Mick Jagger, 80 anos: 11 momentos do artista quando jovem

Para celebrar a data em que Jagger se torna octogenário, escolhemos grandes momentos antes dele antes dos 40 anos
Imagem: Reprodução/The Stones The Acclaimed Biography

Mick Jagger completa 80 anos neste 26 de julho e ainda canta “Satisfaction” quando os Rolling Stones vão ao palco. Que mal há de mal nisso? Mal nenhum. É bom ver alguém ainda tão ativo com tal idade e com um repertório sólido que encanta o público. O irônico é contrapor isso ao que o jovem senhor Mick disse em 1975 à revista americana “People”: “Prefiro morrer a continuar cantando ‘Satisfaction’ aos 45 anos”.

Também não há mal nenhum em Jagger ter mudado de ideia em relação a essa frase de efeito numa entrevista. Na vida, há coisas que parecem impensáveis na juventude que tornam-se mais palatáveis com a maturidade.

Em 1975, talvez Mick pensasse que não queria ficar preso pelo resto da vida a um megahit (o primeiro grande clássico mundial dos Stones) que, na época, já tinha dez anos. Poucos anos depois, percebeu que “Satisfaction” era uma das principais jóias de sua coroa na realeza do rock e merecia ser exibida sempre que possível.

Assim Jagger cantou a música quarentão, cinquentão, sessentão e, até ontem, setentão. E isso é bom para todos. Ele, os outros Stones e o público que admira Jagger e a banda.

Ele não vai mais produzir algo com o impacto duradouro de “Satisfaction”. Mas produziu “A” “Satisfaction”. Quantos seres humanos podem dizer que fizeram algo tão relevante?

(Isso sem falar em outras tantas músicas dos Rolling Stones…)

Para celebrar a data em que Michael Phillip Jagger tornou-se um octogenário, o recorte escolhido aqui foi selecionar vídeos com grandes momentos dele antes de completar 40 anos. Um período entre 1963 e 1983 no qual os Stones produziram rock de altíssimo nível que dá todas as razões para reconhecer Jagger como lenda.

1- Rolling Stones – “I Wanna Be Your Man”

O vídeo de apresentação de TV mais antigo em qualidade decente que foi encontrado neste garimpo. Num programa britânico, os Stones tocam seu segundo single, uma música que John Lennon e Paul McCartney (já atolados na Beatlemania no Reino Unido) compuseram em minutos e deram de presente ao conjunto que tentava se firmar.

Os Stones optaram por um arranjo mais bruto e mais blues, como era típico de seu repertório no começo da carreira. Jagger, aos 20 anos, nitidamente ainda busca encontrar sua identidade vocal.

O compacto saiu em 1º de novembro de 1963 e chegou ao 12º lugar da parada britânica. Meros 22 dias depois, os Beatles lançaram sua própria versão como um rock leve no álbum “With the Beatles”. Lennon e McCartney deram a música para o baterista Ringo Starr cantar…

2- Rolling Stones: “Not Fade Away” e “I Just Want to Make Love to You”

Em maio e junho de 1964, os Stones fizeram sua primeira excursão pelos Estados Unidos. Entre os shows, participaram do programa de variedades “The Hollywood Palace”, que tinha um rodízio de apresentadores. Naquela noite, o ator e cantor Dean Martin, agregado da turma de Frank Sinatra, comandava o espetáculo.

Dean fez a introdução da participação dos Stones disparando piadas cheias de trocadilhos e avacalhações. Como: “Não é que os cabelos deles são compridos. Naaaaaah… São apenas testas pequenas e sobrancelhas mais altas”.

Depois da apresentação deles, Dean soltou um caco durante o número de um equilibrista que balançava arriscadamente no alto do palco. “Este é o pai dos Rolling Stones. Ele vem tentando se matar desde que eles surgiram”, soltou o veterano do show business.

