Inteligência artificial encontra distúbios de saúde mental na voz de pacientes
Um software de inteligência artificial acaba de entrar no mercado dos EUA para apoiar clínicas e linhas de ajuda na identificação de problemas de saúde mental. O “biomarcador de voz” analisa a fala dos pacientes e, dependendo do que dizem, consegue sinalizar se a pessoa sofre de depressão ou ansiedade, por exemplo.
Segundo a empresa Kintsugi, que desenvolveu e agora vende a tecnologia, o sistema só observa a forma como os pacientes falam, como seu tom de voz, entonação e ritmo de fala, e não o que dizem.
Bastam 20 segundos de fala livre para que o robô detecte se alguém está enfrentando doenças como depressão ou ansiedade. O resultado tende a ter 80% de precisão.
O modelo de aprendizado de máquina aprendeu a executar as amostras de voz a partir de um banco de dados de vozes anônimas. Agora, a Kintsugi busca a autorização do FDA (a Anvisa dos EUA) para reconhecer o produto como uma ferramenta de diagnóstico.
Outra empresa, a Sonde Health, que também oferece seu próprio biomarcador de voz, diz que o software é um sistema de “alerta precoce”, e não um dispositivo para diagnóstico. Agora, a tecnologia passa por testes no Instituto de Comportamento Cognitivo dos EUA e, em breve, será integrada em aparelhos auditivos.
Apesar da divergência sobre o conceito, as empresas concordam que, no futuro, os biomarcadores de voz podem ajudar na detecção de quase tudo, desde depressão até problemas cardiovasculares e respiratórios.
Questões éticas
A tecnologia pode ser promissora, mas certamente não é infalível. Ainda há poucos estudos que comprovem sua real eficácia, e a grande maioria deles vem das próprias empresas que vendem o software. Além disso, sempre há risco de uso indevido, como roubo de dados e invasão de privacidade, por exemplo.
Em setembro de 2021, um editorial da revista médica The Lancet diz que há um “longo caminho” até que os biomarcadores de voz ganhem o endosso da comunidade científica.
“Melhores padrões éticos e técnicos são necessários para que esta pesquisa realize plenamente o potencial dos biomarcadores vocais na detecção precoce de doenças”, diz o texto.
Uma resenha, também do ano passado, da revista Digital Biomarkers, alerta que há risco de que esses sistemas aumentem os preconceitos sistêmicos em relação a pessoas de regiões ou sotaques específicos.
Ou seja, o software poderia “aprender” que determinada forma de falar apresenta sinais de depressão. Mas, assim, corre risco de diagnosticar todos que falam daquela mesma forma sem se atentar às diferenças culturais e regionais de expressão oral.
Como os biomarcadores de voz estão entrando agora no mercado norte-americano, fica difícil prever como será o comportamento das empresas de lá. E, mais ainda, como isso vai reverberar aqui no Brasil.