O lado oculto da Lua, perto do polo sul do satélite, é um lugar morto e escuro, cheio de poços e rochas, como confirma a primeira imagem panorâmica capturada pela sonda chinesa Chang’e 4.
• Rover chinês Jade Rabbit 2 já está coletando dados sobre o lado oculto da Lua
Oito dias depois de seu pouso histórico no lado escuro da Lua, a Chang’e 4 tirou sua primeira foto panorâmica. A imagem, um mosaico que consiste em 80 imagens individuais, oferece uma vista de 360º das redondezas imediatas da sonda, mostrando a linha do horizonte irregular, algumas pequenas pedras, a parceira da Chang’e 4 — o rover lunar Jade Rabbit 2 — e uma série de pequenas crateras.
A imagem panorâmica de 360º completa, feita a partir de 80 imagens individuais. Imagem: CNSA
Confira aqui a imagem em seu tamanho completo.
Aliás, o surpreendente número de crateras em torno do local de pouso apresentará “um grande desafio” para o rover lunar durante explorações futuras, apontou a agência de notícias chinesa Xinhua. Ironicamente, a Chang’e 4 pousou dentro de uma cratera — a de Von Kármán, na Bacia do Polo Sul-Aitken, uma das maiores crateras de impacto já documentadas no Sistema Solar. Pousador e rover estão atualmente seis mil metros abaixo do nível do mar da Lua, por assim dizer. Ou, se você preferir termos técnicos, abaixo da superfície equipotencial comum.
Seção da nova imagem panorâmica de 360º, revelando um monte de crateras. Imagem: CNSA
“As informações das profundezas da Lua serão um dos nossos focos na exploração”, disse Li Chunlai, vice-diretor dos Observatórios Astronômicos Nacionais da China, em entrevista à Xinhua. Ele acrescentou que, “a partir do panorama, podemos ver que a sonda está cercada por várias pequenas crateras, o que é realmente empolgante”.
Seção da nova imagem panorâmica de 360º, mostrando instrumentos na Chang’e 4 e um poço considerável na superfície lunar. Imagem: CNSA
Uma das crateras próximas ao pousador mede cerca de 20 metros de largura e quatro de profundidade. Planejadores de missão na Administração Espacial Nacional da China (CNSA, na sigla em inglês) terão que levar isso e outros poços em consideração enquanto controlam os movimentos do Jade Rabbit 2, também conhecido como Yutu 2.
Parte da nova imagem panorâmica de 360º, com mais uma grande cratera por perto. Imagem: CNSA
Imagens da superfície estão sendo transmitidas para um satélite de retransmissão lunar chinês, chamado Queqiao, que, por sua vez, envia os dados para a Terra. Além de confirmar a confiabilidade desse link de retransmissão, os controladores de missão da CNSA conseguiram iniciar os instrumentos da Chang’e 4 e realizar a “captura mútua bidirecional”, em que o pousador e a sonda tiram fotos um do outro.
O pousador Chang’e 4, fotografado pelo rover lunar Jade Rabbit 2. Imagem: CNSA
“A imagem claramente mostra o relevo da paisagem lunar em torno do pousador e do rover, e a estrela vermelha com cinco estrelas nos dois dispositivos é particularmente chamativa”, apontou a CNSA em um comunicado.
O rover lunar Jade Rabbit 2, fotografado pelo pousador Chang’e 4. Imagem: CNSA
É importante ressaltar que Chang’e 4 e Jade Rabbit 2 sobreviveram a uma noite lunar, período durante o qual os dispositivos foram colocados em modo de hibernação. Em 2016, o antecessor do Jade Rabbit 2 não conseguiu lidar com as temperaturas frígidas, expirando pouco depois do pouso. O comunicado da CNSA descreveu esse estágio preliminar da missão como um “sucesso completo”, dizendo que ela agora podia prosseguir para a etapa de exploração científica.
Além da nova imagem panorâmica, a CNSA divulgou um vídeo do pouso da Chang’e 4 — um vídeo com 4.700 imagens capturadas pela câmera da sonda, segundo a Xinhua. Uma análise do vídeo mostra que a poeira lunar é bastante espessa no local de pouso, sugerindo que o regolito lunar na região passou por uma erosão espacial mais longa, o que também dá fortes evidências da região ser mais velha”, disse Li à Xinhua.
Juntos, o pousador e a sonda coletarão dados científicos sobre o ambiente lunar, radiação cósmica e os efeitos do vento solar na superfície da Lua. Cientistas esperam descobrir mais sobre as condições iniciais do Sistema Solar, avaliando então essas informações para uma futura missão lunar tripulada.