Mais de 100 botos morrem na 2ª maior seca da Amazônia; saiba mais
Na última semana, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá registrou a morte de mais de 110 mamíferos aquáticos. Entre eles, estão representantes do boto vermelho e do tucuxi que viviam no Lago Tefé.
As duas espécies estão na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, de forma que estão em risco de extinção. Segundo dados da última contagem do Instituto Mamirauá, feita anos atrás, havia em torno de 800 e 900 botos e 500 tucuxis na região.
O Lago Tefé se encontra no município amazonense de mesmo nome, que fica a pouco mais de 500 quilômetros de distância da capital, Manaus. Dali, são apenas oito quilômetros até o rio Solimões. No entanto, a água do Tefé está em níveis tão baixos que é possível caminhar pelo leito do rio.
Segundo o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), esta é a segunda maior seca na região desde 2010. Em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia, a coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Mamirauá, Miriam Marmontel, disse que a situação é muito crítica e inusitada.
“Nunca tínhamos visto algo semelhante, embora já tenhamos passado por várias secas grandes aqui grandes na Amazônia”, afirmou.
Possíveis causas
Por enquanto, não se pode afirmar qual a causa. Ainda há necessidade de mais estudos para compreender melhor o cenário.
No entanto, a seca é a principal causa suspeita para a morte dos mamíferos aquáticos. Com a estiagem, há o aumento de morte de peixes, o que acaba com o alimento dos botos, por exemplo.
Pesquisadores do Mamirauá criam uma força tarefa em Tefé para entender as causas da mortandade de botos na região. A seca é tão grande que o acampamento é no leito do rio. Imagens do pesquisador @DannyTregidgo. pic.twitter.com/7c4BCLAsid
— Erika Berenguer (@Erika_Berenguer) September 29, 2023
Além disso, o lago está cerca de 8ºC acima do comum. Até agora, a temperatura máxima registrada das águas do Tefé era de 32ºC. Nas novas medições, pesquisadores encontraram temperaturas entre 39ºC e 40ºC.
Isso pode causar hipertermia nos botos e outros animais. Mas também há a suspeita de que agentes infecciosos estão se proliferando no local.
“No meu entendimento, acho que é algo exacerbado pela temperatura. Pode ter sido algum organismo ou alguma toxina presente na água que anteriormente não causava nada nos animais mas que pela concentração física e pelo aumento da temperatura acabou sendo potencializado e está causando esses problemas”, explicou Marmontel.
Em geral, a seca e o aumento da temperatura das águas amazônicas acontecem por influência do El Niño e também pelo aquecimento do Atlântico Norte. Embora a estação de chuvas na Amazônia comece em outubro, a tendência é que este período de estiagem se estenda por mais um mês.
Ações emergenciais
Além do Instituto Mamirauá, que é vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Informações (MCTI), o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e a Defesa Civil também estão realizando ações para resgatar os corpos de animais, descobrir as causas e evitar novas mortes.
No final de semana, pesquisadores começaram a retirar animais ainda vivos. A ideia é analisar a saúde dos botos para entender o que está acontecendo.
Enquanto isso, eles também estão monitorando as águas do Lago Tefé, recolhendo amostras para análise de doenças e retirando as carcaças.