Enquanto algumas pessoas fogem ou tentam se proteger da chegada do furacão Ian, outras fazem algo inimaginável: viajam na direção da tempestade tropical.
Eles são chamados de “caçadores de furacões”, geralmente, cientistas que arriscam suas vidas para fazer medições meteorológicas no interior da tempestade. Com isso, eles conseguem coletar dados que não seria possível por meio de satélites ou estações no solo, ajudando a avaliar e prever o comportamento do furacão ao longo do tempo.
É o caso, por exemplo, de Jason Dunion, um meteorologista da Universidade de Miami, e que lidera um programa de estudo de furacões na agência americana NOAA (sigla em inglês para “Administração Nacional Oceânica e Atmosférica”).
De acordo com Dunion, a tarefa consiste em voar várias vezes através do olho do furacão. A aeronave, claro, não é qualquer avião. A NOAA conta com duas aeronaves do modelo Lockheed WP-3D Orion, adaptadas para realizar pesquisas em furacões e outras tempestades severas no Atlântico, Caribe, Golfo do México e Pacífico Oriental.
Uma delas – apelidada “Kermit” – pode ser vista no tuíte abaixo, voando através do Ian:
When you fly into a hurricane you also have to fly back out. That means punching back through the eyewall.
This was Hurricane #Ian this morning aboard Kermit (#NOAA42).
The pilot keeps the aircraft steady, the flight engineer in the middle maintains airspeed. pic.twitter.com/4XCuCr5BtU
— Tropical Nick Underwood (@TheTropicNick) September 27, 2022
O avião do tipo jato tem 35 metros de comprimento, é dotado de quatro turboélices e capacidade para levar até 12 (corajosos) cientistas – além da tripulação formada por dois pilotos, engenheiro de voo, navegador, diretor de voo, e dois ou três especialistas em engenharia e eletrônica.
Eles são usados desde a década de 1970 e funcionam como um tipo de “laboratório voador”, recolhendo, processando e enviando os dados para meteorologistas em terra, para que modelos climáticos façam previsões.
Entre os equipamentos a bordo estão sensores, radares e lasers que medem a atmosfera, a estrutura da tempestade, assim como o oceano – um ingrediente importante na formação e evolução do furacão. Os dados coletados incluem temperatura, umidade, pressão e velocidade do vento.
Durante o voo, também são lançadas sondas oceânicas descartáveis para medir e transmitir dados de diferentes altitudes e profundidades, bem como drones que funcionam como pequenas estações meteorológicas voadoras – para medir a pressão e a velocidade do vento em locais que não seria seguro o avião atravessar.
É como andar de montanha-russa, dizem os cientistas
O cientista explica que o avião voa a cerca de 10.000 pés – a meio caminho entre a superfície do oceano e o topo do furacão. O objetivo é atravessar a parte mais difícil da tempestade, para conseguir medir a velocidade dos ventos mais fortes.
Essas missões podem durar entre oito e nove horas. Dunion diz que a experiência é parecida com a de uma montanha-russa, exigindo estar sempre com o cinto de segurança afivelado. Em poucos segundos, a força do vento pode fazer o avião despencar dezenas de metros, assim como ser atingido por uma corrente ascendente e ganhar altitude rapidamente.
O voo mais intenso que o pesquisador presenciou foi em 2019, com o furacão Dorian – com ventos de quase 300 km/h. “Em um ponto, tivemos forças entre 3 a 4 Gs. É isso que os astronautas experimentam durante o lançamento de um foguete”, relatou Dunion em artigo publicado no site The Conversation.
No vídeo abaixo (em inglês), a agência NOAA explica o trabalho de caçadores de tempestades e como eles enfrentam uma das forças mais destrutivas da natureza.