Jornadas longas e perigosas: O relatório completo de trabalho na Foxconn

A Fair Labor Association, um grupo que está sempre atento aos direitos dos trabalhadores, foi contratada pela Apple para inspecionar sua operação na Foxconn — que esteve sob uma chuva de críticas recentemente. Então, o que eles encontraram? Horas trabalhadas ilegalmente, pagamento legal, sindicatos corruptos e perigo. Mesmo a Apple tendo pago pelo estudo, as […]
Crianças chinesas.

A Fair Labor Association, um grupo que está sempre atento aos direitos dos trabalhadores, foi contratada pela Apple para inspecionar sua operação na Foxconn — que esteve sob uma chuva de críticas recentemente. Então, o que eles encontraram? Horas trabalhadas ilegalmente, pagamento legal, sindicatos corruptos e perigo.

Mesmo a Apple tendo pago pelo estudo, as descobertas — que alcançam mais de 35 mil funcionários anônimos da Foxconn ao longo do curso de 3 mil horas — são independentes e bastante condenatórias.

Muitas horas

Os trabalhadores que montam os produtos da Apple têm trabalho excessivamente:

“Há dois parâmetros aqui — o FLA Code Standard de 60 horas semanais no total (normais mais extras) e o limite legal da China de 40 horas semanais e um máximo de 36 horas-extras por mês (efetivamente nove por semana). Todas as três fábricas excederam o FLA Code Standard e os requisitos da lei trabalhista chinesa em algum ponto dos últimos 12 meses. Durante períodos de picos de produção, a quantidade média de horas trabalhadas por semana ultrapassou o FLA Code Standard em 60 horas. Além disso, houve períodos em que alguns trabalhadores não tiveram uma folga em sete dias.”

Mas muitos trabalhadores aceitam numa boa isso!

“48% acham que suas jornadas de trabalho são razoáveis e outros 33,8% disseram que gostariam de trabalhar mais para ganhar mais dinheiro.”

Isso provavelmente diz mais sobre as terríveis condições de subsistência das quais essas pessoas vieram do que a sua atual qualidade de vida na Foxconn.

Nada de crianças trabalhando

Crianças chinesas.

Não é de TODO ruim:

“Nossas avaliações não encontraram problemas envolvendo trabalho infantil ou trabalho forçado.”

A média de idade dos trabalhadores da Foxconn é de 23 anos.

O pagamento é um tanto ok

De acordo com a lei chinesa, pelo menos. O que não quer dizer muito:

“Os avaliadores descobriram que o salário é pago em dia e está acima do legalmente aplicável. O salário mínimo legal em Shenzhen é RMB1500, enquanto o salário inicial na Foxconn é de RMB1800. Após o período probatório, o salário sobe para cerca de RMB2200. Pagamentos por licença média estão acima do que exige a lei local, com os trabalhadores compensados com 70% enquanto o mínimo exigido legalmente é 60%. Horas-extras também são pagas de forma apropriada. A respeito da satisfação com o que recebem, 64,3% dos trabalhadores acham que seus salários não são suficientes para cobrir suas despesas básicas.”

O estágio na Foxconn não é bom

Não é apenas exaustivo, é ilegal e perigoso.

“As horas trabalhadas por estagiários não deve exceder oito diárias, cinco dias por semana e eles nunca devem trabalhar sete dias diretos. Nossos avaliadores descobriram que estagiários fazem hora-extra e pegam o turno da noite, violações das regulamentações governamentais sobre estágio. A Foxconn dá aos estagiários planos de saúde e contra danos relacionados ao trabalho e contra acidentes pessoas e invalidez são oferecidos por suas escolas. Pela lei trabalhista chinesa, os estagiários não podem ser definidos como trabalhadores e legalmente nenhuma relação de trabalho existe entre a fábrica e os estagiários. Isso significa que as proteções gerais das leis trabalhistas não são aplicáveis aos estagiários, incluindo os benefícios previdenciários que trabalhadores normais têm. Enquanto que leis que regulamentam os estágios existem na Província de Guangdong e o Ministro da Educação tenha publicado uma política relacionada a eles, seus status de emprego permanecem vagos e representam um grande risco.

Os sindicatos estão quebrados

Os funcionários da Foxconn podem ter sindicatos, o que é bom, mas a completa razão de ser de um sindicato é representar os interesses do trabalhador contra os da empresa. O que parece não estar acontecendo:

“Os trabalhadores têm pouco conhecimento da estrutura, função e atividades dos corpos de participação de funcionários da Foxconn. Quando nós investigamos o sistema de relações industriais na Foxconn, descobrimos que mesmo que um sindicato exista, uma grande maioria de trabalhadores parece desconhecer suas atividades e o acordo coletivo.”

E aqui vem o pior:

“A maioria dos membros de comitês sindicalistas vêm de cargos de gestão.”

O que significa que os sindicatos são apenas a Foxconn sindicalizada contra ela mesma, para o propósito de alcançar absolutamente nada.

A Foxconn não faz nada para tornar-se menos perigosa

Quando não estão se suicidando, as pessoas morrem na Foxconn devido a acidentes de trabalho. Coisas como explosões. A FLA diz que a empresa não faz muito para diminuir os riscos:

A maioria dos trabalhadores não está envolvida com comitês de segurança e saúde e tem um nível muito baixo de confiança no gerenciamento dessas coisas. Não há, também, eleições ou nominações para os candidatos. O resultado é que os comitês são dominados e não engaja os trabalhadores. Também descobrimos que os comitês são em maior parte reacionários e não monitoram proativamente as condições. Como resultado, trabalhadores são bastante ignorantes  da existência ou do papel que comitês de segurança e saúde têm e, quando estão, eles tendem a duvidar da sua eficácia… Um número considerável de trabalhadores está preocupado com a proteção de sua saúde e segurança.

(Todas as ênfases adicionadas)

O relatório pode ser lido na íntegra abaixo. Nada chocante — a maioria apenas a confirmação do que nós temos lido e visto por meses, ainda que seja bem provável que os trabalhadores tenha dado um passo para trás por medo de retaliações corporativas. Mas vamos esclarecer de novo: as pessoas que fazem nossos iPads e iPhones não são tratadas de uma forma com a qual acharíamos certo se fosse aqui. A Apple poderia fazer algo sobre isso — ela tem dinheiro —, mas não faz, ou ao menos ainda não fez. Veremos se isso mudará — a Foxconn já prometeu algumas mudanças, mas tudo o que isso garante no momento é a força da sua própria palavra. O chefe da FLA, Auret van Heerden, parece confiante: “Eu sei que eles mudarão porque nós os monitoraremos. E eles fizeram um compromisso público agora. É um tipo de grande comprometimento, não tem como eles não fazerem isso.” Este é o mesmo homem que, em frente às câmeras da ABC, disse que achava fortemente que a Foxconn faria um show para ele e sua equipe de inspeção quando eles fossem visitar as fábricas.

Mas dado que as ações da Apple já caíram 7 pontos no after hour hoje, talvez isso se torne uma prioridade séria em vez de algo para o setor de relações públicos.

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