Como eu descobri o suposto Twitter secreto do diretor do FBI

Nesta semana, o diretor do FBI, James Comey, deixou escapar que ele tem contas secretas no Twitter e Instagram

A segurança digital e seus desdobramentos – desde os emails de Hillary Clinton, passando por ransomwares e hacks no Tor – são uma das principais preocupações do FBI contemporâneo. Faz sentido que o diretor da agência, James Comey, tenha uma presença digital, com uma conta no Twitter.

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Também faz sentido, dado o alto perfil de Comey, que ele queira que sua conta seja secreta para o mundo, para que informações como seus tweets favoritos e pessoas que segue não sirvam de pistas que indiquem as últimas iniciativas dos federais. É um pouco surpreendente, no entanto, que eu tenha conseguido encontrar a conta de Comey, que não está protegida, em cerca de quatro horas de investigação.

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Nesta semana, num jantar entre líderes da Aliança de Inteligência e Segurança Nacional dos EUA, Comey deixou escapar que ele tem contas secretas no Twitter e Instagram ao contar um pequeno episódio envolvendo uma de suas filhas.

Curiosidade: o diretor do #FBI, James #Comey, está no Twitter e aparentemente no Instagram com nove seguidores.

E quem sou eu para dizer não a um desafio?

Para encontrar o Twitter de Comey, a única pista que eu tinha dele era o fato de ele “estar no Twitter agora”, significando que a conta provavelmente seria relativamente nova. Sobre uma identidade no Instagram, no entanto, Comey nos deu mais informações:

[…] Eu me importo profundamente com a privacidade, valorizo demais. Tenho uma conta no Instagram com nove seguidores. Ninguém está entrando lá. Todos eles são parentes próximos e um namorado da minha filha. Eu os deixo acompanhar porque são sérios o suficiente. Não quero ninguém olhando as minhas fotos. Eu valorizo minha privacidade e segurança na internet. Meu trabalho é segurança pública.

A declaração dele tem um sentimento nobre e também uma pista muito boa para encontrar suas contas de redes sociais. Presumivelmente, se você encontrar as contas do Instagram que pertençam à família de James Comey, você conseguirá encontrar James Comey.

Infelizmente, o Instagram não é muito prestativo com pesquisas personalizadas, e não existe nenhuma possibilidade de uma das suas cinco filhas ou de sua esposa utilizar o nome completo na rede. O Twitter, no entanto, nos dá mais maneiras de procurar essas coisas.

Depois de algumas tentativas e erros, eu vi que seu filho de 22 anos, Brien Comey, parecia ter a maior presença online, já que é uma estrela do basquete no Kenyon College.

Apesar disso, não foi fácil encontrar Brien Comey no Twitter, já que seu primeiro nome também é o nome do meio de seu pai, que diversas pessoas chamam de “James Brien Comey” no microblog.

Depois de algumas tentativas frustradas, eu tentei a seguinte pesquisa:
pesquisa-twitter

Ela me traria todas as menções feitas para o filho de Comey, sem nenhuma referência ao pai.

Isso me levou para este tweet publicado pela conta do time de basquete do Kenyon College, onde Brien jogou enquanto era universitário. A publicação mostrou Brien ensinando basquete para algumas crianças e mencionava a conta “@twittafuzz”, que hoje está inativa. Ao pesquisar pelas menções dessa conta, é possível deduzir que ela pertencia a Brien Comey – levando em consideração algumas contas parabenizando @twittafuzz pela ascensão de seu pai na liderança do FBI.

A tentativa, no final das contas, me levou até aqui:

Clicando no link do tweet, você verá que um benfeitor deixou um comentário em que, ninguém mais, ninguém menos que Brien Comey está marcado. O diretor do FBI treinou seu filho muito bem sobre privacidade, porque sua conta é privada. Instagram, no entanto, oferece uma pequena lacuna que é terrível para a privacidade do usuário, mas maravilhosamente útil para os nossos propósitos.