Não desceu bem para os Stones, que interpretaram isso como um ataque da velha guarda da música pop contra a nova geração do rock que começava a dominar o cenário mundial. Em defesa de Dean Martin, é possível dizer que este era o estilo normal dele, que adorava furar balões que considerava inflados demais.

Musicalmente, os Stones tocam duas covers: “Not Fade Away” (original do guitarrista Buddy Holly, morto em 1959 num acidente de avião) e “I Just Want to Make Love to You” (do gigante do blues Muddy Waters).

Esse vídeo acima está numa versão colorizada. O programa era transmitido em preto e branco.

3- Rolling Stones: caos na Holanda

Este vídeo é só para dar uma ideia do que foi a Stonesmania, versão mais acidentada da Beatlemania – muito por causa da imagem mais rebelde que Jagger e seus parceiros projetavam. Entre 1964 e 1967, era normal haver caos e tumulto de fãs em shows no Reino Unido e na Europa continental.

As imagens acima são de um show de agosto de 1964 em Haia, na Holanda, que acabou cancelado depois dessas invasões de palco. Esse tipo de bagunça não poupou os Stones nem em seu grande concerto no Royal Albert Hall, em Londres, em 1966, nem numa pioneira passagem por países da Cortina de Ferro comunista em 1967.

4- Rolling Stones: “Around and Around” e “Time Is On My Side”

Os Stones retornaram aos EUA em outubro de 1964 numa turnê melhor organizada que a primeira. E desta vez se apresentaram no “The Ed Sullivan Show”, o programa dominical de variedades de maior audiência da TV americana – que tinha transformado os Beatles em fenômeno em fevereiro daquele mesmo ano.

Mais uma vez, duas covers (a parceria Mick Jagger-Keith Richards ainda estava se aperfeiçoando). A primeira é “Around and Around”, de Chuck Berry. Em seguida, o single “Time Is On My Side” (6º lugar na parada americana), soul da cantora Irma Thomas.

O apresentador Ed Sullivan ficou bastante contrariado com a gritaria da plateia (majoritariamente feminina naquela noite) antes, durante e depois das músicas. Chegou a dizer que não queria mais os Stones em seu programa, mas logo mudou de ideia. Ele sabia que tinha de botar no ar o que era sucesso.

5- Rolling Stones: “( I Can’t Get No) Satisfaction”

Sim, aqui está “Satisfaction”, com Jagger aos 22 anos. É a terceira participação dos Stones no programa de Ed Sullivan, a primeira em cores, exibida ao vivo em 13 de fevereiro de 1966. O sucesso da música em 1965 foi tão impactante que, oito meses depois do lançamento do disco, ainda era a música que o público americano queria ver os Stones tocando na TV.

6- Rolling Stones: “Have You Seen Your Mother, Baby, Standing in the Shadow?” (Official Music Video)

O famoso videoclipe em que os Stones se transformam em senhoras e senhorinhas inglesas. Jagger investiria em travestismo e androginia em outras ocasiões na carreira. Se hoje ainda há muita luta contra o preconceito contra drags, imagine em 1966 quando a banda filmou isso com o diretor Peter Whitehead.

Não foi muito exibido na época e virou raridade. Mas foi recuperado e restaurado oficialmente pela banda e pela empresa ABKCO em 2022, com direito a ser remasterizado em 4K. Outros vídeos do grupo dos anos 1960 receberam o mesmo tratamento.

7- Rolling Stones: “We Love You” (Official Music Video)

Em 12 de fevereiro de 1967, houve uma batida policial na casa de campo do parceiro Keith Richards, que recebeu Mick e a namorada Marianne Faithfull, os fotógrafos Robert Fraser e Michael Cooper (ambos trabalhariam na capa de “Sgt. Pepper’s…”, dos Beatles, meses depois) e outras sete pessoas para uma festinha. Jagger, Richards e Fraser passaram uma noite na cadeia e, mesmo soltos, receberam acusações formais por posse de drogas.

