Uma das histórias mais estranhas do ano passado envolveu uma operação gigantesca do FBI projetada para pegar bandidos no mundo todo. Segundo o site Motherboard, essa operação deixou nos EUA uma marca maior do que se acreditava inicialmente.
Durante a “Operação Trojan Shield”, os federais usaram um relacionamento secreto com uma empresa de telefonia criptografada, chamada Anom, que vendia exclusivamente dispositivos para criminosos que procuravam uma maneira segura de se comunicarem. O desenvolvedor do produto, que já havia sido preso por tráfico de drogas, concordou em atuar como informante federal. Por pelo menos dois ano, ele vendeu dispositivos para criminosos enquanto também cooperava secretamente com as autoridades.
Enquanto isso, o FBI, com seus parceiros internacionais, interceptou todas as comunicações, o que lhes permitiu capturar evidências de má conduta criminal generalizada em escala global.
Isso gerou uma história muito estranha quando a agência finalmente revelou o que estava acontecendo em junho passado. “Shield” levou para prisão centenas de supostos criminosos em países de todo o mundo — muitos dos quais são acusados de usar os telefones para organizar o tráfico de drogas e outras formas de crime. As prisões continuam acontecendo até hoje.
Mas nos EUA não aconteceu nenhuma prisão. Devido a questões legais, o FBI impediu a vigilância de usuários americanos dos dispositivos de backdoor, aparentemente porque eles estavam preocupados de que a operação violasse tecnicamente as leis dos EUA e ameaçasse as liberdades civis — especificamente a Quarta Emenda, que proíbe a busca e apreensão policial sem mandado.
Embora um processo judicial tenha revelado que pelo menos 15 pessoas localizadas nos EUA eram usuários conhecidos dos dispositivos do tipo, esses indivíduos teriam sido cercados por autoridades que faziam vigilância — o que significa que foram deixados de fora da investigação.
Isso não significa que os telefones Anom não foram distribuídos nos EUA. Na verdade, muito mais foram enviados para a América do que o relatado anteriormente, segundo a Motherboard.
A agência informou recentemente que pelo menos três remessas diferentes dos celulares chegaram ao país. Uma dessas remessas foi feita para uma caixa postal em Nova York em março de 2020 e envolveu até 100 telefones. Duas outras remessas, ambas feitas para um ponto de entrega em San Diego, incluíam um total de pelo menos 10 dispositivos.
Ainda não está claro quantos telefones no total foram enviados para os EUA e, uma vez que os dispositivos estavam nos EUA, não se sabe quantos foram usados ativamente, se foram pegos pelo FBI ou se foram apenas encaminhados para outros países para uso lá.