Conheça uma câmera maluca que consegue gravar filmes para o Oculus Rift
Fãs de videogame adoram o Oculus Rift, o sistema de realidade virtual que oferece uma maneira impressionantemente imersiva para experienciar mundos digitais. Jaunt, uma nova empresa de tecnologia, vai levar a plataforma para o território do cinema. Eu vi o que eles fizeram. É incrível. E é algo muito importante para filmes e mídia em geral.
Então, o que é?
O Jaunt é um kit de ferramentas inclusivo para diretores e cinegrafistas para registrar imagens da vida real em 360 graus e vídeo e áudio 3D, para serem vistos em plataformas de realidade virtual como Oculus Rift e o Morpheus, da Sony. Em outras palavras, uma baita de uma câmera 3D.
Não é computação gráfica. Não é apenas uma colagem de fotos panorâmicas, onde uma única lente se mexe grava o que vê. Aqui, a câmera age como uma aproximação para você, e permite experiência de vídeo em óculos de realidade virtual como se você fizesse parte da cena.
A ideia por trás da Jaunt começou com uma questão: é possível documentar uma experiência em algo mais profundo do que pequenos vídeos e fotos? Durante o período de um ano, o pessoal da Jaunt conseguiu criar um dispositivo que levou o conceito inicial a um protótipo funcional.
Em primeiro lugar, eles compraram um kit de desenvolvimento do Oculus Rift para entender melhor a plataforma. E então, eles construíram o modelo inicial de captura do Jaunt com peças de Lego. De verdade. Era rudimentar, mas funcionava.
Em seguida, eles começaram a juntar outros itens e combinar com peças feitas em impressora 3D para criar uma atualização mais refinada. Impressionante e mais funcional do que antes, não era algo exatamente prático para se carregar.
No fim, eles chegaram a um protótipo mais ou menos assim:
Em relação ao que acontece nos bastidores, o pessoal da Jaunt usou as capacidades de captura e processamento de fotografia computacional para extrair efeitos 3D de múltiplas imagens. Mas a Jaunt usa coisas específicas para definir como tudo vai acontecer precisamente um pouco perto do peito. A premissa básica, no entanto, é auto-explicativa: uma matriz de câmeras e microfones capturando dados visuais e de áudio em espaço 3D para reprodução em realidade virtual para seu lazer. Detalhes de lado, é bem impressionante.
Como é ver algo feito com esse aparelho?
Como em qualquer experiência de realidade virtual, você precisa ver para acreditar, mais eis uma tentativa de descrição:
Na tarde de segunda-feira, subi as escadas de um prédio na Universidade Street, em Palo Alto, até chegar a um pequeno escritório. Disse “olá” e cumprimentei Jens Christensen, Arthur van Hoff e Tom Annau – os fundadores da Jaunt – e conversamos um pouco sobre o tempo – era uma tarde cinzenta e chuvosa. Então fui levada a uma sala escura, com pouca iluminação e com alto-falantes estrategicamente posicionados, painéis de absorção de som, um laptop, e uma única cadeira.
Me pediram para sentar, e me deram um Oculus HD para vestir. Também me deram fones de ouvido. A esta altura, tudo estava preto e completamente silencioso. Estava um pouco ansiosa. E então apertaram o play.
Eu imediatamente me encontrei no meio de uma pista de skate. O sol brilhava. Havia um cara indo para frente e para trás nos picos e vales rasos diretamente à minha direita. Não houve ruptura de cena quando olhei para a esquerda, para cima, e para trás, e o som permanecia fiel ao sentido das rodas ao longo do concreto. Foi uma transportação 3D extremamente real.
E então tudo ficou escuro novamente.
De repente, estava no pátio de uma belíssima vila. Dave Mustaine – sim, o cara do Megadeth – estava sentado em uma cadeira bem na minha frente e tocava um violão. Uma piscina cristalina brilhava e borbulhava à minha esquerda, e tudo ao redor formava o refúgio perfeito na Califórnia (era a casa dele, em San Diego). As notas tocadas por eles sintetizavam com o som da água, como se acontecessem em tempo real e, novamente, o sol estava muito forte. Era uma gravação, eu sei, mas senti ser extremamente real.
