“Meu Amigo Dahmer”: HQ retrata vida do serial killer canibal na época do colégio
“Dahmer: Um Canibal Americano” é a série do momento! A produção da Netflix estreou no topo da lista de TV inglesa com 196,2 milhões de horas assistidas, tornando-se o título mais visto esta semana. A trama conta a história de Jeffrey Dahmer, um serial killer que matou 17 pessoas nos EUA entre 1978 e 1991.
No entanto, essa é apenas uma das obras que conta a história do assassino. Um exemplo é “Meu Amigo Dahmer”, um romance gráfico autobiográfico do quadrinista Derf Backderf sobre sua amizade na adolescência com o serial killer. Com o objetivo de contar a história de Dahmer de uma perspectiva diferente, Derf resgatou velhos cadernos e álbuns de fotografia, conversou com amigos da adolescência e antigos professores, além de consultar arquivos da mídia e do FBI.
“Meu Amigo Dahmer” traz o perfil do psicopata Jeff Dahmer quando este ainda era um aluno do ensino médio. O autor foi seu colega de turma nos anos 1970, e conviveu com o futuro “canibal de Milwaukee” com uma intimidade que Dahmer talvez só viesse a compartilhar novamente com suas vítimas. Juntos, os dois estudaram para provas, mataram aula e até chegaram a jogar basquete.
Porém, com o fim do ensino médio, os dois tomaram rumos diferentes e Derf só voltaria a saber do amigo pelo noticiário. Em 1991, os crimes de Jeffrey Dahmer vieram à tona: necrofilia, canibalismo e uma lista de pelo menos 17 mortos, entre homens adultos e garotos. O primeiro assassinato teria acontecido meses após a formatura no colégio.
Além de remexer nos seus velhos cadernos e álbuns de fotografia para roteirizar a história em quadrinhos, o autor consultou seus amigos de adolescência, antigos professores, os arquivos do FBI e a cobertura da mídia após a descoberta dos crimes. Lançado pela Darkside Books no Brasil, a obra em quadrinhos monta um perfil completo do serial killer através da perspectiva de alguém que era muito próximo dele.
Muitos tinham histórias do garoto que costumava fingir surtos epilépticos, exagerava na bebida antes mesmo de ir para a aula e que parecia ter uma fixação em dissecar os animais atropelados que encontrava perto de casa. Mas quem realmente poderia prever os caminhos sombrios pelos quais ele seguiria?
Crédito: Reprodução/DarksideA primeira versão da história foi publicada de forma independente em 2002 com apenas 24 páginas. Em 2012, foi lançada a versão definitiva do livro, já com as 288 páginas em preto e branco do quadrinho. A obra conquistou o público e crítica especializada e com isso, “Meu Amigo Dahmer” foi escolhido pela revista Time como um dos cinco melhores livros de não ficção de 2012. Em 2014, a edição francesa ganhou o prêmio de revelação no Festival de Angoulême.
Em 2018, foi a vez da edição brasileira, publicada pela DarkSide Books, ganhar o Troféu HQ Mix na categoria “melhor publicação de aventura/terror/fantasia”. Tamanho sucesso, fez a história em quadrinhos de “Meu Amigo Dahmer” virar filme. A obra serviu de inspiração para o longa de 2019, “O Despertar de Um Assassino” (“My Friend Dahmer”, em seu título original), onde Ross Lynch interpreta o serial killer e Alex Wolff faz o papel de Derf. Confira o trailer:
“É uma história de fracassos”, sintetiza o autor da obra. “Todo mundo fracassa: os pais dele, os professores, a direção da escola, os policiais, os amigos dele e o próprio Jeff”, explicou o quadrinista em entrevista, que também foi consultor do filme dirigido pelo cineasta Marc Myers.
Derf Backderf ainda disse que sempre soube qual seria o recorte da história que queria contar. “Assim que o Jeff começa a matar, ele se torna apenas mais um fanático sem graça para mim e eu perco todo o interesse”, conta o autor. Com exceção do primeiro assassinato, nenhum dos crimes é mostrado no livro. O que há de mais gráfico são os experimentos do protagonista com corpos de animais mortos achados por ele na estrada próxima à casa dos pais.
“O que me fascinava era a espiral descendente. Por que e como ele se torna um monstro. Eu realmente continuo sem saber o motivo que o levou a se transformar nessa criatura, mas documentei o processo”, explica Backderf. No quadrinho ficam explícitos os vários problemas vividos por Dahmer enquanto crescia. A ausência do pai, a depressão da mãe e os primeiros sinais de alcoolismo estavam à vista de todos, mas foram sempre ignorados pelas pessoas ao redor, inclusive pelo próprio Backderf.
“Desde o começo eu sentia que precisava escrever essa história com uma honestidade brutal”, diz o autor. “Éramos apenas garotos ingênuos de uma cidade pequena. Se soubéssemos o que realmente acontecia na cabeça do Jeff e toda a carnificina que estava para acontecer, é claro que teríamos agido. Mas não sabíamos, então há arrependimento, mas não há culpa. A pergunta que sempre faço é: onde estavam os adultos?”