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Facebook enfim proíbe nacionalismo e separatismo brancos em suas plataformas, mas ainda está longe do ideal

Depois de passar muito tempo fazendo uma distinção complicada entre supremacia branca e nacionalismo e separatismo branco, rede adota novas medidas

Getty Images

Facebook e Instagram finalmente irão banir nacionalismo e separatismo brancos em suas redes em uma medida a ser implementada já na próxima semana. A decisão, noticiada inicialmente pelo Motherboard e agora anunciada pelo Facebook em seu site, vem depois de a gigante das redes sociais passar anos fazendo uma divisão desnecessária entre nacionalismo branco e supremacia branca. E ainda existe a questão de quão bem o Facebook conseguirá policiar conteúdo de nacionalismo branco em meio a seus dois bilhões de usuários.

“Nossas políticas há muito tempo proíbem tratamento de ódio às pessoas com base em características como raça, etnia ou religião — e isso sempre incluiu supremacia branca”, disse o Facebook em um comunicado publicado em seu site.

Porém, a empresa acrescentou uma racionalização bizarra de suas decisões passadas, invocando o “orgulho americano” e o separatismo basco, movimento separatista na Espanha por parte da minoria basca que remonta à década de 1950.

“Inicialmente, não aplicamos a mesma lógica a expressões de nacionalismo e separatismo brancos porque estávamos pensando em conceitos mais amplos de nacionalismo e separatismo — coisas como o orgulho americano e o separatismo basco, que são parte importante da identidade das pessoas”, afirmou a companhia.

O Facebook proibiu oficialmente conteúdo de supremacia branca no ano passado, mas a empresa considerava o nacionalismo e o separatismo brancos como perfeitamente aceitáveis. O nacionalismo branco é a crença de que pessoas brancas deveriam estar no comando de uma determinada nação, enquanto o separatismo branco é um desejo de estabelecer uma nação só de brancos, banindo pessoas de minorias étnicas e restringindo fortemente a imigração.

Ambas as ideologias se sustentam bastante sobre o conceito de supremacia branca, a ideia de que pessoas de minorias étnicas são inferiores aos brancos, apesar do fato de que a questão básica de quem é considerado “branco” seja algo sobre o qual os próprios racistas não conseguem entrar em um acordo. O Facebook aparentemente decidiu que não vale a pena ficar tentando distinguir entre supremacia branca e outras formas de racismo.

“Decidimos que a sobreposição entre nacionalismo, separatismo e supremacia brancos é tão extensa que não podemos fazer uma distinção significativa entre eles”, Brian Fishman, diretor de políticas de contraterrorismo do Facebook, disse ao Motherboard. “E isso porque a linguagem e a retórica que são usadas, e a ideologia que representa, se sobrepõem em um grau que não é uma distinção significativa.”

De acordo com o Motherboard, o Facebook irá proibir frases como “sou um nacionalista branco orgulhoso”, mas “nacionalismo e separatismo brancos implícitos e codificados” ainda serão permitidos. O Facebook não respondeu imediatamente a um pedido de entrevista do Gizmodo para esclarecer o que especificamente seria banido.

O Facebook irá lançar também um novo programa no site para redirecionar pessoas que estejam procurando por conteúdo de extremismo branco e até centros de ajuda. Quem estiver buscando palavras-chave supremacistas será incentivado a visitar a Life After Hate, uma organização sem fins lucrativos de Chicago (EUA) que tenta mostrar aos supremacistas brancos que eles não precisam estar envolvidos em ideologias tão odiosas.

O nacionalista branco Richard Spencer foi expulso do Facebook em abril de 2018, mas também não está claro em que situação isso deixa figuras de alto escalão cujas visões muitas vezes se alinham com o nacionalismo branco, como o apresentador Tucker Carlson, da Fox News, e o político de Iowa Steve King. Ambos expressaram explicitamente pontos de conversa de nacionalismo branco sobre a “substituição de pessoas brancas na sociedade americana.

Esses tópicos de conversa também foram centrais ao manifesto do terrorista australiano de 28 anos que matou 51 pessoas em duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, neste mês. O atirador transmitiu seu massacre ao vivo no Facebook, e desde então as empresas de redes sociais foram alvo de fortes críticas por não fazer o suficiente para policiar conteúdos extremistas em suas plataformas.

A empresa diz que está tentando melhorar a identificação de extremismo, utilizando inteligência artificial e aprendizado de máquina.

Também precisamos melhorar e ficar mais rápidos na descoberta e remoção de ódio de nossas plataformas. Nos últimos anos, melhoramos nossa capacidade de usar aprendizado de máquina e inteligência artificial para encontrar materiais de grupos terroristas. No último trimestre do ano passado, começamos a usar ferramentas parecidas para estender nossos esforços a uma gama de grupos de ódio globalmente, incluindo supremacistas brancos. Estamos progredindo, mas sabemos que temos muito mais trabalho a fazer.

Bom, pelo menos agora o Facebook reconhece que não existe nenhuma diferença de verdade entre as ideologias de supremacia branca e nacionalismo branco. Antes tarde do que nunca, né?

[Motherboard e Facebook]

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