Invasão do Congresso: como a internet se tornou protagonista do ataque
As cenas lamentáveis da invasão ao Congresso brasileiro, no domingo (8), têm um denominador comum: a internet. Grupos bolsonaristas insatisfeitos com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram a mobilizar o ataque em grupos online logo após a posse do novo presidente.
Um levantamento do Núcleo Jornalismo mostrou diversas mensagens que promoviam a invasão em grupos do Telegram. Os integrantes usaram o código “Festa da Selma” e “Casa da Selma” para se referir ao movimento violento sem serem descobertos. A palavra faz alusão a “selva”, uma expressão usada por militares, segundo investigação da Agência Pública.
A possibilidade de uma manifestação violenta já era de conhecimento do governo federal e da polícia do Distrito Federal. Caravanas de bolsonaristas chegaram à capital durante a semana vindas de diversas partes do Brasil.
Em 5 de janeiro, pelo menos nove grupos compartilharam instruções sobre a invasão. Ao todo, foram mais de 25,6 mil visualizações no Telegram. Não é possível medir qual foi o alcance da corrente no WhatsApp.
O post pede que todos os apoiadores paralisem suas atividades e não sigam a Constituição. Também dá dicas de “segurança” na invasão ao Congresso e pede que aqueles que não puderem ir a Brasília repitam o ato em em prefeituras e prédios públicos ao redor do Brasil. Não há evidências de que isso tenha acontecido em outros locais.
No Congresso, imagens mostram os plenários, gabinetes de parlamentares, corredores e salas de conferência destruídos. Além disso, obras de arte e até presentes dados por autoridades estrangeiras ao povo brasileiro foram saqueados ou depredados.
Obras de arte que foram DESTRUÍDAS ou ROUBADAS por bolsonaristas em Brasília durante a invasão; UMA THREAD pic.twitter.com/yshsDtbsGu
— Nanda Xie (@nandaxxie) January 9, 2023
Até a publicação desta reportagem, há mais de 1,2 mil presos, segundo o Ministério da Justiça.
Identificação dos responsáveis
Além da vandalização e destruição do patrimônio público, os invasores do Congresso gravaram a ação com o próprio rosto à mostra. São milhares de vídeos pelas redes sociais com flagras de comemoração e pessoas quebrando vidros, móveis e objetos.
Uma das cenas mostra um homem que defeca e urina sobre um móvel do que parece ser uma das salas do Congresso. Em outra, um homem desce o púlpito do plenário do Senado como se fosse um “escorregador”.
Por causa desses vídeos, internautas já se mobilizaram para identificar os responsáveis pela invasão. No Instagram, a conta “Contragolpe Brasil” lista fotos, nomes, profissão e redes sociais dos flagrados na invasão. Até às 11h40 desta segunda-feira (9), o perfil somava quase 720 mil seguidores e 136 posts – a maioria com os invasores identificados.
https://www.instagram.com/p/CnKr6HPJ6iG/
Respostas oficiais
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, determinou que as plataformas e empresas de redes sociais atuem contra o conteúdo golpista e ajudem a identificar os participantes da invasão. Ele também ordenou que o Facebook, TikTok e Twitter bloqueassem 17 contas e perfis que incentivaram o ataque.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) abriu um canal para que a população envie vídeos, fotos e prints das redes sociais que reconheçam os envolvidos no ataque.
Nesta segunda-feira (9), a Meta – empresa-mãe do Facebook, Instagram e WhatsApp – anunciou que vai remover e bloquear todo o conteúdo de defesa das invasões aos Três Poderes, em Brasília.
A companhia fez o mesmo na invasão ao Capitólio, o Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021. “Excluiremos imediatamente todas as postagens pedindo que as pessoas peguem em armas ou invadam à força o Congresso, o Palácio do Planalto e outros prédios federais”, disse um porta-voz à BBC.
“Também estamos classificando isso como um ato de violação, o que significa que removeremos conteúdo que apoie ou enalteça essas ações”, pontuou o porta-voz. Em resposta à invasão do Congresso, o presidente Lula decretou intervenção federal no Distrito Federal até 31 de janeiro.