Ficar sentado o dia todo é definitivamente ruim, mas levantar ocasionalmente ajuda?
Não deve ser nenhuma surpresa que ficar sentado por longos períodos de tempo é ruim para nós. Mas uma nova pesquisa sugere que não é apenas com a quantidade total de tempo que passamos sentados diariamente que nós precisamos nos preocupar, é também o período de tempo entre as séries de atividade física. Embora ainda incompletos, estes resultados sugerem uma boa intervenção que poderia ajudar certos indivíduos a evitar alguns dos efeitos de prolongados períodos sentados.
De acordo com o novo estudo, muito tempo sentado é um fator importante para todas as causas de mortalidade, sendo o tempo gasto sentado acumulado em uma longa sessão ou durante episódios prolongados durante o dia. Infelizmente, isso é verdade para todos, independente do quanto nos exercitamos ou outros fatores de saúde. Em uma nota mais positiva, pesquisadores descobriram que as pessoas que levantam pelo menos uma vez a cada 30 minutos estavam menos propensas a morrer durante o curso do estudo, sugerindo uma possível contramedida para este moderno perigo de saúde.
Mas, como outros especialistas com quem falamos deixaram claro, estes resultados não podem ser generalizados para toda a população, e muito mais trabalho precisa ser feito para determinar por que a inatividade física é tão prejudicial à nossa saúde, e os tipos de coisas que podemos fazer para compensar estes riscos.
O que está claro é que ao contrário dos nossos antepassados fisicamente ativos, muitos seres humanos modernos agora gastam uma enorme quantidade de tempo sentados todos os dias, e isso não é necessariamente voluntário. Trabalho de escritório agora é onipresente, e o mundo moderno oferece outras armadilhas, incluindo longos trajetos em um veículo e longos períodos vendo TV. Até o momento, estudos ligaram o sedentarismo – definido como qualquer atividade acordada feita enquanto sentado ou deitado – a danos de órgãos, degeneração muscular, dor nas costas e muitas outras condições definidas pelo comportamento. Talvez o mais alarmante sobre o comportamento sedentário seja sua associação à mortalidade; Quanto mais tempo você passa sentado, mais perto você fica de um fim prematuro.
O problema com estes estudos prévios, no entanto, é que, basicamente, todas as medidas de inatividade física foram auto-relatadas pelos participantes, o que muitas vezes leva a imprecisões nos dados coletados. Além do mais, estudos normalmente não conseguem medir as várias maneiras em que as pessoas estão inativas durante todo o dia, e como essas diferenças podem ter influenciado o risco de morte. O novo estudo, liderado por Keith Diaz do Columbia University Medical Center, publicado nesta semana na revista Annals of Internal Medicine, corrige essas duas falhas, sugerindo que longos períodos de inatividade podem ser tão prejudiciais quanto o total diário de uma pessoa.
“Se você é uma pessoa que se senta por longos períodos no trabalho ou em casa, acreditamos que estes resultados sugerem que se movimentar a cada 30 minutos pode reduzir o seu risco de morte”.
Para o estudo, Diaz e sua equipe analisaram os dados recolhidos por monitores de atividade física presos à cintura para medir o nível de inatividade. Cerca de 8.000 participantes afro-americanos e caucasianos dos Estados Unidos de mais de 45 anos de idade foram monitorados durante um período de sete dias (estes dados foram coletados como parte da Razões para Diferenças Geográficas e Raciais para o estudo do AVC). Nesta amostragem, os participantes eram sedentários em uma média de 12,3 horas ao longo de um dia de 16 horas, enquanto a duração média do sedentarismo foi de 11,4 minutos.
Quando os pesquisadores deram continuidade à pesquisa quatro anos depois, 340 participantes, ou quatro por cento, havia morrido. Os pesquisadores descobriram que o tempo de sedentarismo total acumulado e maiores crises de tempo de sedentarismo foram associados com um maior risco de mortalidade por qualquer causa, mesmo após o ajuste para idade, sexo, raça, IMC, ou exercício. Os participantes que mantiveram períodos de inatividade física a menos de 30 minutos tiveram o menor risco de morte. Mas para cada 30 minutos de tempo sedentário, os pesquisadores descobriram que a probabilidade de morte entre os participantes do estudo aumentou cerca de 19%.
“Em suma, descobrimos que longos períodos sentado aumentam o risco de morte de uma pessoa”, Diaz disse ao Gizmodo. “Nós ainda estamos estudando quanto tempo é demais para permanecer sentado. Descobrimos que aqueles indivíduos que frequentemente mantiveram seus período sentados abaixo de 30 minutos tiveram um menor risco de morte. Então, se você é uma pessoa que se senta por longos períodos no trabalho ou em casa, nós achamos que estes resultados sugerem que se movimentar a cada 30 minutos poderia reduzir o risco de morte.”
