Facebook anuncia Libra, sua moeda digital; operação começa em 2020

Na metade de 2020, o Facebook lançará a Libra, sua moeda virtual que será administrada por uma nova subsidiária da empresa chamada Calibra.

O Facebook e outras 27 empresas parceiras anunciaram oficialmente esta terça-feira (18) que planejam lançar uma moeda digital chamada Libra no primeiro semestre de 2020. E, se tudo der certo, a Libra poderá se tornar a moeda digital padrão em todo o mundo.

Segundo o Facebook, a Libra funciona à base do blockchain, embora não esteja claro por que a moeda vai usar essa tecnologia. Ao contrário de criptomoedas como o bitcoin, a Libra terá uma reserva de ativos reais, não pode ser minerada, não há limite para o número de Libra que pode ser produzido, e não será descentralizada no lançamento.

“Hoje estamos compartilhando os planos da Calibra, uma recém-criada subsidiária do Facebook cujo objetivo é fornecer serviços financeiros que permitirão que as pessoas acessem e participem da rede Libra”, disse o Facebook em um comunicado publicado em seu site. “O primeiro produto que a Calibra apresentará é uma carteira digital para Libra, uma nova moeda global impulsionada pela tecnologia blockchain. A carteira estará disponível no Messenger, WhatsApp e como um aplicativo independente – e esperamos lançá-la em 2020”.

A ideia da Calibra é facilitar a transferência de dinheiro para contatos e pagar itens. No futuro, o Facebook fala também em usar a carteira digital para transporte público, substituindo o cartão físico geralmente usado para a tarefa.

O Facebook, sua empresa recém-criada Calibra, e seus 27 outros parceiros estão formando um grupo em Genebra, na Suíça, chamado Associação Libra, que administrará o projeto da moeda digital. Em seu white paper, a Libra é descrita como algo que será “governado como um bem público”, apesar do fato de que o objetivo final é que o Facebook e seus parceiros ganhem dinheiro com o empreendimento.

O Facebook postou um vídeo promocional da Libra no YouTube, posicionando o empreendimento como um sistema global positivo e empoderador que ajudará as pessoas excluídas do setor bancário tradicional. Mas quem está prestando atenção definitivamente terá algumas impressões estranhas do anúncio, que parece se encaixar perfeitamente em um filme de ficção científica distópico como Children of Men (Filhos da Esperança) de 2006 .

“E se tornássemos o dinheiro verdadeiramente global, estável e seguro”, diz o narrador do vídeo da Libra. “E se todos fossem convidados para a economia global, com acesso às mesmas oportunidades financeiras? Apresentamos a Libra, uma nova moeda global projetada para o mundo digital. ”

Por que a Libra é “alimentada por blockchain”? O white paper da moeda digital não responde realmente a essa pergunta.

Financial Times talvez explique melhor:

Considerando que o Facebook simplesmente parece estar tentando construir uma rede global de pseudo-bancos e pagamentos, não parece haver nenhuma boa razão para fazer isso usando tokens de blockchain, que, como os próprios autores apontam nos documentos, até agora provaram ser voláteis e difíceis de escalar. O gigante chinês WeChat Pay, rede social transformada em sistema de pagamento, e com quem o Facebook certamente está tentando competir a nível global, não usa o blockchain. Nem o PayPal. Ou Venmo. O dinheiro da internet não precisa de blockchain. Talvez seja por isso que a moeda Libra não é realmente um dinheiro blockchain em qualquer sentido significativo da palavra.

Mas o white paper da Libra também descreve a maneira pela qual eles esperam alcançar estabilidade. Ou seja, apenas emitindo a moeda como um governo mundial emitiria qualquer outra moeda, ligando-a a algo de valor no mundo real:

Os ativos de reserva são uma coleção de ativos de baixa volatilidade, incluindo dinheiro e títulos do governo de bancos centrais estáveis ​​e de boa reputação. Como o valor da Libra está efetivamente ligado a uma cesta de moedas fiduciárias, do ponto de vista de qualquer moeda específica, haverá flutuações no valor da Libra. A composição da reserva é projetada para mitigar a probabilidade e a gravidade dessas flutuações, particularmente na direção negativa (por exemplo, mesmo em crises econômicas). Para esse fim, a cesta foi estruturada com preservação de capital e liquidez em mente.

