Energia mais barata? O que o avanço na fusão nuclear significa para sua vida

De processos complexos, a produção de energia de fusão nuclear já é uma promessa para baratear e ampliar a geração de eletricidade por fontes renováveis.
Energia mais barata? O que o avanço na fusão nuclear significa para sua vida
Imagem: Laboratório Nacional Lawrence Livermore/Divulgação

Descrita como o “Santo Graal” da produção de energia limpa, a fusão nuclear é uma promessa para baratear e ampliar a geração de eletricidade por fontes renováveis. 

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Depois de décadas de estudos e hipóteses, o método se tornou uma possibilidade energética cada vez mais próxima. Em 13 de dezembro, o Departamento de Energia dos EUA anunciou que cientistas produziram, pela primeira vez, uma reação de fusão nuclear que resultou em ganho líquido de energia. 

Há bastante expectativa sobre a descoberta. O processo para gerar eletricidade através da fusão nuclear não emite gases de efeito estufa e, por isso, não contribui para as mudanças climáticas, o grande inimigo deste século. 

Para dar certo, cientistas do LLNL (Laboratório Nacional Lawrence Livermore), na Califórnia, juntaram pares de átomos de hidrogênio, forçando-os a ficarem juntos. Dessa fusão, são liberados hélio, nêutrons e energia. 

É um processo oposto ao da fissão nuclear, técnica usada nas usinas nucleares que, diferente da fusão, separa os átomos pesados. O problema é que os rejeitos do processo emitem radiação por muito tempo, o que aumenta o risco dessa geração de energia. 

Na fusão de energia, por outro lado, os “restos” do processo eliminam pequenas quantidades de resíduos radioativos e de curta duração. E, ao mesmo tempo, tem capacidade para produzir muito mais energia. 

O que estamos esperando? 

Nem tudo é tão simples. Os cientistas têm conhecimento teórico sobre a possibilidade de gerar energia via fusão nuclear há mais de 100 anos. Mas migrar para a prática se mostrou uma tarefa extremamente complexa. 

Isso porque a fusão aproveita os mesmos processos que alimentam ao Sol, como explicou Kevin Giovanetti, professor de Física da Universidade James Madison, ao site LifeWire

“A quase 150 milhões de quilômetros de distância, ainda podemos sentir o brilho quente do Sol em nossos rostos e viver nossos dias com base na lua. Mas os desafios de colocar o Sol em uma garrafa [reator de fusão] são extremos”, disse. 

Para produzir a reação de fusão, os pesquisadores do Departamento de Energia dos EUA usaram 192 lasers que forneceram 2,05 megajoules de energia a um cilindro de ouro do tamanho de uma ervilha. Ali estava uma pastilha congelada de deutério e trítio, dois isótopos de hidrogênio. 

A energia causou o colapso da cápsula e criou fusão. Em seguida, uma análise apontou que a reação liberou quase 3,15 megajoules de energia. O valor equivale a cerca de 5% a mais do que a energia que entrou na reação e mais que o dobro do recorde anterior, de 1,3 megajoules. 

No processo, os pesquisadores usaram um Tokamak – dispositivo que usa um poderoso campo magnético para confinar o plasma na forma de uma rosquinha. Além de produzir o plasma, a ferramenta contém o combustível em chamas para que o processo de fusão não seja interrompido. 

O empecilho é que o processo de fusão produz tanta energia, que a contenção pode se tornar um obstáculo no futuro. “O ajuste do sistema é complexo”, pontuou Giovanetti.

Se não agora, quando? 

Essas complexidades tornam improvável que a energia de fusão carregue nossos smartphones tão cedo. Mesmo que os estudos encontrem soluções viáveis a curto prazo, é possível que demore décadas até que os usuários vejam os resultados. 

“Se você vivesse nos anos 1500 e um colega sugerisse que haveria aviões a jato, imagino que pensaria que ele estava louco”, disse o físico. “Portanto, presumo que um dia os cientistas terão sucesso, mas por hoje ainda acredito na avaliação padrão que mantivemos por muitos anos: a energia de fusão está a 50 anos de distância”. 

Mesmo assim, especialistas na área não têm dúvida de que encontraremos essa fonte energética no futuro. “Este é mais um passo para reescrever a maneira como produzimos e usamos energia”, pontuou Neal Dieckmann, cofundador da startup de energia Energy Transition Ventures. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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