Cientistas encontram fóssil de organismo nunca visto antes datado de bilhões de anos

O fóssil parece ser um membro do holozoa, o grupo de organismos que contém animais e seus parentes unicelulares, mas não fungos.
Parece uma couve de Bruxelas estragada, mas é um fóssil de um bilhão de anos. Esta imagem aprimorada do microscópio mostra uma parede externa de células em forma de salsicha envolvendo uma massa celular interna. Crédito: Cortesia de PK Strother, Boston College

Nas margens de um lago escocês encontram-se depósitos geológicos que datam de um bilhão de anos, e dentro das rochas há evidências do mais antigo organismo multicelular não marinho conhecido, de acordo com um estudo publicado na Current Biology. É um novo detalhe fascinante na história de como os animais podem ter evoluído a partir da sopa da Terra primitiva.

Uma equipe de microscopistas, geólogos, palinologistas e paleobiologistas escavou e descreveu o microorganismo fóssil, que eles chamaram de Bicellum brasieri. Parece ser um membro do holozoa, o grupo de organismos que contém animais e seus parentes unicelulares, mas não fungos. O depósito rochoso do qual o fóssil emergiu, nas praias de Loch Torridon, na Escócia, foi estudado durante anos; em 2011, um artigo da Nature da mesma equipe descreveu o grupo com mais detalhes. O novo artigo mergulha na complexidade singular de B. brasieri.

Os microorganismos fósseis foram escavados nas margens do Loch Torridon, na Escócia. Imagem: Wikimedia Commons (uso justo)

“Encontramos um organismo esférico primitivo composto de um arranjo de dois tipos de células distintas, o primeiro passo em direção a uma estrutura multicelular complexa”, disse Charles Wellman, paleobiólogo da Universidade de Sheffield, em um comunicado à imprensa da universidade, acrescentando que é “algo que nunca foi descrito antes no registro fóssil.”

O fóssil é constituído por um estereoblasto de células compactadas circundadas por uma camada de células em forma de salsicha. É difícil determinar exatamente quais eram as funções dos dois diferentes tipos de células, embora seja possível que elas tenham algumas implicações reprodutivas.

Para que a vida faça a mudança monumental de organismos unicelulares simples para organismos multicelulares complexos, “os organismos tiveram que desenvolver um genoma que controlasse a natureza da divisão celular e como as células se unem e como se diferenciam e segregam os tecidos”, disse Paul Strother, paleobiólogo do Boston College e principal autor do novo estudo, em um telefonema. “O que é empolgante sobre este fóssil é que, embora seja uma morfologia extremamente simples, ele claramente tinha as capacidades de algumas dessas características fundamentais necessárias para se tornar multicelular.”

A diferença nos tipos de células é visível ao microscópio. Imagem: Cortesia de PK Strother, Boston College

Por ser tão simples, mas multicelular, essa bolha de um bilhão de anos parece mais relacionada aos grupos holozoários de Ichthyosporea e Pluriformea, alguns microrganismos unicelulares, de acordo com os pesquisadores. É importante ressaltar que o depósito rochoso do qual o B. basieri emergiu era um ambiente de água doce, ao contrário dos ambientes marinhos tipicamente associados ao surgimento de vida complexa. Descobertas anteriores confirmaram a existência de uma vida multicelular antiga nos oceanos, algumas datando de mais de dois bilhões de anos; agora parece possível que mais de um caminho evolutivo levou às primeiras formas de vida multicelulares.

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Os depósitos torridonianos ao largo do lago podem conter vidas microscópicas mais antigas para serem analisadas. Aparentemente, haviam vários caldeirões de vida borbulhando há muito tempo, preparando uma gama diversificada de formas de vida primitivas para evoluir para os animais que conhecemos hoje.

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