[Giz Responde] O bitrate das minhas músicas faz mesmo muita diferença?
Querido Lifehacker/Gizmodo,
Eu tenho lido um monte de coisas sobre músicas “lossless” e “lossy” ultimamente, mas ainda estou com muitas dúvidas. O bitrate importa tanto assim mesmo? Faz muita diferença prestar atenção nesssas coisas do lado do Mp3, tipo 256 kbps, VBR ou FLAC? É fácil para a maioria das pessoas perceberem a diferença entre arquivos de música com bitrate alto e baixo?
Obrigado,
Audiófilo Encafifado
Olá Audiófilo,
Eu entendo a sua frustração. Você pode até ter alguma ideia do que seja o bitrate, mas a discussão sobre isso ser apenas uma preocupação para audiófilos existe há algum tempo, e é difícil ouvir uma explicação de alguém que não está influenciada pelo seu próprio ego e preferência pessoal. Vou tentar dar uma explicação imparcial sobre como isso tudo afeta a sua experiência prática de audição musical.
O que é bitrate?
Você provavelmente já ouviu o termo bitrate, e provavelmente tem uma ideia geral do que ele significa, mas provavelmente é uma boa ideia relembrar ou explicar de novo para quem não sabe a sua definição oficial. O bitrate é a quantidade de bits – a quantidade de dados – que é processada em um espaço de tempo. Em áudio, isso geralmente significa kilobits por segundo. Por exemplo, uma música comprada na iTunes Store é 256 kilobits por segundo, o que significa que há 256 kilobits de dados armazenados para cada segundo da música.
Quanto maior o bitrate de uma música, mais espaço ela ocupa no computador. Geralmente, um CD de áudio ocupa um espaço considerável, por isso se tornou comum comprimir estes arquivos de modo que eles não ocupem tanto espaço no seu disco rígido (ou iPod, Dropbox, o que seja). É aqui que começa a discussão do “lossless” e “lossy”.
Formatos Lossless e Lossy
A palavra “lossless” significa literalmente “sem perdas”. Significa que o arquivo original da música não foi alterado. Ou seja, a música foi ripada do CD para algum disco rígido e não foi comprimida. Nenhum dado de som foi perdido. Para todos os propósitos, é o arquivo do jeito como ele foi criado.
Mas com maior frequência, o modo como você encontra as músicas ou as ripa de um CD será considerado “lossy” (tradução: “com perda”). Ou seja, as músicas foram comprimidas para que os seus arquivos não ocupassem tanto espaço. Um álbum típico em MP3 ou AAC ocupa cerca de 100MB, enquanto o mesmo álbum em um formato lossless como FLAC ou ALAC (também conhecido como Apple Lossless) ocuparia mais próximo de 300MB. Para cortar o tempo de download e o espaço ocupado por esses arquivos, se tornou prática mais do que comum usar formatos com perdas.
O problema é que quando você comprime um arquivo para economizar espaço, você está deletando parte dos dados. É igual quando você tira um print screen da sua tela em formato PNG e depois converte para JPEG – o seu computador pega o original e “suaviza” partes da imagem, deixando ela quase igual, mas com alguma perda de nitidez e qualidade. Ao lado, temos um exemplo. A imagem da direita foi claramente comprimida, e a sua qualidade foi reduzida no processo. (Para enxergar, você provavelmente vai precisar clicar nela e ver em tamanho maior.)
Lembre-se, claro, que com arquivos lossy você está tirando proveito do menor espaço ocupado em disco (que pode fazer uma enorme diferença em um iPhone ou MP3 Player de 32GB, por exemplo). É apenas uma troca. Qualidade por quantidade.
A discussão que geralmente se faz, porém, é mais sutil: será mesmo que as pessoas conseguem ouvir a diferença em uma música com bitrate mais alto?
O quanto isso realmente importa?
Como o espaço de armazenamento está se tornando uma coisa cada vez mais barata, a opção por arquivos lossless está começando a se popularizar e se tornar praticável. Mas será que vale o esforço, tempo e espaço ocupado? Eu sempre odeio dar esta resposta para qualquer pergunta, mas… depende.
