Febre maculosa: como identificar o carrapato que transmite a doença

Carrapato transmite a bactéria causadora da doença quando preso por pelo menos quatro horas na pele. Veja como se proteger
foto de Amblyomma cajennense que transmite febre maculosa
Imagem: CDC/Wikimedia Commons/Reprodução

O Instituto Adolfo Lutz confirmou três mortes por febre maculosa no estado de São Paulo. As três vítimas são o piloto de automobilismo Douglas Costa, de 42 anos, a dentista Mariana Giordano, 36, e Evelyn Karoline Santos, 28. Uma adolescente de 16 anos morreu nesta terça (13) em Campinas e é outro caso suspeito, que está sob análise pelo Instituto.

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Todos estiveram na “Feijoada do Rosa”, evento realizado em 27 de maio, na Fazenda Santa Margarida, no Distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (SP). A prefeitura da cidade disse que a fazenda vive um surto de febre maculosa e suspendeu a realização de novos eventos até que os responsáveis pelo local apresentem um plano de contingência ambiental e de comunicação.

O número de óbitos pela doença no estado de São Paulo chegou a seis só neste ano – além de 12 casos confirmados, segundo o Instituto Adolfo Lutz. “Em 2022, foram registrados 53 casos, com 37 óbitos confirmados. Já em 2021, foram 76 casos e 42 óbitos”, disse a instituição em comunicado. Segundo o Ministério da Saúde, desde 2020 houve 160 casos por ano, em média, no país, com letalidade de cerca de 28%.

A febre maculosa

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Rickettsia. Duas espécies aparecem no Brasil: Rickettsia rickettsii, encontrada na região sudeste e ao norte do Paraná, e associada à forma grave da doença; e Rickettsia parkeri, encontrada em ambientes de Mata Atlântica (como nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará).

As bactérias não infectam humanos diretamente – e não são transmitidas de pessoa para pessoa. A febre maculosa nos é transmitida por carrapatos. O principal vetor da bactéria que causa a doença no Brasil é o carrapato-estrela, nome popular da espécie Amblyomma cajennense.

Estes aracnídeos costumam aparecer em animais de grande porte, como os bois e cavalos, mas também em cães, aves domésticas, e roedores, como as capivaras. As margens de rios e áreas de mata silvestre são locais propícios para o bichinho – portanto, quem mora nestes locais ou os visita em trilhas e passeios precisa prestar atenção.

O Giz Brasil separou algumas dicas para se proteger dos carrapatos possivelmente infectados pelas bactérias Rickettsia. Confira abaixo.

Como detectar o carrapato?

Nem sempre é possível se manter longe das áreas de risco. Mas você pode tomar alguns cuidados para detectar rapidamente os carrapatos. Especialistas recomendam que se verifique a cada duas horas se há algum aracnídeo fixado à pele quando se caminha por margens de rios e áreas de mata silvestre, ou ao lidar com animais de fazenda, como bois e cavalos.

Os carrapatos mais jovens, mais comuns entre os meses de junho e novembro, são os principais responsáveis pela transmissão, porque são menores e mais difíceis de serem vistos. Uma dica para enxergá-los em seu corpo é usar roupas claras e compridas ao caminhar em áreas de risco.

Ou seja: nada de bermuda e chinelo. O ideal é vestir calças e camisas de manga longa para evitar o contato com carrapatos infectados, além de usar botas nos pés. Se você colocar as barras da calça para dentro das botas, mais protegido estará.

Como remover o carrapato da pele?

Caso você encontre um bichinho, retire-o depressa da pele. Mas não o esmague, porque isso pode liberar bactérias possivelmente presentes no carrapato. Estes microorganismos podem, por sua vez, penetrar em pequenas lesões de sua pele.

O ideal é retirar o carrapato com cuidado, segurando-o com as pontas dos dedos ou usando uma pinça e torcendo levemente até que sua boca solte a pele. O Ministério da Saúde aconselha: não obrigue o carrapato a desgrudar de sua pele encostando uma agulha ou palito de fósforo quente. O estresse faz com que ele libere saliva, o que aumenta as chances de transmissão das bactérias.

É importante detectar e remover carrapatos rapidamente, porque os carrapatos infectados transmitem a bactéria quando estão há pelo menos quatro horas em nossa pele. Os sintomas da febre maculosa são semelhantes aos de outras doenças infecciosas. Estar ciente do contato com carrapatos e informar aos médicos sobre isso ajuda no diagnóstico da doença e pode adiantar o tratamento, feito com antibióticos.

Posso usar repelentes?

Há, sim, repelentes eficazes contra carrapatos, e especialistas recomendam que se utilize estes produtos ao caminhar por áreas que apresentam risco de contato com carrapatos. Os melhores repelentes para repelir os aracnídeos são aqueles à base de DEET – um dos três princípios ativos de repelentes aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), além do IR3535 e da Icaridina.

O DEET (N-dimetil-meta-toluamida ou N,N-dietil-3-metilbenzamida) é projetado para aplicação direta na pele. Ele foi desenvolvido em pesquisas militares dos EUA em 1946, e foi registrado para uso pelo público em geral em 1957. Segundo o Ministério da Saúde, concentrações maiores de DEET são mais eficazes para afastar os carrapatos.

Segundo a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA), o DEET é aprovado para uso em crianças sem restrição de idade. É importante sempre ler as instruções do rótulo do produto para utilizá-lo. Lembre-se que produtos caseiros à base de citronela, andiroba, óleo de cravo e outros não têm eficácia comprovada pela Anvisa.

Quais cuidados eu devo tomar com animais?

O Ministério da Saúde recomenda: caso você viva em áreas rurais e que apresentem risco de carrapatos, é bom não deixar cães dentro de casa e cuidar da higiene dos animais domésticos. Pode-se aplicar carrapaticidas em cães, equinos e bovinos, mas isto deve ser feito com a supervisão de um médico veterinário, como medida adicional de prevenção.

Se você levar seu cachorro para passear com você em áreas rurais, fique de olho: ele pode voltar para sua cidade carregando carrapatos infectados. É importante examinar seu pet para descartar a possibilidade – e retirar os carrapatos, com os cuidados já mencionados, caso eles estejam no animal.

E, claro: não faça carinho em capivaras. Os roedores são um dos principais hospedeiros do carrapato-estrela no Brasil. Você pode achá-los fofos, mas não se esqueça: são animais silvestres, dos quais devemos sempre manter distância segura para o bem-estar deles e de nós mesmos.

Como proteger minha casa?

Não é recomendado usar carrapaticidas no ambiente para o controle dos aracnídeos. Especialistas afirmam que esta medida não é eficaz, além de ser nociva para outros animais invertebrados e contaminar água e solo, causando prejuízos ao meio ambiente.

Caso você viva em áreas de risco, uma boa medida de proteção é aparar com frequência a área verde ao redor de sua casa, respeitando as restrições ambientais de sua cidade, ou exigir este cuidado de seus vizinhos e autoridades locais. Isso evita a proliferação dos carrapatos, porque a exposição direta aos raios solares geralmente é fatal para as larvas do carrapato-estrela.

Lembre-se que queimar a vegetação ao seu redor não é uma opção para o combate aos carrapatos: a prática traz muito mais prejuízos ao meio ambiente do que possíveis benefícios.

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