Utilizando uma conta falsa do Instagram que eu mantenho com o único propósito de acompanhar Donald Trump Jr. e Newt Gingrich, eu solicitei acesso à conta de Brien. Assim que eu o fiz, isso surgiu:

instagram-conta

As sugestões foram selecionadas por meio de um algoritmo, baseada na conta que eu solicitei seguir. Havia um número significativo com o último nome “Comey” (Patrícia é sua esposa). Entre as diversas contas de Comeys, apenas duas não tinham nomes reais e fotos de perfil. E apenas uma dessas tinha algo próximo dos “nove seguidores” que James Comey afirmou ter. A conta era reinholdniebuhr.

reinholdniebuhr

Eu ainda não tinha certeza de que esse era, de fato, James Comey. Mas uma rápida pesquisa no Google retornou este artigo da época de Comey na Faculdade de William e Mary, e minhas dúvidas foram amenizadas:

No último ano, Comey, formado em religião e química, estava escrevendo uma tese de doutorado sobre o teólogo Reinhold Niebuhr e o televangelista Jerry Falwell e trilhando seu caminho para a University of Chicago Law School.

Com o mistério do Instagram resolvido, era hora de voltar para o Twitter. Embora lá exista um @ReinholdNiebuhr, com base nos tweets publicados, eu tinha quase certeza de que não era o cara que eu estava procurando.

Felizmente para nós, havia apenas sete contas no Twitter utilizando alguma variação de “Reinhold Niebuhr” como username.

pesquisa-reinholdniebuhr

E apenas uma que parecia estar em atividade secreta: @projectexile7.

projectexile7

Mas como ter certeza? Havia apenas uma pessoa seguindo a conta: Benjamin Wittes, da Lawfare. Wittes não é um novato do Twitter. Ele é um usuário ativo com mais de 25 mil seguidores e segue mais de mil contas – o que significa que ele não é adepto à filosofia “sigo de volta”. Se ele está seguindo um usuário aleatório com avatar de ovo – e é a única conta o fazendo – provavelmente existe um motivo.

A razão poderia ser o fato de ele ser um amigo pessoal de James Comey, como Wittes escreveu aqui. Procuramos-no para comentar o caso, e foi isso que ele nos disse:

Na verdade, eu comentei mais cedo hoje na conta do Twitter do Comey – no Twitter, apenas.

Além dessa declaração pública, não tenho nada a dizer.

https://twitter.com/benjaminwittes/status/847504531109822465

E “Project Exile” é um programa federal que James Comey ajudou a desenvolver quando ele era advogado nos Estados Unidos, morando em Richmond. E há ainda, é claro, as contas seguidas pelo perfil.

ProjectExile7 segue 27 outras contas, a maioria são repórteres, veículos de notícias ou contas oficiais do governo. Adam Goldman e David Sanger, do New York Times, e Ellen Nakashima e David Ignatius, do Washington Post, jornalistas que têm feito uma cobertura intensa da investigação do FBI sobre a ligação de Trump com agentes russos, fazem parte da lista, bem como Wittes e o ex-colega dos tempos de administração de Bush, Jack Goldsmith. Donald Trump também está lá, mas @projectexile7 parece ter começado a segui-lo recentemente (a primeira conta que seguiu foi @nytimes).

Existem duas discrepâncias: William & Mary News (onde Comey se formou) e o pessoal do The Onion:

contas-que-segue

E, dos 39 tweets que a conta curtiu até agora, oito se referem diretamente ao FBI ou ao próprio James Comey:

Um deles tem a ver ativamente com a investigação do FBI:

E quatro se referem à administração Trump no geral:

https://twitter.com/benjaminwittes/status/831129020519612418

https://twitter.com/benjaminwittes/status/804156533387001857

Claro, nada disso é uma prova definitiva de que @projectexile7 é o diretor do FBI, mas seria preciso uma confluência quase impossível de coincidências para ser qualquer outra pessoa. Tire as conclusões que quiser sobre o fato do diretor do FBI aparentemente ter curtido um tweet do New York Times sobre Mike Flynn e Jared Kushner – membros da administração Trump – terem se encontrado com um representante russo em dezembro.

Procuramos o FBI para comentar o caso, e foi isso o que nos disseram:

Olá,

Não temos nenhum comentário.

Obrigado.

Escritório Nacional de Imprensa do FBI

Enquanto isso, @projectexile7, eu amaria ser seguido por você.

Esta reportagem foi produzida pela Special Projects Desk do Gizmodo Media Group.

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