O governo do Irã cortou o acesso à internet em praticamente todo o país no último sábado (16), quando os protestos relacionados aos preços dos combustíveis se tornaram violentos. A internet no Irã está inacessível para a população de 81 milhões há quase quatro dias, e ninguém sabe quando o governo vai restabelecer a conexão.
“A interrupção contínua é a mais grave registrada no Irã desde que o presidente Rouhani chegou ao poder, e a mais grave desconexão registrada pela NetBlocks em qualquer país em termos de complexidade técnica e amplitude”, escreveu a NetBlocks, uma organização de defesa da liberdade na internet.
A NetBlocks relata que a internet no Irã possui cerca de 5% da interconectividade normal, provavelmente permitindo que as principais autoridades governamentais usem a web e celulares sem interrupção. Porém, a maioria do povo iraniano não tem acesso à internet, o que dificulta a disseminação de informações a partir de fontes independentes.
Os protestos começaram na última sexta-feira depois que o governo anunciou no dia anterior que os preços dos combustíveis no Irã aumentariam entre 50% e 200%. As manifestações tiveram uma violenta repressão pelo regime autoritário do Irã.
Mais de 100 pessoas em 21 cidades foram mortas pelas forças de segurança iranianas desde o início dos protestos, segundo a Anistia Internacional, embora essa estimativa seja considerada extremamente conservadora.
Autoridades iranianas culpam agentes externos como os EUA pelos protestos e dizem que milhares de pessoas estão envolvidas na destruição de propriedade privada. Alguns fotos e vídeos compartilhados na internet mostram ônibus queimados e edifícios destruídos, mas a verdadeira escala da destruição, além da extensão da brutalidade policial, tem sido ofuscada pela falta de acesso à internet.
Embora o combustível possa ter sido o gatilho que desencadeou esses protestos, a maioria dos analistas políticos reconhece que o povo iraniano está descontente com uma série de questões, incluindo a frustração com a liderança corrupta e uma piora da situação econômica desde que o regime de Trump reimpôs sanções ao Irã, deixando de lado um acordo nuclear assinado pelo ex-presidente Barack Obama.
Porém, cerca de 55% dos iranianos culpam os líderes nacionais pela situação econômica atual do país e apenas 38% culpam as sanções americanas, de acordo com uma pesquisa publicada em outubro pela revista Foreign Policy.
O ministro das Comunicações do Irã, Mohammad Javad Azari Jahromi, disse à rede de notícias estatal iraniana Press TV na segunda-feira que a internet voltaria “em breve“. Já é quarta-feira e ainda não há sinal da internet no país.