No condado de Hof, localizado na Baviera ao longo da fronteira tcheca, uma área 85 milímetros em apenas 12 horas, de acordo com Accuweather. Ocorreu menos de uma semana depois que a mesma área ter visto 89 milímetros no decorrer de um dia, o que significa que a nova leva de chuva caiu em solos já saturados que não podiam absorver mais água. Isso, junto com a extensão da chuva forte, agravou as enchentes.
“Com as mudanças climáticas, esperamos que todos os extremos hidrometeorológicos se tornem mais extremos”, disse ao Guardian Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo. “O que vimos na Alemanha é amplamente consistente com essa tendência.”
Chuvas fortes se tornaram mais comuns e intensas devido à crise climática. Isso se deve a uma relação simples de que o ar mais quente pode reter mais água, aumentando as chances de chuvas fortes. Quando essas chuvas extremas chegam, elas caem sobre a infraestrutura construída para outra época.
Infelizmente, esta realidade atingiu a Europa na semana passada, com resultados mortais. Outras regiões do mundo também viram chuvas intensas recentemente com resultados destrutivos. Detroit foi inundada no final do mês passado, enquanto a região de Nova York, incluindo o metrô da cidade, foi recentemente inundada por uma tarde de fortes chuvas.
Uma “Falha Monumental do Sistema”
Não é apenas a infraestrutura física que não conseguiu lidar com as enchentes. O Sistema Europeu de Conscientização sobre Inundações, que monitora ameaças de enchentes em todo o continente, emitiu um alerta de enchente “extremo” no início da semana passada, em antecipação à chuva forte em vários países.
O serviço meteorológico federal da Alemanha disse ao Politico que havia repassado o aviso às autoridades locais e que elas eram responsáveis pela evacuação dos cidadãos. Hannah Cloke, hidróloga da European Flood Awareness System , disse ao Politico que o desastre foi “uma falha monumental do sistema”.
“Eu esperava que as pessoas estivessem evacuando, você não espera ver tantas pessoas morrendo por causa das enchentes em 2021. Isso é muito, muito sério”, disse ela.
As enchentes podem influenciar as eleições na Alemanha
As enchentes estão ocorrendo um pouco antes das eleições alemãs deste ano, previstas para setembro, quando o país elegerá sua nova chanceler para substituir Angela Merkel. Os dois principais candidatos são Annalena Baerbock, do Partido Verde, e Armin Laschet, do centro-direita da União Democrática Cristã, que também é presidente do estado da Renânia do Norte-Vestfália, onde grande parte da destruição aconteceu. Há uma chance, acreditam alguns especialistas, de que os desastres empurrem a opinião pública mais para o Partido Verde e o ativismo climático.
Independentemente do partido, muitos políticos alemães expressaram preocupação sobre como a mudança climática pode ter agravado este desastre.
“Passamos por secas, chuvas fortes e inundações por vários anos consecutivos, inclusive em nosso estado”, disse Malu Dreyer, governador da Renânia-Palatinado. “As mudanças climáticas não são mais abstratas. Estamos experimentando de perto e dolorosamente.”