A Geração Z já está com medo de perder o emprego por causa da automação
Um homem de meia-idade, segurando uma ferramenta na oficina, parecendo desesperado e melancólico. Esta deve ser a fotografia de bancos de imagem mais utilizada em matérias sobre automação. Ela que ilustra notícias sobre previsões sombrias de perda de emprego e artigos que analisam se os robôs estão “vindo roubar nossos empregos” — e o robô é sempre um androide ameaçador.
Só que não é bem assim: quase todo mundo tem medo de que a automação acabe com seus empregos, mesmo os mais jovens e mais esperançosos. Estudos mostram que a automação afetou alguns dos membros mais jovens da força de trabalho, e uma nova pesquisa de mercado revela que a chamada Geração Z, composta pelos nascidos entre meados da década de 1990 e início dos anos 2000, já está bastante preocupada com o fenômeno.
Uma pesquisa com 500 indivíduos de 18 a 23 anos de idade, conduzida pela Lucid Research, descobriu que a maioria (57%) está preocupada o impacto negativo que a automação terá sobre seus empregos, e cerca de um quarto (23%) deles disse que estava seriamente preocupado com o futuro.
Como sempre, é bom ficar com um pé atrás com pesquisas. A empresa que encomendou o estudo é a Nintex, uma “fornecedora de soluções de automação de fluxo de trabalho”, e uma de suas sugestões em resposta aos dados é que seus possíveis clientes precisam “construir uma narrativa de empoderamento em torno de IA e automação”.
Muitas pessoas tendem a presumir — e certamente os vendedores de ferramentas de automação empresarial estão incluídos nisso — que os jovens estão mais abertos à automação no local de trabalho, já que são nativos digitais e desbravadores.
Mas mais pesquisas reforçam a ideia de que os membros da Geração Z estão preocupados com os impactos da automação na segurança de seus empregos.
Uma pesquisa recente da Indeed com 2.000 trabalhadores também descobriu que os jovens adultos estavam preocupados com a automação, embora não tanto quanto aqueles com 25 anos ou mais. A Pew Research anteriormente descobriu que, após a automação atingir trabalhadores mais jovens, eles se tornaram (de maneira bastante compreensível) pessimistas em relação à tecnologia em geral.
Outras entrevistas também mostram que a Geração Z também tem maior probabilidade de ser cética em relação ao capitalismo — que diz que automação técnica deve ser adotada para maximizar a eficiência e minimizar os custos de mão de obra — e talvez também seja capaz de diagnosticar um fato simples: se uma empresa puder automatizar seu trabalho e economizar dinheiro no processo, ela provavelmente vai fazer isso.
O medo da automação é, agora, um fato da vida que transcende a demografia. Como mostram as pesquisas, essas preocupações variam pouco de acordo com o nível de educação e a idade, e existe um nível significativo de ansiedade entre todos.
A Nintex, empresa de automação, resume da seguinte forma: “A Geração Z — e todos os outros, nesse sentido — veem o potencial da inteligência artificial e da automação, mas precisam saber que isso não eliminará seus empregos”.
Infelizmente, a razão implícita de a maioria das empresas estar adotando a automação é, em primeiro lugar, fazer exatamente isso, pelo menos até certo ponto. A Geração Z — e todo mundo, nesse caso — sabe disso.
Eles sabem disso pela mesma razão que sabem que estão em condições econômicas desiguais, para dizer o mínimo. A pesquisa coletou outros medos econômicos de membros da Geração Z, como:
- “Não poderei conseguir um emprego que me permita me sustentar financeiramente.”
- “Meu setor econômico entrará em colapso assim que eu começar a trabalhar.”
- “Receio não conseguir ganhar a vida com o campo em que estou entrando.”
- “Estou preocupado em não poder pagar meus empréstimos.”
- “Estou com medo de uma economia em mudança.”
- “Estou preocupado com a possibilidade de não ser capaz de sustentar suficientemente minha família.”
Talvez se a Geração Z pudesse ter mais motivos para aceitar um “narrativa de empoderamento” sobre a inteligência artificial e automação se ela não analisasse as tendências geracionais e não visse previsões que apontam que ela será a segunda geração a ser mais pobre que a anterior.
Isso se deve à crescente desigualdade, à degradação da qualidade do emprego em alguns setores e à “uberização” do trabalho. E grande parte disso se deve justamente a tecnologias automatizadas e semiautomatizadas, que estão enviando uma parcela crescente dos lucros para os cargos superiores, onde eles são desfrutados pela alta administração e não pela classe média.
Enquanto isso, meu estômago continua indicando que a ansiedade só vai aumentar daqui em diante.