Em junho, os três foram julgados. Jagger foi condenado a três meses de prisão por posse de quatro comprimidos de anfetamina. Richards foi condenado a um ano por permitir que pessoas fumassem maconha em sua residência. E Fraser pegou um ano por posse de cápsulas com heroína.

Houve uma reação inesperada em favor dos Stones. O sisudo e tradicionalíssimo jornal “The Times” fez o notório editorial “Quem mata uma borboleta com rolo compressor?” em defesa dos artistas e questionava se um anônimo teria recebido pena tão pesada quanto Jagger.

A gritaria deu certo e os dois Stones puderam sair das cadeias em que estavam no dia seguinte, com pagamento de fiança. Pouco depois, as sentenças foram anuladas ou modificadas.

Em agradecimento ao apoio que receberam, os Stones rapidamente compuseram e gravaram “We Love You”, com um arranjo psicodélico próprio daquele ano.

O single saiu em agosto e foi acompanhado pelo clipe acima, com cenas inspiradas no histórico julgamento do escritor irlandês Oscar Wilde por sodomia em 1895.

8- Mick Jagger: “Memo From Turner” (do filme “Performance”)

Ambicioso, Jagger levou a sério a pretensão de também ser um astro do cinema. Fez sua estreia no filme alternativo “Performance”, do diretor Nicolas Roeg. As filmagens foram em 1968, mas o longa-metragem só estreou em 1970, uma semana depois de “Ned Kelly”, que foi produzido depois mas foi mais ágil para chegar às telas.

Em “Performance”, Mick interpreta Turner, um roqueiro recluso e depravado que dá abrigo em sua mansão a um gângster em fuga. No meio dessa trama, surge a primeira música-solo de Jagger, “Memo from Turner”.

O clipe extraído do filme e postado no YouTube pelo usuário Ian Gomper vive sendo objeto de disputas por direitos autorais que, ocasionalmente, tiram do ar material de “Performance”.

Bônus: o trailer de “Performance”

9- Rolling Stones: “Angie” (OFFICIAL PROMO Version 2)

A doce balada “Angie”, lançada em 1973, pegou muito fã de surpresa na época porque nem parecia coisa de Rolling Stones. Alguns torceram o nariz e classificaram a música de muito melosa. “Angie” teve dois clipes promocionais oficiais. E este acima, captado como uma apresentação ao vivo, comprova que de meloso nada havia.

10- Rolling Stones – “Respectable” (OFFICIAL PROMO)

A explosão punk no Reino Unido em 1976-77 contestou ruidosamente os Rolling Stones como velhos, acomodados, superados, milionários bon vivant e preguiçosos que nem queriam saber mais de fazer rock. A resposta veio em 1978 com o álbum “Some Girls”, o mais nervoso e cheio de energia dos Stones em seis anos. O petardo “Respectable” provava que os “superados” Stones podiam fazer algo tão punk quanto os punks.

11- “Rolling Stones” – “Start Me Up” (Official Promo)

O último dos realmente grandes clássicos dos Stones (dependendo da boa vontade do fã, houve outros pequenos clássicos depois) foi “Start Me Up”, faixa de abertura do álbum “Tattoo You”, de 1981. Jagger ainda estava abaixo dos 40: tinha 38.

O curioso é que “Start Me Up” passou oito anos na gaveta. Foi composta e gravada em 1973, mas não emplacou nessa ocasião. Chegou a ser até um reggae em algum ponto, mas felizmente voltou a ser um rock de primeira linha ao receber um banho de estúdio em 1981.

No clipe, os cinco Stones demonstram sem muita timidez que lip-sync e mímica não são o forte deles. Os movimentos de boca e mãos na dublagem da gravação tirada do álbum dão escorregadas que podem ser até hilárias.

Bônus fotográfico:

O senso de humor do amigo, parceiro e quase irmão Keith Richards…

 

Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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