Florescimento de algas tóxicas tem se tornado mais intenso, confirma estudo

A proliferação de algas potencialmente tóxicas nos lagos de água doce ao redor do mundo tornou-se mais intensa nos últimos 30 anos.
Florescimento de algas no Lago Erie ao largo da costa de Ohio, em 2014.
Florescimento de algas no Lago Erie ao largo da costa de Ohio, em 2014. Foto: AP

Um novo estudo publicado nesta segunda-feira (14) parece confirmar uma realidade desagradável: a proliferação de algas potencialmente tóxicas nos lagos de água doce ao redor do mundo tornou-se mais intensa nos últimos 30 anos. E embora a mudança climática possa não ser a única razão pela qual o florescimento se agravou, é provável que o aumento das temperaturas dificulte a recuperação dos lagos.

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Para o estudo, pesquisadores da Universidade de Stanford e da NASA utilizaram dados do satélite Landsat 5, que orbitou e tirou fotos da superfície da Terra por quase 30 anos até ser desativado em 2013. Em seguida, eles usaram um algoritmo emprestado do Google Earth Engine para identificar a proliferação de algas nos maiores lagos do mundo.

“Dados melhores estão disponíveis para os últimos anos, obtidos via instrumentos como MERIS e MODIS”, disse a autora do estudo Anna Michalak, pesquisadora sênior da Carnegie Institution for Science, de Stanford, ao Gizmodo. “O objetivo aqui, no entanto, era obter o registro mais longo usando uma abordagem única, tanto em relação ao período quanto na quantidade de lagos analisados em todo o mundo”.

No geral, eles estudaram as tendências de algas em 71 grandes lagos localizados em 33 países de seis continentes. Eles descobriram que em 68% dos lagos, o pico da intensidade de florescimento piorou no verão, enquanto a intensidade dessa proliferação só diminuiu em 8% dos lagos durante o mesmo período.

O mesmo padrão acontecia em um tipo particularmente perigoso de algas feitas de bactérias chamadas algas verde-azuladas, que podem ser tóxicas para a vida selvagem, animais de estimação e até mesmo para pessoas.

As descobertas, publicadas na Nature, fornecem mais evidências de que o florescimento tóxico realmente está se se espalhando em todo o mundo e “contrariam a hipótese de que o aumento das notificações de florescimento tóxicas é um subproduto do aumento da atenção científica”, conforme apontaram os autores.

Embora pareça haver uma ligação entre as alterações climáticas e esses florescimentos, a relação é complicada. Michalak e os coautores não identificaram uma associação consistente entre o aquecimento da temperatura e a possibilidade de proliferações mais intensas nos lagos ao redor do mundo.

O que isso provavelmente significa, segundo Michalak, é que o florescimento de algas pode ser afetado por diversos fatores, dependendo do ambiente de cada lago. E embora esses fatores possam incluir a temperatura, também podem incluir a precipitação ou o uso de fertilizantes nas proximidades.

“No entanto, uma constatação consistente é que apenas os lagos que aqueceram menos (ou realmente arrefeceram) foram capazes de sustentar ganhos na qualidade da água”, acrescentou ela.

Em outras palavras, mesmo que a mudança climática não esteja tornando o florescimento de algas em um determinado lago mais frequente, o aquecimento ainda fará com que tentar controlá-las seja um desafio para cientistas e governos de todo o mundo.

Os autores já observaram que a proliferação de algas nos Estados Unidos custa ao país US$ 4 bilhões por ano, graças aos danos que podem causar à água potável, à agricultura e ao turismo. Também podem ser fatais, como vimos este ano com a onda de mortes de animais de estimação nos EUA, durante o verão do hemisfério norte, todas ligadas a algas verde-azuladas.

Uma das principais conclusões do estudo, disse Michalak, “é que o combate às alterações climáticas também nos beneficiará de muitas outras formas, como a preservação da qualidade da água”.

“Uma segunda conclusão”, acrescentou, “é que as estratégias de gestão da água precisam levar em conta o fato de que as temperaturas e a precipitação estão mudando. Fazer isso aumentará a chance de sucesso dessas estratégias”.

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