No Chile e o nos EUA, hackers atacaram dois observatórios astronômicos do NOIRLab (Laboratório Nacional de Pesquisa em Astronomia Óptica-Infravermelha), da Fundação Nacional da Ciência dos EUA (NSF – National Science Foundation).
A invasão misteriosa ocorreu no dia 1º de agosto e interrompeu as operações dos telescópios ópticos Gemini North, no Havaí, e Gemini South, no Chile. Juntos, os dois telescópios ópticos, que contam com uma câmera infravermelha acoplada, já revelaram várias maravilhas celestiais, como o nascimento de uma supernova e o buraco vermelho mais próximo da terra.
No mesmo dia do ataque, o NOIRLab decidiu encerrar a conexão à internet dos dois observatórios para isolar o ataque e impedir a expansão para outros sistemas. O site dos observatórios Gemini também foi invadido, mas a infraestrutura remanescente do NOIRLab continua intacta.
8 observatórios no Chile foram alvos dos hackers
Normalmente, os computadores da NOIRLab permitem que os astrônomos operem vários telescópios de maneira remota. No entanto, no dia 9 deste mês, o NOIRLab informou que desconectou a rede de mais dois observatórios menores no Chile, o Observatório Interamericano de Cerro Tololo, e o SOAR (Southern Astrophysical Research Telescope).
Desse modo, não é possível utilizar os telescópios ópticos Víctor M. Blanco e o SOAR de modo remoto. Como uma solução temporária, o NOIRLab decidiu que as observações só podem ocorrer no local e por funcionários em horário de serviço.
Buscamos un Técnico Óptico que se una a nuestro equipo de Ingeniería Óptica de @NOIRLabAstroES para desempeñar un papel clave en la excelencia en diseño, análisis, mantenimiento y revestimiento para telescopios.
Postula aquí ⬇️https://t.co/sbaE2axVkO pic.twitter.com/i5pBCwNtj6— Cerro Tololo (@cerrotololo) August 7, 2023
O NOIRLab, apesar de publicar uma atualização, no último dia 24, sobre a situação dos observatórios no Chile, não forneceu muitos detalhes sobre o ataque dos hackers.
Nem mesmo os funcionários dos observatórios sabem os detalhes, e o NOIRLab se recusou a responder à revista Science se o ataque foi um ransomware, quando os hackers exigem um pagamento para devolver o controle dos sistemas
Observatórios estão offline há quase um mês
Até o momento, a equipe de cibersegurança dos observatórios não encontraram uma solução para eliminar a invasão dos hackers nos observatórios do Chile.
O NOIRLab informou que “trabalha contra o relógio” para conseguir reativar os observatórios no Chile e no Havaí, mas, conforme o tempo vai passando, maior a preocupação dos astrônomos. Isso porque muitos projetos internacionais, bem como artigos científicos, dependem dos dados dos telescópios dos observatórios Gemini.
Pesquisas astronômicas feitas na Terra dependem de observações precisamente cronometradas para quando objetos extraterrestres se alinham no campo de visão de telescópios específicos. Aliás, vários empecilhos são comuns para astrônomos, como quedas de energia ou telescópios que se quebram, mas ataques hackers não estavam nos planos.
Luis Welbanks, pós-doutorando em astronomia na Universidade do Arizona, depende das imagens de alta resolução dos observatórios do Chile, mas os ataques hackers já o fizeram perder três eventos importantes para suas pesquisas.
Welbanks, em entrevista à revista Science, afirma que os hackers que atacaram os observatórios no Chile já causaram um impacto enorme nas pesquisas astronômicas. “Se os telescópios não voltarem a funcionar em breve, grande parte da comunidade astronômica ser prejudicada”, diz Welbanks.
Hackers podem ter invadido observatórios no Chile ‘sem querer’
Sobre o ataque, especialistas em cibersegurança estão surpresos pelos alvos dos hackers serem os observatórios no Chile e no Havaí. “É bem possível que os hackers não faziam ideia que estavam invadindo um observatório”, afirma Von Welch, ex-chefe do Centro de Cibersegurança do NSF.
Von Welch e outros especialistas afirmam que este ataque aos observatórios é mais um alerta para a comunidade astronômica. Em novembro do ano passado, o radiotelescópio Atacama Large Millimeter Array (ALMA), também no Chile, ficou fora do ar por dois meses. Os hackers atacarem os seus sistemas.
No entanto, os observatórios Gemini são parte de uma instituição internacional de pesquisa, operados por um consórcio de países que, além dos EUA, incluem Brasil, Chile, Argentina, Austrália e Reino Unido.
Portanto, diferentemente de empresas privadas, que podem isolar facilmente seus sistemas, a essência das pesquisas astronômicas é o acesso livre e colaborativo.