Quatro meses atrás, Kevin Mayer administrava o Disney+ e só precisava se preocupar em competir com a Netflix. Em maio, ele decidiu mudar de ares na carreira e se tornou CEO do TikTok, uma das maiores redes sociais da atualidade. E bastaram apenas três meses de mandato para que um verdadeiro inferno caísse sobre a empresa, levando Mayer a renunciar ao cargo.
Em um e-mail enviado para sua equipe na última quarta-feira (26), e fornecido ao Gizmodo por um porta-voz da companhia, Mayer escreveu:
“Nas últimas semanas, enquanto o ambiente político mudou drasticamente, fiz uma reflexão significativa sobre o que as mudanças vão exigir e o que isso significa para o papel global no qual me inscrevi. Neste contexto, e como esperamos chegar a uma resolução muito em breve, é com pesar no coração que gostaria de informar a todos que decidi deixar a empresa.
O que Mayer mandou foi basicamente um “não é meu trabalho, não é problema meu”. Simples assim.
Mayer ressaltou que acredita em um futuro brilhante para a companhia, mas que esse tal futuro não está nos planos dele. Em resposta sobre a saída do CEO, o TikTok disse: “Agradecemos que a dinâmica política dos últimos meses mudou significativamente qual seria o escopo das futuras funções de Kevin, e respeitamos totalmente sua decisão”.
Não só a renúncia de Mayer chega de surpresa, como também um rumor de que a saída do executivo aconteceria só na semana que vem. O motivo? Fontes familiarizadas com o assunto alegam ao Financial Times que o TikTok está prestes a assinar um acordo para vender suas operações nos Estados Unidos, e que o anúncio estaria agendado para a próxima semana.
Além das atividades nos EUA, devem ser vendidas as operações da companhia no Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Estima-se que o valor da transação fique entre US$ 20 bilhões e 30 bilhões.
Quem vai aceitar o desafio?
Quando o CEO de 58 anos foi contratado pelo TikTok em maio, a rede social já estava envolvida em questões de segurança nacional nos Estados Unidos. Mayer era considerado um rosto bem americano, com um passado sem conflitos na Disney e pronto para dar uma nova imagem à empresa. Já naquela época, políticos do governo dos EUA expressavam preocupações sobre a rede chinesa que detém os direitos do TikTok.
O principal argumento era em torno das práticas de coleta de dados do aplicativo – ou seja, invasivas e opressoras, o que, diga-se de passagem, podemos dizer ser algo padrão nos serviços de mídia social. Críticos estão cada vez mais atentos à possibilidade do governo chinês ordenar que o TikTok canalize seus dados direto para as mãos do Partido Comunista da China.
O fato de que milhares de tecnologias que usamos todos os dias são originárias da China, e que nossos dados pessoais podem chegar ao governo chinês de inúmeras maneiras, não impediu que o TikTok se tornasse o símbolo mais proeminente da Guerra Fria dos Estados Unidos contra a tecnologia chinesa.
A pressão se intensificou no início de agosto, quando o presidente Donald Trump emitiu uma ordem executiva com um prazo de 90 dias para a ByteDance, empresa-mãe do TikTok, vender ou desmembrar as operações do app em todo o território estadunidense. Nesse meio tempo, grandes corporações com sede nos EUA, entre elas Oracle e Microsoft, se apressaram na tentativa de se tornarem as novas proprietárias da galinha dos ovos de ouro das redes sociais.
O Walmart e a SoftBank também teriam feito uma oferta conjunta. A rede de lojas de departamento disse em comunicado à CNBC que “a maneia como o TikTok integrou o comércio eletrônico e recursos de publicidade em outros mercados é um claro benefício para os criadores e usuários”. “Acreditamos que um potencial relacionamento com o TikTok dos EUA, em parceria com a Microsoft, poderia adicionar essa funcionalidade essencial e fornecer ao Walmart uma maneira importante de alcançar e atender clientes em todos os canais, bem como expandir nosso mercado de terceiros e negócios de publicidade”.
Agora, o TikTok está em busca de um novo dono e um novo CEO que saibam exatamente onde estão se enfiando. Um porta-voz da empresa disse que Vanessa Pappas, gerente geral do TikTok na América do Norte, assumirá como chefe global interina da companhia.
(Colaborou Caio Carvalho)