Parte da equação é o equipamento que você usa. Se você tem um sistema de som caseiro ou um par de headphones de boa qualidade, terá à sua disposição um alcance sonoro maior. Por isso, você terá mais chance de reparar em pequenas imperfeições que vêm com a compressão de um arquivo musical. Você pode notar que um certo nível de detalhes está faltando, que faixas sutis no fundo da música podem ser meio difíceis de ouvir, que os altos e baixos não são tão dinâmicos, ou você simplesmente pode ouvir distorções claras onde elas não deveriam estar. Neste caso, você provavelmente deveria optar por arquivos lossless, ao menos das suas músicas favoritas. Mas lembre-se que quando falamos de fones bons, falamos de fones bem bons – algo que dificilmente custa menos de R$ 400 no Brasil.
Se, por outro lado, você estiver ouvindo música em caixinhas de som ou fones de ouvido normais e baratos, você não vai mesmo perceber a diferença entre um arquivo de 256 kbps e um de 320 kbps, muito menos entre um de 320 kbps e um de 1200 kbps. Lembra de quando eu mostrei a imagem acima, dizendo que você só enxergaria as imperfeições da imagem à direita se clicasse para ver em tamanho maior? Os seus fones de ouvido comuns são como a versão menor da imagem: eles têm um alcance sonoro menor, e isso faz com que seja naturalmente mais difícil perceber as imperfeições. Em bom PT-BR, se você estiver gastando menos de R$ 1.000 em caixinhas ou menos de R$ 500 nos fones de ouvido, você dificilmente ouvirá as reais “vantagens” dos tais arquivos FLAC.
A outra parte da equação, naturalmente, são seus próprios ouvidos. Algumas pessoas podem simplesmente não se importar, ou ter um ouvido musicalmente desenvolvido o suficiente para perceber claramente as diferenças entre duas versões de qualidades diferentes de uma mesma música. Isso é algo que pode ser desenvolvido com o tempo, claro, mas se você não desenvolveu ainda, não é particularmente importante para você ouvir versões com bitrate muito alto, certo? Como com todas as coisas, use o que funcionar melhor individualmente para você.
Outras coisas a considerar
É válido mencionar que estes tipos de arquivos têm outros pontos negativos. Por exemplo, muitos dispositivos portáteis, e mesmo alguns players desktop, não são compatíveis com áudio lossless, ou ao menos alguns dos seus formatos. O iTunes mesmo, por exemplo, não toca músicas em FLAC, apesar de conseguir tocar arquivos ALAC (e os transcodificar no ato para versões com perda para quando você sincronizar com o seu iPod).
Da mesma forma, a maior parte das lojas de música, como a iTunes e a Amazon, não vende músicas por download em formato lossless. Elas vêm em arquivos MP3 ou AAC. Por isso, se você tem um equipamento de som épico, dê preferência pela compra de CDs físicos.
Também digno de nota é que os arquivos lossless são mais à prova de futuro, no sentido de que você sempre pode transformá-los em arquivos com perda através de um simples processo de compressão, mas o contrário não é possível. Este é um dos problemas fundamentais com as lojas de música online: se você construiu uma enorme coleção de músicas compradas no iTunes e um dia decidir que você as quer em uma qualidade maior, terá que comprá-las de novo, desta vez em formato de CD (ou de novo online, se as lojas já tiverem decidido vender músicas lossless por download). O que você não vai conseguir e colocar os dados de volta onde eles estavam antes da compressão.
Tudo isso que explicamos é apenas a ponta do iceberg desta discussão. Há muitos outros conceitos avançados, como bitrate variável e eficiência de codificação, mas este texto serve como boa introdução aos não iniciados. Como eu disse antes, tudo depende de você, da sua audição, do seu equipamento, do que você acha. Então experimente. Compare músicas em formatos diferentes por um tempo. Na pior das hipóteses, você gastou 10 minutos e alguns MB de espaço extra para ouvir algumas músicas em lossless por um tempo – não cai pedaço. Aproveite!
Com carinho,
Lifehacker/Gizmodo
P.S.: Muitos de vocês com certeza terão seus pitacos a dar sobre o assunto, seja defendendo o lossless ou levantando a bandeira do “dando pra ouvir, está legal”. Comente à vontade!