Google está sendo arruinado por dentro pelo Google+?
James Whittaker, ex-diretor do Google, explica em carta aberta intitulada “Por que eu deixei o Google” como a gigante das buscas mudou por dentro para competir com o Facebook. O foco no social parece estar deixando o Google menos inovador, menos criativo — e menos interessante como empresa para se trabalhar.
Whittaker trabalhava na Microsoft, mas foi para o Google em 2009. Em seu blog, ele diz que era apaixonado pela empresa: “ninguém tinha que me perguntar duas vezes para elogiar o Google”. Ele diz que já teve diversas oportunidades para trocar de empresa, mas para Whittaker, era difícil imaginar um lugar melhor de se trabalhar.
Isso mudou. Com um novo foco no social, e com outro CEO no comando – sai Eric Schmidt, entra Larry Page – o Google se transformou por dentro:
O Google pelo qual eu era apaixonado era uma empresa de tecnologia que estimulava seus funcionários a inovar. O Google do qual saí era uma empresa de publicidade com um só foco corporativo.
Como o próprio Whittaker lembra, o Google sempre foi uma empresa de publicidade, de onde sai mais de 95% do seu faturamento. Mas isso era secundário: o dinheiro permitia que a maioria dos funcionários tornassem a empresa uma “fábrica de inovação” — publicidade não era o objetivo fixo e central do Google. O sucesso do Facebook mudou isto.
Whittaker explica que a empresa deu várias investidas em redes sociais, mas todas – Wave, Buzz, mesmo o Orkut – falharam em dominar o mercado. O Google “acordou de sonhos com o social” com a forte ameaça do Facebook. Sim, o Google tem um alcance bem maior que o Facebook, mas a rede social conhece bem melhor seus alvos da propaganda. As empresas querem isto, e a inovação do Google, sob o comando de Eric Schmidt, fracassou em torná-lo social.
Aí entra Larry Page. O Google resolveu declarar que “compartilhar não funciona na web”, e só o Google+ poderia consertar isso. Nas palavras de Whittaker:
O próprio Larry Page assumiu o comando para corrigir este erro. O social se tornou estatal, uma ordem corporativa chamada Google+. Era um nome ominoso, invocando o sentimento de que apenas o Google não era o bastante. A busca tinha que ser social. O Android tinha que ser social. O YouTube, antes feliz em sua independência, tinha que ser… bem, você entende. O pior é que a inovação tem que ser social. Ideias que não coloquem o Google+ no centro do universo são uma distração.
Provavelmente por isso estamos vendo ideias sociais bizarras – como usar máscaras virtuais no videochat do Google+ – ganhando destaque da empresa. Whittaker trabalhou empolgado como diretor de desenvolvimento do Google+, mas perdeu o entusiasmo. Como ele mesmo diz, compartilhar na web funciona bem, sim – só que o Google não faz parte disso. Ele tentou convencer a própria filha de usar a rede social do Google e não conseguiu. A filha dele disse sábias palavras: “social não é um produto – social são pessoas, e as pessoas estão no Facebook”.
A verdade, vista em depoimentos como esse ou mesmo conversas informais com funcionários de várias filiais do Google pelo mundo, é que este descontentamento é cada vez mais comum dentro da empresa. Volta e meia ela vem a público, como aconteceu recentemente. Whittaker voltou à Microsoft no mês passado, e termina sua carta — que você precisa ler no link a seguir — assim: “o antigo Google era um ótimo lugar para se trabalhar. O novo Google? -1.” [JW on Tech via AFP/Folha]