Isaac Asimov, autor de “Eu, Robô”, previu como seria o mundo hoje; veja o que acertou
Em 1964, o jornal norte-americano New York Times convidou o escritor Isaac Asimov, autor de clássicos da ficção científica como “Eu, Robô” e “A Fundação”, para prever como o mundo seria 50 anos depois, em 2014.
O convite faz jus ao impulso visionário de Asimov: ainda em 1950, quando publicou “Eu, Robô”, o pioneiro na literatura sci-fi criou as “Leis da Robótica” para prevenir possíveis riscos por causa da coexistência entre os humanos e a inteligência artificial.
Se estivesse vivo, Asimov completaria 102 anos nesta segunda-feira (2). Ele morreu em 6 de abril de 1992, em Nova York, de Aids. Agora, o New York Times revisitou as propostas, listando aquilo que o escritor acertou e errou em suas previsões de 1964.
Errou
Cidades subterrâneas
Em 1964, Asimov apostou que cidades subterrâneas seriam bastante comuns em 2014, o que não aconteceu. Ele esperava que as casas teriam temperatura facilmente controlada e longe das intempéries do clima e com hortas movidas à luz e ar tratado.
Enquanto isso, a superfície ficaria reservada à agricultura em larga escala, além de parques e pastagens, com “menos espaço desperdiçado pela ocupação humana”.
Sem cabos elétricos
A expectativa de Asimov era que, em 2014, o mundo já não contasse mais com os cabos elétricos, mas com baterias de longa duração alimentadas por radioisótopos. Segundo ele, essas baterias não seriam caras, pois seriam produtos das usinas de fissão nuclear.
Este é, inclusive, outro erro de Asimov: ele apostava que as usinas nucleares fornecessem mais que a metade das necessidades energéticas da humanidade em 2014. Vale lembrar que a previsão é bem anterior ao acidente nuclear de Chernobyl, que em 1986 alertou o mundo sobre os riscos da energia atômica.
Já existem uma ou duas usinas experimentais de energia de fusão
Que nada. Em 2023, os planos para alcançar uma energia de fusão nuclear continuam no papel.
Veículos: menor contato possível com a superfície
Há quase 60 anos, Asimov acreditava que os veículos não tocariam o chão. Em suas palavras: “haverá uma ênfase crescente no transporte que faz o menor contato possível com a superfície”.
Segundo Asimov, os carros, ônibus e caminhões teriam as rodas substituídas por “quatro jatos de ar comprimido” (!) para que o veículo não entre em contato com superfícies líquidas ou sólidas. Isso faria com que os automóveis saíssem das rodovias e, assim, não teríamos mais problemas com pontes ou pavimentação.
População mundial
O escritor previu que, em 2014, a população mundial chegaria a 6,5 bilhões. O que ele pensaria ao descobrir que hoje já chegamos a 8 bilhões? Asimov também errou em acreditar que, por causa do aumento populacional, teríamos cidades debaixo d’água. Bastante improvável.
Acertou em partes
Trabalho doméstico
Há quase 60 anos, o escritor de “Eu, Robô” previu que seriam criadas unidades de cozinha capazes de preparar refeições sozinhas, como “transformar água em café”, “torrar pão”, “fritar, escaldar ou mexer ovos, grelhar bacon, etc”.
Ele também escreve que o café da manhã poderia ser “pedido” na noite anterior para estar pronto em uma hora específica da manhã seguinte. Pela análise do texto, Asimov parece se referir a eletrodomésticos programáveis.
Isso, de fato, existe hoje: há uma série de cafeteiras, torradeiras e panelas elétricas que se ligam automaticamente no horário programado — graças à internet das coisas. Mas as comidas ainda não se preparam sozinhas.
Calçadas rolantes
Na visão de Isaac Asimov, viagens de curta distância poderiam ser feitas com calçadas rolantes instaladas nos centros das cidades. Isso já existe em alguns lugares, mas é mais comum em aeroportos e estações de metrô, por exemplo.
Robôs existem, mas ainda não são muito bons
Segundo Asimov, os robôs de 2014 “não serão comuns nem muito bons” em 2014. De fato, há quase 10 anos, não eram. Hoje há robôs mais desenvolvidos, como os chatbots que respondem às mais variadas perguntas, criam fotografias a partir de hipóteses e até na forma de cães, que podem ser usados em áreas de risco e funções domésticas.
Acertou
Alimentação semi-pronta
Asimov acertou ao prever que almoços e jantares completos viriam de alimentos semi-prontos e armazenados no congelador até o momento do processamento.
E foi ainda mais certeiro: “Desconfio, porém, que mesmo em 2014 ainda será aconselhável ter um cantinho na unidade da cozinha onde as refeições mais individuais possam ser preparadas à mão, principalmente quando chegam visitas”, escreveu.
Computadores em miniatura serão os cérebros dos robôs
Isso certamente aconteceu: os “cérebros” dos robôs são chips minúsculos onde estão todas as informações necessárias.
Grandes usinas de energia solar
A energia solar teve um salto em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. O escritor também disse que teríamos protótipos de usinas no espaço capazes de “coletar a luz do Sol por meio de enormes dispositivos de foco parabólico e irradiando a energia assim coletada para a Terra”. De fato, empresas chinesas e norte-americanas já testam essa tecnologia.
Carros inteligentes
Isaac Asimov acreditava que teríamos carros capazes de se dirigirem sozinhos até o local de destino. Eles também seriam capazes de se estacionar sozinhos. Sim, isso já existe, apesar de não estar à mão de todo o mundo.
Comunicação
O escritor previu, em 1964, que poderíamos conversar, ver e ouvir as pessoas pelo telefone simultaneamente. Em 2014 isso não era tão comum, mas o mundo de 2023 já oferece diversos aplicativos para chamadas de vídeo.
Desigualdade tecnológica
Asimov acertou em cheio quando previu que, apesar de termos mais tecnologia em 2014, só uma parte da população teria acesso a ela. Isso é real mesmo em 2023 também na distribuição de renda e acesso à saúde, educação e alimentos.
Doença do tédio
Ainda em 1964, o escritor via um aumento preocupante da “doença do tédio”. Segundo ele, a causa de sérias consequências mentais, emocionais e sociológicas. Ele acerta ao dizer que a psiquiatria seria, de longe, a especialidade médica mais importante de 2014.
Em 2023, isso é certamente real: a OMS (Organização Mundial da Saúde) já classificou a depressão como a “doença do século” e a pandemia escancarou o aprofundamento das doenças mentais na população global.
Isaac Asimov também acerta ao dizer que o trabalho criativo se torna a “elite da humanidade”. O motivo: “os poucos sortudos que puderem se envolver nisso farão mais do que servir a uma máquina”, pontuou.