Lentes de contato bifocais podem impedir que miopia em crianças piore

O estudo descobriu que crianças com até 7 anos de idade que usavam regularmente lentes de contato bifocais potentes sofreram menos piora de sua miopia.
Lente de contato
Crédito: Bryan Tong Minh/Wikimedia Commons

Os resultados de um novo ensaio clínico podem dar mais esperança para crianças com miopia. O estudo descobriu que crianças com até 7 anos de idade que usavam regularmente lentes de contato bifocais potentes sofreram menos piora de sua miopia do que as que usavam lentes menos potentes ou de foco único durante um período de três anos. Isso sugere que essas crianças podem ser capazes de preservar mais a visão até a idade adulta.

A miopia é uma das condições de visão mais comuns a afetar pessoas com menos de 40 anos de idade. Embora as causas da miopia sejam complexas, acredita-se que tanto a genética quanto o meio ambiente desempenham um papel importante. Em particular, estudos têm sugerido que muito trabalho escolar e a redução de brincadeiras ao ar livre antes da pré-escola podem contribuir para a miopia, provavelmente por que as crianças passam muito tempo concentradas em objetos próximos.

A miopia tende a aparecer por volta dos 7 anos de idade e continua piorando até a adolescência, em média. Os médicos têm estudado formas de retardar ao máximo sua progressão durante esse período de tempo, incluindo colírios especializados e óculos e lentes bifocais. Mas esta última experiência, conhecida como estudo das lentes bifocais em crianças míopes, ou BLINK na sigla em inglês, é a primeira a comparar empiricamente se lentes de contato bifocais macias e de alta potência são melhores para crianças com miopia do que outros tipos de lentes.

Ao medir a miopia ou hipermetropia (dificuldade de enxergar de perto) das pessoas, os oftalmologistas dependem de uma métrica chamada dioptria, mais conhecida popularmente como “grau”. Em relação à visão normal, as pessoas com miopia têm dioptria negativa.

Embora tanto os óculos monofocais quanto os multifocais possam corrigir a visão de uma pessoa para que ela possa ver com precisão as coisas que estão longe, os multifocais também acrescentam mais dioptrias, que podem melhorar a visão para pessoas que tem outras dificuldades. Os bifocais são o tipo mais comum de multifocais.

Como desvantagem, os multifocais tendem a ser mais difíceis de ajustar fisicamente do que os óculos monofocais, e limitam mais o campo de visão de uma pessoa.

No ensaio, quase 300 crianças de 7 a 11 anos foram colocadas em grupos aleatórios para receber um dos três tipos de lentes de contato. As crianças receberam lentes bifocais de alta potência (com adição de 2,5 dioptrias), bifocais de média potência (1,5 dioptrias), ou lentes monofocais. Em seguida, foram observadas durante os três anos seguintes.

A principal descoberta do estudo, publicado na revista JAMA, foi que as crianças que usaram as lentes bifocais mais fortes tiveram um avanço menor em sua miopia (uma média de -0,60 dioptrias), enquanto as crianças que tinham lentes monofocais passaram por um avanço maior da condição (uma média de -1,05 dioptrias).

E embora as lentes bifocais sejam conhecidas por serem de difícil adaptação pelos adultos no início, com muitos apresentando sintomas como dores de cabeça, enxaqueca e problemas de equilíbrio, as crianças que usavam as lentes corretivas mais fortes não relataram efeitos adversos adicionais, provavelmente porque seus olhos são mais capazes de compensar.

“A implicação a longo prazo é que as crianças que usam lentes de contato multifocais serão menos míopes quando forem adultas, o que, em última análise, as tornará menos propensas a experimentar complicações de visão como descolamento da retina, glaucoma e maculopatia miópica (má visão mesmo com óculos ou lentes de contato devido à grande quantidade de miopia)”, disse o principal autor do estudo, Jeffrey Walline, professor de optometria na Universidade Estadual de Ohio, em um e-mail.

Walline e sua equipe planejam continuar acompanhando as crianças neste estudo por mais tempo, fazendo-as continuar a usar lentes bifocais por dois anos antes de mudá-las para lentes monofocais. A esperança é que estas melhorias durem mesmo quando deixarem de usar lentes bifocais.

Mas, de acordo com Walline, os resultados deste estudo e outros mostram que os médicos deveriam tentar fazer tudo o que estiver ao seu alcance para retardar a progressão da miopia e que pais e filhos deveriam ser informados com antecedência sobre os tratamentos disponíveis hoje. Atualmente, estima-se que um terço dos americanos tenha miopia. Na China, a maioria das crianças é míope.

Ao mesmo tempo, embora as crianças deste estudo tenham conseguido usar bifocais sem problemas, é provável que esta estratégia não funcione para todos. Nesse caso, acrescentou Walline, ainda há outras opções, como a ortofonatologia (o uso de lentes especializadas usados à noite que remodelam temporariamente a córnea) ou colírios de atropina de baixa concentração, que dilatam as pupilas e podem impedir o alongamento dos olhos.

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