Ao todo eram sete cenas como essas – um coral de meninas cantando ao redor de mim no meio de uma igreja, seus notebooks espalhados em cadeiras que haviam sido empurradas para formar espaço para o grupo; monges Shaolin treinando em um campo gramado, se aproximando de mim por todas as direções; um mirante amadeirado da ponte Golden Gate, pontuada pela vibração de alguns turistas que o cercavam e uma brisa costeira suave; uma criatura em algo que parecia um submarino, cheio de monstros que saiam de escotilhas – e eu estava dentro de cada uma das cenas, exatamente do jeito que você pode olhar para a sua direita agora e para tudo ao seu redor.
E então acabou. Tirei os óculos e comecei a rir. Foi sensacional. E totalmente surreal. E muito, muito legal.
Então qual é o problema?
Quando falei com nosso especialista em Oculus Rift Eric Limer que estava testando isso, mas nunca tinha testado o Oculus Rift antes, ele me disse para não me preocupar: “Poucos testaram”. O que é a ironia cruel; não há uma maneira de explicar o quão real é isso sem colocar os óculos na cabeça e testar por conta própria.
Se o Facebook ter comprado a Oculus por US$ 2 bilhões foi um passo importante para democratizar a plataforma, o Jaunt parece ser um passo igualmente monumental em direção a criar conteúdo sensacional de realidade virtual que tenha apelo para pessoas longe da comunidade dos jogos. São os filmes em realidade virtual, além dos jogos.
As possibilidades são incríveis. Há algumas semanas, conversei com Charles Howell, produtor-sênior da Framestore, os mestres de efeitos visuais que transformaram a visão de Alfonso Cuarón para Gravidade em uma obra-prima cinematográfica. Ele disse que uma das coisas mais empolgantes que eles queriam era trabalhar com a florescente cena de realidade virtual.
Você consegue imaginar como deve ser uma versão de Gravidade em que a ação não apenas ocorre na tela à sua frente, mas também ao seu redor? Onde você pode ver as mesmas imagens infinitas vezes e ainda captar detalhes não antes percebidos, já que você virou sua cabeça para a esquerda e não para a direita, e isso mudou completamente a sua perspectiva? Ninguém vai ver o mesmo corte da mesma cena; é algo completamente personalizado com base em para onde você está olhando em determinado momento. E é totalmente imersivo. É uma ideia revolucionária, mas tem seus desafios.
Um exemplo: em um filme comum, você pode ver um vilão aparecendo por trás de um personagem principal em um quadro. O artista tem o controle. Mas em filmes de realidade virtual, ele pode aparecer atrás de você – e você não saberia disso a não ser que surja alguma pista, seja em áudio ou visual, para virar para trás. É menos como uma história é contada para você, e mais como você consegue ver uma história.
E, claro, há o desafio de tornar a tecnologia acessível. A realidade virtual oferece uma experiência unicamente solitária por exigir o uso de óculos, e a beleza imersiva não é tão boa em fotos. Não consigo dizer quanto eu quero que você veja o que eu vi, mas isso não acontecerá enquanto você não tiver um acessório para isso. Por enquanto, há formas de ver testes do Jaunt em dispositivos iOS – experimentei o dos monges Shaolin em um iPad – mas não dá para comparar. Na verdade, é um substituto bem fraco, tanto que eles não dão tanto destaque para eles.
Não tenho os mesmos laços emocionais com a Oculus que muitos dos seus apoiadores do Kickstarter tem. Mas experienciar um pouco do Jaunt, e ver o que ele tem para oferecer em termos de experiência cinematográfica, posso dizer que estamos diante de algo incrível, uma grande mudança na mídia moderna. Pode não ser algo imediato, mas, quando for possível, será algo imenso.