A lepra humana virou uma epidemia entre os esquilos vermelhos do Reino Unido

Estudos detectaram bactéria de lepra humana dizimada na Idade Média em esquilos vermelhos no Reino Unido.

Esquilos vermelhos britânicos estão sendo vítima de uma variedade medieval de lepra (ou hanseníase) que acreditava-se ter desaparecido da Europa há 700 anos, de acordo com novas análises de DNA. Pesquisadores dizem que as chances da temida doença se espalhar entre humanos é baixa, no entanto, a descoberta sugere que variedades de lepra estão por aí há um tempo.

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Uma análise de DNA feita pelos pesquisadores da Universidade de Edimburgo e do Swiss Federal Institute of Technology de Lausane mostra que a lepra nos esquilos vermelhos britânicos está sendo causada pelas mesmas espécies de bactérias responsáveis por infecção em humanos. Casos humanos estão cada vez menores, ainda mais no Reino Unido, onde foram descobertos os animais doentes. No entanto os cientistas dizem que os esquilos podem ser uma fonte para a bactéria no Reino Unido, frustrando tentativas anteriores de erradicar a doença.

Publicado na Science, os resultados mostram que amostras tiradas de 25 esquilos vermelhos que viviam na região da Ilha de Brownsea estavam infectadas com Mycobacterium leprae — a variante da lepra responsável pela epidemia durante a Idade Média na Europa.A bactéria é bastante parecida com a variável encontrada em restos de esqueleto de vítimas de lepra, que foram enterradas em Wincester há 740 anos. A variável também é bem parecida com outra encontrada em tatus no sul dos Estados Unidos.

A lepra é uma doença crônica contagiosa que afeta os nervos periféricos, pele, vias respiratórias superioras, olhos e o revestimento do nariz. A doença, que gerou uma epidemia na Europa, começou a sumir no fim da Idade Média por razões ainda não completamente claras. A lepra só foi desaparecer do velho continente no século passado, pelo menos entre humanos. Hoje, há cerca de 200 mil casos registrados de lepra em todo o mundo, particularmente em áreas úmidas, como os trópicos e subtrópicos. Os países em que há maior frequência da doença são Índia, Indonésia, Myanmar, Brasil e Nigéria. A enfermidade pode ser tratada com antibióticos, mas um impressionante número de novos casos ano a ano alertam para a necessidade de se aprender mais sobre a doença e por que é tão difícil eliminá-la.

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Esquilo vermelho com lepra na orelha e no focinho (Karen van der Zijden)

Como outras doenças zoonóticas, a lepra pode passar de animais para humanos. Com isso em mente, os laboratórios dos cientistas Stewart Cole, da EPFL, e de Anna Meredith, da Universidade de Edimburgo, conduziram testes em 110 esquilos vermelhos britânicos da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Algumas espécimes mostram sinais de lepra (por exemplo: perda de pelos na orelha, no focinho e nos pés), enquanto outros, não — porém, mesmo assim estavam infectados com a bactéria.

“Após séculos da eliminação da doença entre humanos no Reino Unido, foi completamente inesperado para nós ver que a bacteria Mycobacterium leprae tem acometido esquilos vermelhos”, disse Cole em um comunicado. “Isso nunca tinha sido pesquisado antes.”

Como observado, os esquilos da Ilha de Brownsea estavam infectados pela forma medieval da doença, mas os esquilos vermelhos de outras áreas estavam infectados com outra variação conhecida da doença, a Micobacterium lepromatosis. Esta variante da doença é conhecida por causar lepra em pessoas do México. Análises aprofundadas indicam que as duas diferentes variações divergiram de um ancestral comum há 27 mil anos.

Esta pesquisa mostra que a doença pode continuar não detectada no meio ambiente mesmo após centenas de anos após ter sido dizimada entre humanos. Ainda bem que as pessoas que moram no Reino Unido não precisam se preocupar com a enfermidade.

“O risco de pessoas contraírem a lepra de esquilos é desprezível”, disse Meredith ao Gizmodo. “A bactéria que causa a lepra não pode sobreviver fora do corpo humano, e evidências mostram que todas as pessoas são naturalmente incapazes de pegarem a doença, mesmo ao serem expostas à bactéria que a causa”. Ela ainda ressalta que é importante manter a cautela, como evitar entrar em contato com os animais selvagens e lavar as mãos antes das refeições.

“Cerca de uma dúzia de pessoas foi diagnosticada com lepra no Reino Unido no último ano”, disse Meredith. “Em todos os casos, a doença foi adquirida em países em que ela é frequente. O último caso nativo de lepra [contraída no Reino Unido] é de 1798.”

Esta notícia vem em um momento particularmente difícil para os esquilos vermelhos britânicos. O número deles caiu drasticamente nos últimos anos, e estima-se que há apenas 140 mil. Estas criaturas ainda estão sendo ameaçadas pela perda de habitat e pelo vírus squirrelpox, que é transportado por esquilos cinzentos.

“A descoberta de lepra em esquilos vermelhos é preocupante por uma perspectiva de conservação”, disse Meredith. “Nós precisamos entender como e por que a doença foi contraída e transmitida entre eles. Assim, nós conseguiremos entender melhor a enfermidade que acomete esta espécie tão icônica.”

[Science]

Imagem do topo por Dorset Wildlife Trust

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