Funcionários do Google suspeitam que software interno foi projetado para evitar dissidência
Funcionários do Google estão desconfiados de que a empresa possa estar construindo “uma ferramenta de vigilância interna” com o objetivo de reprimir a dissidência dos empregados, como aponta uma reportagem da Bloomberg publicada nesta quarta-feira (23).
A Bloomberg cita um memorando interno de um funcionário do Google que aponta que uma extensão de navegador, executada em uma versão interna do Google Chrome e que registra a atividade na empresa, teria como objetivo sinalizar automaticamente qualquer funcionário que criasse um evento no calendário “com mais de 10 salas ou 100 participantes”.
O memorando argumenta que essa funcionalidade é uma “tentativa da liderança de saber imediatamente sobre quaisquer tentativas de organização dos trabalhadores”; três funcionários do Google também conversaram anonimamente com a Bloomberg sobre o assunto. Engenheiros que trabalharam nessa extensão também disseram que o propósito é a “aplicação de políticas”, enquanto outros funcionários foram impedidos de ver os documentos do projeto pertencentes ao software.
O Google, por sua vez, disse que trata-se de prevenção básica de spam, dizendo à Bloomberg em um comunicado que “essas alegações sobre a operação e o propósito dessa extensão são categoricamente falsas. Esse é um lembrete em formato de pop-up que solicita que as pessoas fiquem atentas antes de adicionarem automaticamente uma reunião aos calendários de um grande número de funcionários”.
Recentemente, os funcionários do Google levantaram preocupações em torno de um contrato da companhia batizado de Project Maven, que previa o desenvolvimento de um drone com inteligência artificial para o Pentágono, que posteriormente foi descontinuado, e se colocaram contra os planos da empresa de criar um mecanismo de busca na China com censura.
Eles também protestaram contra a forma como a empresa lida com os executivos acusados de assédio e agressão sexual com uma manifestação em escritórios de várias partes do mundo no ano passado. Os organizadores envolvidos nesse protesto alegaram que foram retaliados, algo que o Google nega.
Terceirizados do Google em Pittsburgh, na Pensilvânia, se sindicalizaram, enquanto funcionários na Suíça teriam sugerido à administração para discutir algo similar.
Essa tensão interna ao longo dos últimos meses coincide com uma série de funcionários conservadores do Google que afirmaram que os liberais da empresa empresa discriminaram os seus pontos de vista. Entre eles estão os ex-engenheiros James Damore e Kevin Cernekee, que tentaram se tornar celebridades no circuito de mídia de direita. As afirmações alimentaram as teses infundadas de políticos republicanos de que o Google suprime sistematicamente o discurso conservador.
A soma desses fatores parecem ter se transformado em uma grande dor de cabeça para o Google, conhecido por sua “cultura de comunicação aberta“. Em agosto, a empresa emitiu novas diretrizes de comunidade para os funcionários cujo o objetivo parecia ser a contenção de discussão política no trabalho e os questionamentos às decisões da administração do Google.
Essas diretrizes incluíam trechos como “evite conversas que sejam perturbadoras para o local de trabalho ou que violem as políticas do local de trabalho do Google” e “tenha cuidado para não fazer declarações falsas ou enganosas sobre os produtos ou negócios do Google que possam minar a confiança nos nossos produtos e no trabalho que fazemos”.
O Google também afirmou que contrataria novos moderadores e criaria uma ferramenta para assinalar mensagens internas problemáticas, embora não esteja claro se essa é a extensão do Chrome que está começando a surgir nos computadores dos funcionários.
De acordo com a Bloomberg, o memorando sobre a suposta ferramenta de monitoramento interno sugeriu que ela, de fato, tem como objetivo ajudar o Google a aplicar essas diretrizes. O site relatou que a ferramenta está programada para ser lançada até o final de outubro, embora dois funcionários tenham dito que ela já está instalada em seus computadores de trabalho. Outra fonte disse à Bloomberg que a ferramenta é o tópico mais requisitado nas reuniões semanais que reúnem todos os funcionários da empresa.