Com os pedidos de divisão do Facebook começando a ganhar apoio de diversos candidatos à presidência dos Estados Unidos em 2020 – incluindo dos senadores Elizabeth Warren e Bernie Sanders – está ficando difícil para que os líderes da rede social se escondam e não falem sobre o tema.
Durante uma viagem à França, Mark Zuckerberg foi questionado sobre o poder de sua companhia. E em uma entrevista concedida à emissora CNBC na última sexta-feira (17), a chefe de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, também tocou no assunto.
“Poderiam nos dividir, poderiam dividir outras empresas de tecnologia, mas na verdade isso não trataria dos problemas estruturais com os quais as pessoas estão preocupadas”, disse Sandberg.
“Elas estão preocupadas com a segurança das eleições, estão preocupadas com conteúdo. Elas estão preocupadas com privacidade e portabilidade de dados. Sabemos no Facebook que temos uma responsabilidade real de fazermos melhor, e ganhar novamente a confiança das pessoas”, concluiu.
Eu, particularmente, estou chocada. Quer dizer então que Sandberg não concorda que o Facebook deveria abrir mão de parte do controle abissal que detém? Não me diga…
Ela citou pontos importantes, coisas que as pessoas realmente se preocupam. No entanto, em um raciocínio curioso e pouco sólido sobre o porquê o Facebook não deveria ser dividido, Sandberg apontou para uma “preocupação” nos Estados Unidos sobre companhias de tecnologia chinesas que não enfrentariam as mesmas intervenções.
A manchete da CNBC, inclusive, destaca esse ponto: “Sheryl Sandberg: Empresas chinesas de tecnologia também são poderosas, e não serão divididas”. Acontece que, na China, a banda toca diferente – por lá, as empresas sofrem um pesado controle estatal. Um exemplo recente foi a restrição à Tencent, que foi proibida de desenvolver jogos devido ao vício.
Embora Sandberg tenha apontado que sua empresa está gastando bilhões na tentativa de reposicionar a marca no campo da privacidade, sua declaração foi consideravelmente menos convincente do que as recentes falas de Mark Zuckerberg.
Falando à France Info na semana passada sobre o editorial do cofundador do Facebook, Chris Hughes, publicado no New York Times, Zuckerberg disse que acha que dividir a companhia “não fará nada para ajudar a resolver” os maiores problemas do Facebook.
Ele comentou que “se a sua preocupação é com a democracia e eleições, então você vai querer uma empresa como a nossa sendo capaz de investir bilhões de dólares todos os anos como estamos fazendo para desenvolver ferramentas avançadas para combater a interferência nas eleições”.
Muitos dos problemas causados pelo Facebook se revelaram somente pelo fato de a rede social existir, seja interferência em eleições, desinformação ou escândalos de privacidade e dados como o recente ataque ao WhatsApp. Qualquer outra empresa do tamanho do Facebook faria os mesmos problemas aparecerem.
Agora, argumentar que a companhia deve manter-se forte no poder que já detém, mas que ainda não demonstrou ser capaz de lidar, é absurdo.