Laboratório submarino na França será totalmente operado em modo remoto

Laboratório será o primeiro 100% remoto da Europa e ficará a 2.450 metros de profundidade no mar da cidade de Toulon, ao sul da França
Imagem: LSPM/Divulgação

A França deve ter o primeiro laboratório submarino sem humanos a bordo. A estrutura vai ser 100% operada em trabalho remoto.

Trata-de do LSPM (Laboratório Submarino Provence Méditerranée), localizado a 40 quilômetros da costa de Toulon, no extremo sul do país, a 2.450 metros de profundidade. 

A estrutura deve ser capaz de transmitir dados do mar e do céu em tempo real. Tudo acontecerá através de uma série de instrumentos que levarão as informações para as salas de controle em terra firme, na cidade de Marselha

O laboratório remoto da França deve funcionar em três áreas distintas. São “caixas” de 6 metros de comprimento por 2 metros de altura conectadas a um sistema de energia via cabo fotovoltaico de 42 km. A parte óptica do cabo também deve ajudar na coleta de dados. 

Duas dessas caixas devem atender à divisão ORCA do novo telescópio de neutrinos KM3NeT, uma infraestrutura de pesquisa que a Europa desenvolve no fundo do Mar Mediterrâneo para identificar a existência dessas partículas subatômicas na Terra e no espaço. 

Neste caso, a divisão ORCA servirá para que os cientistas do KM3NeT estudem as propriedades dos neutrinos gerados na atmosfera da Terra. O outro “braço” do KM3NeT, ARCA, fica na costa da Sicília, a 3.400 metros de profundidade, e serve para estudar neutrinos em fontes astrofísicas distantes, como supernovas, explosões de raios e estrelas.

A última parte do laboratório submarino vai se dedicar à observação marinha. Na prática, dois cabos indutivos com sensores medirão a temperatura da água e correntes marítimas, assim como os níveis de oxigênio e pH. 

Laboratório submarino na França será totalmente operado de forma remota

Ilustração de todos os equipamentos da plataforma do LSPM (Laboratório Submarino Provence Méditerranée). Imagem: Camille Combes/Agende Ouvreboite/Reprodução

Dados em tempo real 

Os cabos do LSPM contarão com um sismógrafo de banda larga que permitirá o envio de dados sismológicos em tempo real. O equipamento, desenvolvido pelo Laboratório Geoazur, terá a ajuda de diversos sensores capazes de medir ondas sísmicas e acústicas através dos fios de fibra óptica. 

Isso acontece por causa de defeitos na fibra óptica, causados pelo processo de aquecimento durante a produção. 

“Como resultado desses defeitos, parte da luz volta para o transmissor. Quando uma onda sísmica ou sonora estica ou contrai a fibra óptica, muda o caminho da luz dentro dele”, explicou Anthony Sladen, do Geoazur Lab. “Ao medir essa mudança, podemos medir ondas sísmicas e sonoras”. 

Outros dispositivos instalados no laboratório serão capazes de detectar e gravar sons de baleias e golfinhos em diferentes frequências. Esses dados devem servir para que cientistas entendam com que frequência esses animais permanecem na mesma região e como é seu comportamento vocal. 

Robôs subaquáticos 

O robô BathyBot deve ser um dos primeiros a funcionar no laboratório. Ele já está no fundo do mar e os cientistas esperam colocá-lo para trabalhar até o final de setembro. Do Instituto Mediterrâneo de Oceanografia, BathyBot pode se mover no fundo do oceano como uma lagarta e medir a temperatura, oxigênio e concentrações de dióxido de carbono na água

Ele também calcula a velocidade e direção da corrente, a salinidade e concentração de partículas do oceano, e escala recifes de até 2 metros de altura. Pesquisadores controlarão o robô remotamente em tempo real, através de uma câmera integrada. 

Além de BathyBot, outro instrumento no laboratório é o espectrômetro de raios gama, que monitora os níveis de radioatividade do fundo do mar, e uma câmera estéreo de fóton único para medir a bioluminescência de organismos.

“Instalações como o LSPM podem melhorar nossa compreensão de muitos fenômenos diferentes”, disse Paschal Coyle, diretor do laboratório e do Centro de Física de Partículas de Marselha, ao site Ars Technica

“Uma coisa importante a estudar é o efeito de longo prazo do aquecimento global. As observações do LSPM já indicam um aumento da temperatura do mar e diminuição dos níveis de oxigênio mesmo nessas profundidades”, pontuou. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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