O motivo do comportamento sedentário ser aparentemente tão ruim para a saúde ainda é um mistério. Diaz especula que ele pode ter algo a ver com os nossos músculos esqueléticos, que exigem combustível para operar e tirar a glicose do nosso sangue. Quando estamos inativos por longos períodos de tempo, o nosso corpo está continuamente exposto a níveis elevados de glicose no sangue, que podem levar a uma série de problemas de saúde. Mas isso ainda é apenas uma hipótese.
“Este trabalho é significativo na medida em que usou uma rigorosa metodologia científica para examinar as associações e padrões de tempo de sedentarismo em relação a todas as causas de mortalidade”, disse Carol Ewing Garber, professora de ciências comportamentais na Universidade de Columbia que não estava envolvida no novo estudo. “Este estudo tem estendido descobertas anteriores que mostram de uma forma definitiva que tanto o tempo prolongado do sedentarismo e quanto quebrar o tempo do sedentarismo são ambos correlatos importantes de mortalidade por qualquer causa”.
“Em todos os estudos, precisamos replicar estes resultados em diferentes populações para solidificar nossas conclusões sobre a veracidade dos resultados”.
Mas Garber também apontou diversas deficiências e limitações na pesquisa.
“Antes de mais nada, este é um estudo epidemiológico que mostra associações ou relações entre o tempo de sedentarismo, intervalos no sedentarismo e mortalidade”, ela disse ao Gizmodo. “O estudo não mostra causalidade entre as variáveis. Além disso, os resultados deste estudo não podem ser aplicados a um indivíduo, isto é, se um indivíduo altera seu tempo sedentário e padrão de tempo sedentário, isso não significa que seu risco pessoal seja alterado. Precisamos de mais dados de estudos controlados para fornecer mais apoio para a causalidade entre a mudança de comportamentos e resultados relacionados com a saúde para fazer recomendações individuais mais específicas.” E como Garber também apontou, este estudo é uma análise secundária dos dados recolhidos para uma finalidade diferente, ou seja, para examinar a variação racial, étnica e geográfica no acidente vascular cerebral. E mais importante, os participantes eram menos saudáveis como um todo em comparação com a população em geral, como mostrado por maiores taxas de fatores de risco de doenças cardiovasculares e doenças cardiovasculares.
“Embora esses fatores tenham sido ajustados estatisticamente, os leitores devem notar que, por este motivo, os resultados não podem ser generalizados para outras populações compostas de diferentes nacionalidades, identidades raciais e étnicas ou populações saudáveis”, disse Garber. “Com todos os estudos, precisamos de replicação dos resultados em diferentes populações para solidificar nossas conclusões sobre a veracidade dos resultados.”
Infelizmente, isso significa que a “regra de 30 minutos” de Diaz pode não se aplicar a todos. Como aponta Garber, somos todos diferentes, e essas conclusões não são específicas sobre indivíduos.
Diaz admite que apenas indivíduos afro-americanos e caucasianos de meia-idade participaram do estudo, e que os resultados “não podem necessariamente ser generalizada para adultos mais jovens ou outras raças/etnias”. No entanto, ele diz que sua equipe não tem “nenhuma razão para suspeitar que o tempo de sedentarismo [aconteça] de forma diferente em outras populações “, ele disse ao Gizmodo.
Vadim Zipunnikov, um professor assistente no Departamento de Bioestatística da Universidade Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, disse que o estudo é importante na medida em que é o primeiro a explorar o efeito conjunto do tempo sedentário total e de períodos sedentários prolongados sobre a mortalidade em uma amostragem nacional, mas como Garber, ele tem algumas reservas.
“O dispositivo que foi utilizado no estudo não permitiu que os pesquisadores estimassem a postura (sentado vs de pé vs deitado), portanto, estimativas do tempo de sedentarismo podem superestimar o tempo sentado”, disse Zipunnikov ao Gizmodo. E acrescentou, “duração média do tempo sedentário pode não ser o bastante para descrever todos os padrões de acumulação de tempo sedentário”.
Enquanto mais trabalho claramente precisa ser feito nesta área, um crescente corpo de literatura aponta para um estilo de vida sedentário sendo prejudicial para a nossa saúde. Mas isso não significa que não podemos ajustar os nossos comportamentos.
“Continue a se esforçar para atender às recomendações de 150 minutos de atividade física moderada por semana,” Deborah Rohm Young, Diretora de Pesquisa Comportamental no Kaiser Permanente Southern Califórnia, disse ao Gizmodo. “Sempre que possível quebrar o tempo de sedentarismo com movimento. Por exemplo, ao assistir TV, se levante e se mexa durante os comerciais. Definir um alarme no trabalho para quebrar o sedentarismo quando puder. Fique atento para futuras pesquisas e recomendações que vão sair conforme os estudos forem confirmados “.
Imagem de topo: AP