Como a genética da cor de pele altera antiquadas noções de raça

Na maior parte dos registros históricos, a cor da pele é carregada de poderosos significados sociais. Ela tem um importante papel na definição de raça e do racismo. Novos estudos da genética da cor de pele, no entanto, apenas começaram a nos mostrar quão erradas eram as suposições sobre a real relação entre raça e […]

Na maior parte dos registros históricos, a cor da pele é carregada de poderosos significados sociais. Ela tem um importante papel na definição de raça e do racismo.

whatsapp invite banner

Novos estudos da genética da cor de pele, no entanto, apenas começaram a nos mostrar quão erradas eram as suposições sobre a real relação entre raça e cor da pele. A genética de pigmentação da pele parece ser muito mais complexa do que anteriormente se acreditava.

A cor da pele é uma condição hereditária, ou seja, este traço é transmitido a você pelos seus pais. Mas ela não é determinada por um único gene, e a interação destes genes que define com o que você se parece não é nada direta. Em um novo estudo sobre um povo indígena da África do Sul publicado nesta quinta (3) no periódico Cell, pesquisadores do Broad Institute do MIT e Harvard, Universidade de Standford e Universidade de Stony Brook reportam que um número de genes envolvidos na pigmentação da pele aumenta quantitativamente – e, portanto em complexidade – quanto mais próximos eles residirem do equador.

“É normalmente ignorada a variedade de pigmentação de pele existente na África”, disse Brenna Henn, uma autora do estudo e pesquisadora na Universidade Stony Brook, ao Gizmodo. “Entre pessoas em Gana e na África do Sul existe uma grande diferença de pigmentação de pele. Mesmo com a população da África do Sul vemos muita variação. Algumas pessoas têm tons de pele mais claros, enquanto outras tons de pele mais escuros”.

Os pesquisadores passaram sete anos com a população Khoisan, entrevistando-os, gravando detalhes sobre sua altura, idade, gênero, e usando o que é chamado de reflectómetro para quantitativamente medir o tom de pele. Ao todo, eles coletaram dados de aproximadamente 400 pessoas. Eles então genotiparam cada amostra, procurando por centenas de milhares de pontos do genoma para identificar marcadores associados com a pigmentação, e então sequenciaram as regiões determinadas. Genética, geralmente, é uma ciência de comparação, então o próximo passo dos cientistas foi comparar estes novos resultados com uma base de dados composta de cinco mil pessoas de todo o globo.

O que eles descobriram anula a noção de como genética e tons de pele funcionam. A teoria predominante reflete o que você provavelmente já imagina quando pensa sobre as diferenças de tons de pele no planeta: As pessoas próximas do equador são mais escuras, e quanto mais longe estiverem deste ponto, mais clara é a pigmentação da pele. Os novos dados, no entanto, sugerem uma ideia muito mais complexa. No norte, os cientistas descobriram, é geralmente correto afirmar que quanto mais ao norte a latitude, mais clara será a complexidade do tom de pele. Mas quando próximo ao equador, tudo começam a se misturar. Algo chamado “seleção estabilizante” entra em ação, e um maior número de genes começa a afetar o tom de pele, resultando em uma maior chance de variabilidade. Os pesquisadores puderam apenas atribuir cerca de 10% dessa variação a genes já conhecidos por impactarem a cor da pele.

O trabalho também trouxe novas percepções sobre alguns genes em particular. Uma mutação em um gene, incisivamente chamado de SLC24A5, pode ter surgido na Europa entre 10 mil a 20 mil anos atrás. Mas na população Khoisan, ele aparece de maneira muito mais frequente do que o esperado, sugerindo que ele primeiramente surgiu nesta população e passou a fazer parte dela há milhares de anos graças a reprodução, ou talvez tenha se tornado mais frequente com o tempo porque pode ter produzido alguma vantagem genética em particular a população Khoisan.

Outro estudo publicado este ano avaliou a evolução de variantes genéticos associados a cor da pele, e semelhantemente concluiu que hipóteses anteriores sobre genética e tons de pele eram incorretas. No estudo, os pesquisadores analisaram oito variações genéticas em quatro regiões do genoma humano que são conhecidas por influenciarem a pigmentação da pele. Eles descobriram que estes genes são encontrados em todo o mundo. Um gene, por exemplo, possui um importante papel no clareamento de pele dos europeus e caçadores da Botsuana. Este gene, eles descobriram, antecedia o Homo sapiens, evoluindo em uma diferente espécie humana na África há cerca de 300 mil anos.

A conclusão de tudo isso é que as cores são, em essência, insignificantes. Nossa cor de pele é o resultado de muitos, muitos genes diferentes trabalhando em conjunto e em diferentes combinações para produzir diferentes tons de pele. Muitos destes genes são compartilhados por barreiras raciais, culturais e geográficas.

Estes novos estudos sobre a cor da pele também sugerem um segundo tópico: em genética, a maior parte destes dados coletados sobre a cor da pele é de populações ao norte da Eurásia, e isso criou um retrato parcial e incompleto de como a genética de fatores como a cor da pele de fato funcionam.

“Há tão pouca pesquisa feita fora de populações europeias”, diz Brenn. “Queríamos ver se nossos modelos se aplicariam a outras populações. Mas pelo que parece ele não é aplicável”.

Imagem de topo: Uma família sul-africana que exemplifica a variação de pigmentos de pele na população Khoisan e Nama na África / Brenna Henn

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas