A gente sabe: o Carnaval é uma época propícia a meter o pé na jaca. Mas, antes de encher o caneco como se não houvesse amanhã, é bom lembrar que, uma hora, a conta chega. E o problema é que beber demais pode ter efeitos muito mais duradouros que uma ressaca no dia seguinte.
Um levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2018 mostra que o álcool pode afetar as condições de saúde mental e aumentar o risco de problemas cognitivos e demência. Por outro lado, cortar o consumo de álcool pode se transformar em um “combustível” para o cérebro.
“Vemos o mundo através de óculos cor-de-rosa quando estamos bebendo”, explicou Tim Stockwell, cientista do Instituto Canadense para Pesquisa do Uso de Substâncias, à CBC.
“Mas o efeito de longo prazo é que, mesmo em poucas horas, o álcool age como um depressor [do sistema nervoso central], e essa melhora do humor é substituída por cansaço, fadiga e ansiedade”.
Mesmo em quantidades pequenas, bebidas alcoólicas atrapalham o sono e já são associadas ao humor deprimido. Quando o consumo é excessivo, pode acelerar e intensificar os altos e baixos emocionais.
Um estudo do final da década de 1990 sugere que pacientes com transtornos de humor e ansiedade devem se abster de beber mesmo moderadamente. O motivo: o álcool afeta o curso clínico de modo adverso e piora a resposta ao tratamento.
O que acontece com o cérebro?
O sistema nervoso é o mais afetado pelo etanol, o tipo de álcool mais comum nas bebidas. Isso porque é uma molécula pequena e facilmente solúvel em água, o que faz com que seja facilmente “carregada” pelo sangue por todo o corpo.
Ao chegar no sistema nervoso central, a molécula interage com neurotransmissores que fazem a comunicação entre as células. É como se o etanol as “bagunçasse”: ele inibe a atividade do cérebro e faz com que os nossos sentidos fiquem embaralhados.
Daí a sensação de euforia, prazer e excitação. Como nossos neurotransmissores estão “perdidos”, nos sentimos com concentração reduzida, menos atenção, queda na memória recente e menor capacidade de julgamento. A região responsável pelo controle dos movimentos também se “perde”, o que prejudica o equilíbrio.
A partir daí é um efeito cascata. Os neurotransmissores do cerebelo e do aparelho vestibular já estão tão desorganizados que causam problemas na articulação das palavras e visão duplicada. Se o consumo de álcool foi maior, a cognição e coordenação motora também perdem espaço, e é essa perda que aumenta os riscos de acidentes de trânsito.
Envelhecimento do cérebro
Quem bebe sempre tem chances mais altas de se deparar com o envelhecimento mais rápido do cérebro. É o que mostra uma pesquisa da Universidade de Wisconsin de março de 2022.
No estudo, pesquisadores reuniram dados do Biobank, o maior banco de dados de saúde do mundo, criado pelo Reino Unido em 2006. Ao analisar ressonâncias magnéticas do cérebro de quase 40 mil adultos, a equipe viu que pessoas que consumiam álcool constantemente tinham uma estrutura cerebral diferente.
Mais especificamente, essa diferença reside no fato de que pessoas habituadas a beber com frequência tinham, em sua maioria, mudanças na substância branca do cérebro, muitas vezes relacionada ao aumento do risco de derrames e demência.
Precisa parar de beber?
Longe de dizer a alguém o que fazer (especialmente no Carnaval), mas uma pesquisa da Universidade de Londres mostrou que pessoas que pararam de beber relataram ter menos ansiedade, depressão e autoestima melhor depois de seis meses sem álcool.
Mas, falando nos efeitos a longo prazo, é difícil saber exatamente quantos copos de cerveja por semana podem causar alterações cerebrais. Reduzir pode ser um bom caminho, assim como dar uma pausa – talvez depois do feriado? – para ver como o corpo responde.