A física da caminhada sobre o fogo

Cerca de 40 pessoas ficaram feridas após caminhar sobre brasas, mas muitos dos 7.000 participantes andaram sobre o fogo sem problemas. Como isso é possível?

Cerca de 40 pessoas em um seminário com o palestrante motivacional Tony Robbins ficaram feridas quando um exercício de grupo – que envolvia caminhar sobre brasas – deu errado. Pode não parecer surpreendente, mas o evento em Dallas (EUA) tinha mais de 7.000 participantes, e a maioria deles completou a cerimônia de andar sobre o fogo sem ferimentos.

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Por que a maioria dessas pessoas atravessou as brasas com segurança, enquanto (relativamente) poucas se queimaram? Talvez quem acredite na filosofia de Robbins diga que essas pessoas simplesmente não acreditam em si mesmas o bastante para libertar plenamente seu poder interno, mas isso na verdade tem tudo a ver com a física.

A caminhada sobre o fogo é uma cerimônia religiosa praticada em muitas partes do mundo moderno, por devotos, padres ou oráculos. Segundo a Merriam-Webster’s Encyclopedia of World Religions, a ideia é “garantir uma boa colheita, ou purificar os participantes; um homem acusado de um crime ou de mentir pode passar pelo teste de fogo para provar sua inocência”. A prática vem desde os tempos da Grécia clássica e da antiga Índia e China.

A ciência por trás da façanha

É bastante possível caminhar sobre o fogo com segurança. David Willey, professor de física na Universidade de Pittsburgh, faz isso o tempo todo, graças à sua compreensão da ciência subjacente.

Existem três fatores principais em jogo: a baixa condutividade térmica da madeira que vira carvão; uma camada isolante de cinzas; e o pouco tempo de contato entre as brasas e as solas dos pés.

A condutividade térmica é a capacidade de transferir energia na forma de calor após o contato com outro objeto. O carvão e as lascas de madeira são feitos quase inteiramente de carbono, substância muito fraca em condução de calor. As cinzas também conduzem pouca energia térmica, e estão mais frias.

Assim, o carvão deve queimar a cerca de 500°C, de preferência com uma fina camada de cinzas proporcionando isolamento extra. Isto também faz evaporar o excesso de água; ela pode ser um problema, pois aumenta a capacidade térmica e a condutividade do carvão.

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Visão em infravermelho mostra que o pé de uma pessoa caminhando sobre o fogo permanece frio quando toca nas brasas corretamente. (Imagem: D. Willey/K. Kjernsmo)

Não é uma boa ideia correr nas brasas, porque isso empurra seus pés mais fundo, aumentando o risco de queimaduras. Assim, é melhor andar.

Alguns dizem que molhar os pés de antemão pode proteger os pés através do efeito de Leidenfrost – no qual a água evapora rápido e cria uma camada isolante de vapor – mas Willey descobriu que os efeitos disso são insignificantes; ele prefere andar sobre o fogo com os pés secos.

Kjetil Kjernsmo, da Universidade de Oslo, e Willey desenvolveram em 1998 um modelo computacional de um pé que corre sobre o fogo, e o compararam com imagens em infravermelho de pessoas caminhando sobre fogo em Seattle. Essas imagens mostraram que o pé realmente permanece frio quando tudo é feito corretamente.

O que deu errado?

Então o que deu errado no seminário? Bem, para andar sobre fogo, não há muita margem para erro. Quem se queimou provavelmente ficou tempo demais sobre as brasas – por exemplo, para tirar uma selfie de seu momento de iluminação.

Isso parece ser confirmado por declarações de testemunhas. “Havia alguém na frente de nós e alguém atrás usando o celular, tirando selfies e fotos”, disse Jacqueline Luxemberg, participante que fez a caminhada sobre o fogo e saiu ilesa, à WFAA. Essa pessoa até pediu para outras pessoas “gravarem vídeo para ela”!

Portanto, se você decidir um dia caminhar sobre brasas, lembre-se: ande (não corra); certifique-se de que as brasas queimaram o suficiente; e tente deixar as selfies para depois. Ah, se possível, tenha por perto um analgésico e um pouco de gelo.

Imagem: Anthony Rizk/YouTube

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