Os oceanos são lar de uma grande biodiversidade, que embora muito estudada, ainda segue sendo um grande mistério para a ciência. Agora, isso pode mudar, com a publicação do maior estudo já feito sobre a biodiversidade marinha na revista Frontiers in Science.
O catálogo conta com informações de mais de 317 milhões de grupos de genes de organismos marinhos, fornecendo dados como função biológica, localização e tipo de habitat. Dessa forma, revelou que há abundância de fungos em uma parte do oceano chamada de zona crepuscular.
Por isso, pesquisadores têm esperança de que o estudo desses organismos possa desbloquear a porta para novos medicamentos que podem ter o mesmo poder da penicilina — antibiótico que veio originalmente do fungo Penicillium.
Zona crepuscular do oceano
Entre 200 e mil metros de profundidade no oceano, a falta de luz solar, as temperaturas frias e a alta pressão criam um ambiente extremo. Por isso, a região é lar de uma variedade de seres vivos adaptados, como tubarões lanterna e kitefin, que têm olhos enormes e pele bioluminescente que brilha.
Agora, pesquisadores descobriram que a zona crepuscular também abriga uma grande quantidade de fungos. E, por suas características específicas, esses organismos podem apresentar adaptações únicas.
“Isso poderia levar potencialmente à descoberta de novas espécies com propriedades bioquímicas únicas”, explicam os autores da pesquisa.
Outras descobertas
Além disso, o catálogo da biodiversidade genética dos oceanos ofereceu outras informações aos cientistas. Uma delas é o papel dos vírus em impulsionar a diversidade genética.
Os vírus se inserem e movem genes de um organismo para outro. Isso significa que os vírus criam biodiversidade genômica e aceleram sua evolução”, explica Carlos Duarte, autor do estudo.
Por exemplo, alguns genes evoluíram para permitir que organismos mastiguem plástico, que são recentes poluentes dos oceanos. Isso indica que a evolução ocorreu há pouco tempo.
Em complemento, o catálogo também evidenciou que a ciência precisa se aprofundar na pesquisa sobre o leito oceânico.
Avanço na ciência
Chamado KMAP Ocean Gene Catalog 1.0, o documento é o primeiro passo para um atlas do genoma global dos oceanos. A ideia é documentar todos os genes de todas as espécies marinhas no mundo.
Dessa forma, o catálogo servirá como base para compreender como vivem os micróbios, como eles moldam ecossistemas dentro e fora dos oceanos, como influenciam o clima e quais os impactos das mudanças climáticas e poluição na biodiversidade marinha.
Contudo, os cientistas afirmam que há um obstáculo neste processo: o estatuto da legislação internacional sobre a partilha de benefícios provenientes de descobertas feitas em águas internacionais. “Embora o Tratado do Alto Mar de 2023 ofereça algumas soluções, pode inadvertidamente impedir a investigação, reduzindo os incentivos para as empresas e os governos investirem”, explica Duarte.