Google diz que eliminou legado de carbono. O que isso significa?

No início da semana, o Google anunciou que tem pegada neutra de carbono; próxima meta da empresa é ter fontes de energia verde até 2030.
Escritório do Google em Nova York. Crédito: Arturo Holmes/Getty Images
Escritório do Google em Nova York. Crédito: Arturo Holmes/Getty Images

Gigantes da tecnologia estão falando novamente sobre iniciativas climáticas. No início da semana, executivos do Google afirmaram que a empresa agora é “neutra em carbono”.

“A pegada de carbono líquida vitalícia do Google agora é zero”, disse Sundar Pichai, CEO do Google e da sua empresa controladora, a Alphabet, em um blog post. “Estamos satisfeitos por sermos a primeira grande empresa a fazer isso.” De forma resumida, a empresa está dizendo que “a pegada de carbono do Google, desde o momento em que a empresa foi fundada, foi zerada”.

Pichai disse que a empresa está indo em direção a um novo objetivo: administrar toda a sua operação com fontes de energia livres de carbono, incluindo escritórios, campi e datacenter. Tudo isso parece ótimo! Faz sentido, porém é necessário entender exatamente o que a empresa anunciou.

O Google não voltou ao tempo e parou de produzir milhões de toneladas de poluição causada por gases de efeito estufa. Em vez disso, compensou essas emissões, o que significa que pagou por projetos verdes em outros lugares para compensar seu impacto ambiental. A empresa disse à BBC que suas compensações têm se concentrado principalmente na capturas de gás metano, que é liberado em fazendas de suínos e aterros sanitários.

Ter menos metano na atmosfera é bom, mas devemos atingir este objetivo tentando ter uma pecuária mais sustentável e reduzindo as emissões de metano na fonte. Serviços como os programas de compensação do Google correm risco de levar empresas poluentes a acreditar que podem simplesmente continuar administrando seus negócios normalmente, contanto que eliminem o excesso de emissões. Mas mesmo com menos poluição, esses modelos ainda são fundamentalmente insustentáveis.

Para ser justa, o Google está tentando se afastar das compensações com sua próxima grande meta, que envolve ter fornecimento de energia mais limpa.

No momento, a empresa diz que está neutralizando a pegada de carbono de seu uso total de energia, comprando energia renovável e neutralizando seu próprio uso de energia fóssil em locais onde não há disponibilidade de fontes verdes. Até 2030, o objetivo é mudar isso operando 100% com fontes de energia livres de carbono.

Essa é definitivamente uma meta ambiciosa para uma gigante da tecnologia. Mas ainda não deve ser capaz de governar seu próprio caminho para alcançar tal fim, pois aí ela depende de terceiros.

É absolutamente necessário parar de usar combustíveis fósseis, mas nem todas as energias renováveis são criadas da mesma forma. O processo de construir usinas de energia solar e eólica e baterias poderia prejudicar a biodiversidade da Terra e depende de práticas trabalhistas abusivas se não prestarmos muita atenção à cadeia de suprimentos.

Quem vai garantir que o Google estará atento? Não é como se pudéssemos votar para definir como o Google vai se livrar das pegadas de carbono — quem é responsável por isso são os acionistas da empresa, não os usuários. Isso significa que é provável que a empresa priorize lucros neste processo acima de tudo.

À medida que o Google limpa seu próprio fornecimento de energia, a empresa também diz que ajudará cidades e empresas a fazer o mesmo vendendo seus serviços. Isso significa que o Google pode lucrar com a transição para a energia limpa. E, francamente, algumas das coisas que a empresa venderá parecem totalmente assustadoras.

Por exemplo, a empresa planeja aplicar ferramentas baseadas em aprendizado de máquina, incluindo o Google Cloud e uma tecnologia de inteligência artificial chamada DeepMind, para aeroportos, shoppings, hospitais, datacenters, edifícios comerciais e instalações industriais. A empresa afirma que isso reduzirá a necessidade de uso de ar-condicionado nesses prédios.

Existem muitas maneiras limpas usando tecnologias simples, sem a necessidade de fazer isso com inteligência artificial, mas você pode apostar que o Google não está interessado em muitas delas porque são baratas e apresentam poucas oportunidades de aumentar continuamente na distribuição de seus serviços, incluindo a mineração de dados pessoais dos usuários para venda de publicidade dirigida.

A expansão contínua de gigantes da tecnologia em serviços climáticos é outra razão pela qual o assunto deve ser regulamentado com mais rigidez. O Google é uma empresa de US$ 1 trilhão e continua aumentando. Toda essa riqueza dá a ele uma tonelada de poder político, uma vez que pode gastar milhões para fazer lobby com políticos eleitos, o que torna muito difícil convencer os legisladores a controlar tais companhias.

Agora, o Google pode estar a caminho de se “descarbonizar” sem supervisão efetiva sobre se suas práticas são eficazes, sustentáveis, usam mão de obra equitativa e respeitam nossa privacidade.

Para evitar tudo isso, há outras opções. Poderíamos taxar muito o Google e essas empresas de tecnologia, aplicando o dinheiro fundos em um sistema de descarbonização controlado de maneira mais democrática. De qualquer jeito, algo deve ser feito neste sentido. Ter empresas que se preocupam com o tema é importante, mas melhor que pagar compensações é tentar trabalhar para um futuro com energia limpa, pois aí deixa de ser um jogo em que apenas empresas bilionárias podem jogar.

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