Dados que poderiam ser essenciais para as investigações sobre os anúncios políticos financiados pela Rússia parecem ter sido jogados fora por Facebook e Twitter no triturador.
• Facebook, Google e Twitter testemunham sobre a influência russa nas eleições dos EUA
• Anúncios russos alcançaram cerca de 10 milhões de americanos, diz o Facebook
Ambas as plataformas deletaram dados que pesquisadores dizem ser cruciais para entender os motivos e o impacto por traz da propaganda via redes sociais que visaram eleitores americanos no ano passado. No caso do Twitter, informações ligadas à influência russa na campanha foram supostamente apagadas devido a uma política da empresa de exigir que todos os dados de usuários sejam eliminados depois que as contas correspondentes deixam de existir.
O Facebook, entretanto, culpou um “bug”.
No mês passado, as sondagens do Congresso em torno de campanhas de desinformação possivelmente apoiadas pelo Kremlin se voltaram bastante para as redes sociais, onde fortunas foram gastas por trolls russos em anúncios visando os eleitores americanos. Nesta semana, legisladores da Câmara anunciaram que pretendiam publicar os anúncios comprados por russos e postados no Facebook uma vez que a empresa limpasse informações que permitissem identificação pessoal neles.
O Washington Post noticiou na quinta-feira (12) que o Facebook havia limpado todos seus dados relacionados aos anúncios comprados por russo depois de um analista de redes sociais determinar que a empresa provavelmente havia amenizado o verdadeiro alcance dos anúncios. O Facebook recentemente divulgou que os anúncios alcançaram até dez milhões de americanos antes e depois da eleição presidencial de 8 de novembro; entretanto, o pesquisador, Jonathan Albright, acredita que os anúncios haviam alcançado “pelo menos o dobro disso” e potencialmente mais.
O Facebook agiu depois de a pesquisa de Albright ser publicada, corrigindo o que chamou de um “bug”, que, segundo disseram, havia dado a Albright e outros pesquisadores acesso não intencional a informação em cache sobre os anúncios por meio de uma ferramenta de analytics chamada CrowdTangle. Milhares de posts foram deletados. A decisão levou a alegações no Washington Post de que o Facebook pudesse estar agindo por conta própria para esconder o verdadeiro alcance dos anúncios.
Cerca de 470 contas de Facebook form ligadas a uma famosa “fazendo troll” de propaganda com sede em São Petersburgo, chamada Internet Research Agency, que supostamente desapareceu logo após a eleição. Antes de o Facebook deletar os dados, Albright determinou que apenas seis dessas páginas haviam gerado 19,1 milhões de interações no Facebook, ou seja, compartilhamentos, curtidas e comentários. Esse mesmo conteúdo hava sido compartilhado aproximadamente 340 milhões de vezes. Uma página fake no Facebook que havia se disfarçado de grupo muçulmano americano tinha, sozinha, 71,4 milhões de compartilhamentos.
É claro, o número de interações não indica o número de usuários, já que um mesmo usuário pode ter curtido ou compartilhado vários posts. Infelizmente, parece que o público não terá mais oportunidades de verificar o número de dez milhões dado pelo Facebook, já que a rede social se movimentou tão rapidamente para deletar qualquer vestígio de dados que desse sustentação a isso.
Twitter e política de privacidade
De modo parecido, o Twitter teria apagado uma grande quantidade de dados que poderiam ter sido úteis para entender a guerra de propaganda em torno da eleição. O Politico noticia que o Twitter deletou os dados — talvez inadvertidamente — de acordo com uma política cuja intenção é garantir que a privacidade de seus usuários seja preservada no caso de uma conta ser voluntariamente apagada. A empresa agora estaria correndo para determinar se a informação pode ser recuperada, embora não tenha especulado se sim ou não publicamente.
Os esforços do Twitter para fornecer evidências da campanha de influência russa aos legisladores foi fortemente criticada pelo senador Mark Warner, Democrata do Comitê de Inteligência da Câmara, depois de uma reunião a portas fechadas duas semanas atrás. Warner expressou seu desapontamento depois de saber que a investigação do Twitter parecia unicamente baseada em dados já produzidos pelo Facebook. Das 470 contas de Facebook identificadas, o Twitter relatou que 22 delas tinham conta correspondentes envolvidas em tentativas de propagando visando eleitores americanos. Mas isso pareceu ser tudo o que o Twitter investigou sobre o assunto. E isso, disse Warner, era “inadequado em quase todos os níveis”.
Conforme as campanhas para as eleições intermediárias de 2018 se preparam para o pontapé inicial, legisladores estão correndo contra o relógio para descobrir o impacto da propaganda em redes sociais, assim como determinar o que pode ser efeito para evitar isso, se for possível. Alguns legisladores exigiram ação por parte da Comissão Eleitoral Federal, pedindo por novas regras que exijam divulgações sobre anúncios políticos veiculados em redes sociais; outros se viraram para a elaboração de leis.
Enquanto isso, eleitores na Europa testemunharam neste ano a mesma forma de interferência eleitoral: 30 mil contas foram deletadas antes da eleição na França, assim como “dezenas de milhares” na Alemanha.
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