Quando as civilizações futuras olharem para o nosso registro geológico, um produto se destacará dramaticamente período: o plástico. Em um pequeno esforço para conter a maré de poluição de plástico, um uísque famoso começará a ser vendido em garrafas de papel. Mas ainda não dá para ficar muito entusiasmado.
A Diageo, uma das maiores empresas de bebidas do mundo, anunciou nesta semana que as garrafas do whisky Johnnie Walker serão feitas de papel com “madeira de fonte sustentável” a partir do início de 2021. A empresa alega que a garrafa será totalmente reciclável. Se a iniciativa funcionar, a empresa espera poder usar esta embalagem para outras bebidas no futuro.
A iniciativa faz parte da estratégia de longo prazo da Diageo para melhorar sua pegada de carbono e seu impacto ambiental geral. Por exemplo, a empresa anunciou em 29 de junho que iria construir uma destilaria de uísque neutra em carbono. Em 11 de junho, anunciou o uso de garrafas plásticas recicladas para o 7 Crown American Whiskey da Seagram.
Legal, né? Um milhão de garrafas plásticas são compradas a cada minuto, segundo as Nações Unidas. Parte desse monte de plástico acaba em nossos oceanos (e, aparentemente, em parques nacionais e até nas plantas também).
Reduzir a quantidade de plástico que o mundo produz é inegavelmente uma coisa boa. Mas o que realmente precisamos fazer é reduzir a quantidade de lixo que o mundo produz, ponto final. Há um custo ambiental para tudo o que produzimos, assim como para tudo o que reciclamos. Portanto, desculpe, Johnnie Walker. Não podemos comemorar isto ainda.
“Embora apreciemos que Johnnie Walker esteja reconhecendo a gravidade do problema da poluição do plástico e a necessidade das empresas mudarem suas práticas comerciais para eliminar os resíduos plásticos, trocar um descartável por outro não é a solução”, disse Claire Arkin, a coordenadora de comunicações da Aliança Global para Alternativas de Incineradores, que defende o desperdício zero, em um e-mail para o Gizmodo. “O uso de embalagens de papel traz os seus próprios problemas: desmatamento, toxicidade potencial e barreiras para uma reciclagem eficaz. Em vez de continuar confiando na descartabilidade e imputar os custos dessa decisão às cidades e aos consumidores, as empresas devem ser pioneiras em sistemas seguros e reutilizáveis que conservem a saúde humana e planetária.”
Amy Moas, uma ativista florestal sênior da Greenpeace dos EUA, disse ao Gizmodo via e-mail que “nada sobre a mudança de Johnny Walker para embalagens de papel é sustentável”. Ela também sinalizou a necessidade de opções de desperdício zero para os consumidores e os problemas ambientais que a indústria de papel e celulose cria.
Fazer garrafas de papel requer o corte de árvores e isso tem um custo, particularmente para animais ameaçados de extinção e povos indígenas que vivem nas florestas ou perto delas. Mesmo que o exterior da nova garrafa Johnnie Walker seja realmente 100% reciclável, Moas questionou se o revestimento de dentro para evitar que o uísque seja absorvido também é.
A Diageo não forneceu nenhuma informação ao Gizmodo sobre o que são estes revestimentos além de dizer que não são nenhum tipo de substâncias per e polifluoroalquílicas, mais conhecidas como PFAS. O que é bom porque podem frequentemente ser encontrados em tipos similares de embalagens e causam preocupações ambientais e de saúde.
Muitas empresas utilizam um fino revestimento plástico em copos de papel que os torna mais difíceis de serem reciclados. Algumas empresas estão migrando para alternativas baseadas em bioplásticos. Mas mesmo que o revestimento seja tecnicamente reciclável, Moas disse que “a grande maioria dos programas municipais de reciclagem não estão equipados para aceitá-los neste momento.”
A Johnnie Walker pode estar tentando ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor e menos poluído. Entretanto, nosso menino Johnnie vai ter que fazer muito mais para ajudar a resolver esta gigantesca questão. Salvar o planeta não é tão simples quanto mudar do plástico para o papel. Não quando os problemas são muito mais complexos e profundamente arraigados na sociedade.