Google ameaça suspender buscador na Austrália se nova lei for aprovada
O Google ameaçou o governo da Austrália nesta sexta-feira (22): a companhia diz que pretende bloquear seu serviço de busca para usuários locais caso o país aprove uma lei que obrigue empresas de tecnologia a pagar aos meios de comunicação por seu conteúdo de notícias. O Facebook também se mostrou favorável à ameaça durante uma audiência no Senado australiano, prometendo bloquear os usuários no país de postar ou compartilhar links para notícias se o projeto for aprovado.
O governo australiano vem tentando aprovar uma espécie de código de conduta com diretrizes de convivência entre os meios de comunicação e grandes empresas de tecnologia que atuam na internet. Os dois alvos principais do governo são as buscas no Google e o portal de notícias do Facebook — plataformas com popularidade parecida, como Instagram e YouTube, não estão na mira das autoridades. Neste caso, as duas companhias seriam obrigadas a pagar empresas de mídia pela veiculação de suas notícias nos resultados das buscas de ambos os serviços, além de aumentar o destaque desses conteúdos.
“O objetivo do código é abordar a posição desigual de barganha entre as empresas australianas de mídia de notícias e as grandes plataformas digitais que têm poder de mercado”, disse Rod Sims, presidente do órgão regulador de proteção ao consumidor da Austrália.
Na prática, o que o governo australiano quer é que as gigantes de tecnologia dividam seus lucros de publicidade e de uso de conteúdo de terceiros com jornais, revistas e veículos de mídia, que sofrem para continuar na ativa. A situação desses meios de comunicação tradicionais ficou ainda mais agravada por conta da pandemia de COVID-19. Dezenas de jornais foram fechados e outras dezenas de jornalistas perderam o emprego.
Tanto o Google quanto o Facebook argumentam que já ajudam os veículos de mídia ao destacar os conteúdos desses canais no tráfego de buscas de suas respectivas plataformas. No entanto, o Google, que domina 95% de todas as buscas online feitas na Austrália, passou a não destacar mais os principais sites de notícias do país nos resultados de pesquisa. As duas empresas foram categóricas: o modelo do código de conduta proposto pela Austrália é inviável.
Melanie Silva, diretora-gerente do Google Austrália e Nova Zelândia, declarou que, se o código for aprovado em sua versão atual, a empresa vai suspender seus serviços de busca na Austrália. “Quando você coloca um preço nos links para certas informações, você quebra a forma como os mecanismos de pesquisa funcionam. E você não tem mais uma internet livre e aberta”, afirmou.
Em 2019, o Google Austrália arrecadou cerca de US$ 3,3 bilhões de anunciantes australianos, e pagou cerca de US$ 77 milhões em impostos, com um lucro informado de US$ 637 milhões.
A versão original do código de conduta também prevê que as companhias informem os legisladores e usuários sobre mudanças nos algoritmos de busca. Com base nos primeiros rascunhos do projeto de lei, empresas de tecnologia teriam de avisar seus parceiros de mídia de notícias entre 14 e 28 dias de antecedência antes de fazer qualquer alteração que possa afetar a forma como os usuários interagem com o conteúdo. Contudo, Google e Facebook disseram que isso seria impossível, uma vez que os algoritmos são atualizados de maneira constante.