Lixão transformado em parque ainda é evitado pelos animais, diz pesquisa da UFPR
O Parque Estadual Rio da Onça, em Matinhos, no Paraná, não é um espaço convidativo para os animais. De acordo com pesquisadoras do Laboratório de Análise e Monitoramento da Mata Atlântica (Lamma), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), clareiras e materiais de difícil decomposição, como plásticos e isopor, estão afastando os pequenos mamíferos das áreas mais degradadas do local. Ali existiu um lixão até os anos 1990.
Ao longo de 2018, a equipe analisou espécies de pequenos mamíferos não voadores. Este é o grupo mais diversificado de mamíferos do mundo, e estava presente em três áreas do parque: de floresta original, de mata regenerada e uma das que abrigava o lixão, com indícios de degradação. A presença dos animais no ambiente dá indícios da disponibilidade de alimentos e locais de abrigo que há nele.
Na época da pesquisa, publicada pela UFPR e pelo Ecología Austral, o parque contava com área inferior a dois quilômetros quadrados. No entanto, em 2022, o decreto estadual 11.489/22 autorizou a anexação de áreas de floresta dos arredores, aumentando o a unidade para 16,6 km² ao todo.
Como foi feita a análise?
Durante seis dias de capturas em três áreas distintas do parque, as cientistas fizeram 109 capturas de pequenos mamíferos com armadilhas de comida. Das capturas, 51 ocorreram na mata mais conservada e 32 na mata em regeneração, enquanto na clareira, a parte degradada, foram 26.
Desconsiderando as recapturas, foram 82 animais diferentes, sendo o principal o rato-do-mato (Akodon montensis), com 45. Capturar mais de uma vez um animal indica que ele reside no local, ao invés de apenas permanecer em trânsito entre as áreas.
A saúde do roedor mais frequente preocupou as cientistas. “Verificamos que indivíduos apresentavam uma descamação na base da cauda, por vezes bastante severa. Essa descamação não é comum de se encontrar em áreas fora do Parque Estadual Rio da Onça e pode ser indicativo de que a saúde dos animais está comprometida de alguma forma”, apontou a doutora em genética Fernanda Gatto-Almeida, uma das autoras.
Ela ressalta que alguns dos animais estudados são encontrados apenas na Mata Atlântica, que tem apenas cerca de 12% de cobertura original e vem registrando devastação nos últimos anos.
Contudo, a presença do roedor Euryoryzomys russatus, o segundo mais registrado no lixão, traz indicativos positivos, já que ele costuma ser “sensível a distúrbios ambientais”. “A presença dessas espécies é de certa forma encorajadora, pois demonstra que apesar da área do lixão, a área do entorno deve estar provendo qualidade ambiental suficiente para que a espécie permaneça ali”, completou.
E as outras espécies?
No geral, o estudo descobriu que pequenos marsupiais e roedores silvestres estão menos presentes nas áreas mais degradadas do parque. Enquanto outras espécies mostram resiliência à adaptação do meio. Porém, não se sabe o grau de sobrevivência dessas espécies no ambiente, ou se ele atende às suas necessidades, como a reprodução, por exemplo.
“No contexto em que avaliamos a ‘não adaptação’, ela se reflete no uso menos frequente do espaço. As espécies que ‘não se adaptam’ não exploram aquele espaço, portanto têm perda de habitat em microescala. […] Mas é fato que na área da clareira onde o lixo era descartado os recursos ambientais não foram regenerados por completo”, diz Fernanda.
Por fim, a conclusão é de que, devido à dificuldade de reverter os danos do lixão a céu aberto sem tratamento em um ambiente, o investimento em remoção de lixo, o replantio de árvores nativas e o monitoramento da fauna e da flora poderiam beneficiar o Parque Estadual Rio da Onça.