A inteligência artificial conseguiu reunir Joe Rogan e Steve Jobs em um mesmo podcast – apesar do fundador da Apple já estar morto há 11 anos. Tudo não passou de uma simulação da empresa Play.ht, que “clonou” digitalmente as vozes dos dois homens.
A entrevista fictícia inaugurou uma série de podcasts chamada Podcast.ai. A Play.ht, com sede em Dubai, vende serviços de síntese de voz.
Durante 19 minutos, o sistema imita quase perfeitamente as vozes de Rogan e Jobs. É impressionante ver como a tecnologia de aprendizado profundo conseguiu captar trejeitos, pausas e até palavras usadas com mais frequência pelo apresentador e entrevistado.
Isso foi possível depois de um treinamento de inteligência artificial com base em amostras já existentes das vozes clonadas. No caso de Rogan, a cópia soa mais natural, já que ele é o principal alvo para o treinamento por causa das várias gravações de seus podcasts.
Já a voz de Steve Jobs pode parecer mais robotizada. A máquina “aprendeu” a falar como ele a partir de palestras e entrevistas do final dos anos 2000. Segundo a empresa, suas falas também foram geradas pela inteligência artificial.
As transcrições vêm de modelos de linguagens ajustados e têm base na biografia e em todas as gravações já encontradas sobre Jobs online para dar o máximo de precisão, disse a Play.ht no site do podcast.
Críticas à Microsoft
Talvez seja por isso que nem tudo na entrevista de Jobs faça total sentido. Depois de um tempo, partes da fala de Jobs começam a repetir falas já ditas pelo empresário. Ele celebra os “triunfos do Macintosh” (o primeiro computador da Apple) e lança críticas a concorrentes.
Em um momento, por exemplo, Jobs dispara duros ataques contra a Microsoft, que são bastante parecidos com a entrevista concedida ao documentário “Triumph of the Nerds” (Triunfo dos Nerds, na tradução literal), de 1995.
“Esse é um problema que sempre tive com a Microsoft”, diz a voz clonada de Jobs no podcast. “Em muitos aspectos, eles são pessoas inteligentes e fizeram um bom trabalho, mas nunca tiveram bom gosto, nunca tiveram senso estético”.
Em outro momento, Jobs fala para Rogan: “É bom sentar no carro e ouvir você reclamar”. As afirmações, porém, esbarram em questões éticas – principalmente quando um dos participantes do podcast está… morto.
Um artigo no jornal Washington Post de fevereiro de 2021 já questionou a “ressuscitação” de pessoas por inteligência artificial. “É como um roubo de identidade de alto nível”, diz o texto.