Privacidade

O Facebook insiste que não usará os dados da carteira Calibra ou dos gastos da pessoa para exibir anúncios, algo que claramente parece suspeito, sobretudo se considerarmos os problemas recentes de privacidade do Facebook. Mas talvez a cultura interna de sigilo do Facebook e a forma dissimulada de lidar com problemas tenha mudado, certo?

“Além de casos limitados, a Calibra não compartilhará informações de conta ou dados financeiros com o Facebook ou qualquer terceiro sem o consentimento do cliente. Isso significa que os dados financeiros e as informações da conta dos clientes da Calibra não serão usados para melhorar segmentação de anúncios na família de produtos do Facebook”, disse a rede social em um comunicado postado em seu site.

“Os casos limitados em que esses dados podem ser compartilhados refletem nossa necessidade de manter as pessoas seguras, cumprir a lei e fornecer funcionalidades básicas às pessoas que usam a Calibra. A Calibra usará os dados do Facebook para cumprir a lei, proteger as contas dos clientes, reduzir os riscos e impedir atividades criminosas”, continuou o Facebook.

O símbolo da Libra será composto por três linhas onduladas horizontais, exatamente onde o cifrão iria se estivéssemos falando de dólar ou real:

Capturas de tela do app da Libra, a moeda digital do Facebook

As 27 empresas que estão envolvidas incluem importantes instituições financeiras, bem como algumas das maiores empresas de capital de risco do Vale do Silício. Mesmo empresas de tecnologia, como Uber e eBay, estão entrando na jogada, segundo o site do Facebook:

  • Pagamentos: Mastercard, PayPal, PayU (Naspers’ fintech arm), Stripe, Visa;
  • Tecnologia e marketplaces: Booking Holdings, eBay, Facebook/Calibra, Farfetch, Lyft, MercadoPago, Spotify AB, Uber Technologies, Inc.;
  • Telecomunicações: Iliad, Vodafone Group;
  • Blockchain: Anchorage, Bison Trails, Coinbase, Inc., Xapo Holdings Limited;
  • Capital de risco: Andreessen Horowitz, Breakthrough Initiatives, Ribbit Capital, Thrive Capital, Union Square Ventures;
  • Organizações sem fins lucrativos e multilaterais e instituições acadêmicas: Creative Destruction Lab, Kiva, Mercy Corps, Women’s World Banking.

O Facebook diz que espera ter mais companhias à bordo no próximo ano, com até 100 empresas à bordo por lançamento.

Neste ponto, você pode estar se perguntando: não costumava ser muito ilegal criar suas próprias moedas? E, sim, você está correto se pensou desta forma. Empreendedores como Bernand von NotHaus descobriram isso no início dos anos 2000, quando ele tentou criar o Liberty Dollar, baseado no ouro. Mas obviamente ele estava à frente de seu tempo. Se von NotHaus tivesse esperado pela década de 2010, ele poderia ter criado quantas moedas quisesse, contanto que usasse chavões como blockchain e, por um acaso, administrasse uma das maiores redes globais de vigilância do mundo.

Mas o consórcio de empresas do Facebook diz que você pode confiar nelas e em sua nova moeda. A mesma moeda que espera dominar o mundo.

“Estamos ainda no início do longo processo de desenvolvimento da Calibra”, diz o Facebook. “Ao longo do caminho, consultaremos uma ampla gama de especialistas para garantir a entrega de um produto seguro, privado e fácil de usar para todos. Mas temos o prazer de compartilhar essa rápida visão e compartilharemos atualizações ao longo do caminho”.

O que poderia dar errado, né?

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