Os micróbios no seu cocô podem ajudar os cientistas a entenderem melhor as doenças
Seu cocô é uma floresta viva. É sério! Centenas de espécies de micróbios prosperam dentro de você, te ajudando a viver sua melhor vida possível. O microbioma de cada pessoa é diferente — o seu é diferente daquele do seu vizinho, e populações diferentes também diferem entre si. Mas existe muita coisa que os cientistas ainda não sabem sobre o microbioma humano, e uma equipe de cientistas acreditar ter dado um salto no objetivo de entendermos melhor essa floresta.
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Um time internacional de pesquisadores analisou o cocô de 308 homens. Porém, em vez de analisarem o DNA e os tipos de micróbios presentes nas fezes, eles observaram o transcriptoma — a lista de coisas que cada uma dessas bactérias de fato faz. Essa pode ser uma ferramenta importante para estudos futuros que ajudem a identificar as causas e potenciais curas de doenças.
“Essa é a primeira grande pesquisa transcriptômica”, afirmou Curtis Huttenhower, professor associado em biologia computacional da Escola T.H. Chan de Saúde Pública de Harvard, em entrevista ao Gizmodo. “Isso mostra o que os micróbios do intestino estão fazendo, além de mostrar quem está lá.”
Cada vez mais trabalho está sendo feito para entender os habitantes do intestino humano. Estudo ligaram problemas no microbioma a doença inflamatória intestinal, diabetes, câncer e outras condições. Nossa bactéria intestinal até parece ter um grande impacto em nossa saúde mental. Temos dados sobre quais espécies tendem a viver em nosso intestino, mas não sabemos muito sobre o que elas fazem lá. Portanto, os pesquisadores sequenciaram microbiomas fecais de 308 homens de idade avançada que participaram do “Estudo de Acompanhamento de Profissionais de Saúde”. Eles observaram o RNA mensageiro — basicamente, as fotocópias das partes do DNA que os micróbios usam.
Os dois estudos, ambos publicados nesta segunda-feira (15), na Nature Microbiology, demonstram que os habitantes do intestino estão realizando diferentes funções em diferentes momentos, dependendo do humano hospedeiro. Basicamente, os estudos sugerem que, assim como diferentes tipos de células, algumas das bactérias estão sempre realizando diferentes trabalhos, enquanto outras só começam a trabalhar em resposta a algum fator externo, como o tipo de comida que você come.
Este estudo ainda é apenas uma ferramenta para se aprender mais. Vai levar pelo menos mais alguns anos até que possamos dizer que um problema com uma bactéria X causa a doença Y. Mas esse trabalho estabelece que várias bactérias têm diferentes funções. Além disso, ele “nos ajuda a detectar quando algo está errado a curto prazo”, disse Huttenhower, “e, no longo prazo, esperamos descobrir como curar algo específico que dê errado”.
É claro que existem limitações aqui: o estudo incluiu apenas 308 homens de idade avançada trabalhando no campo de saúde, e os microbiomas podem variar drasticamente entre indivíduos. Não obstante, trabalhar com cocô também pode ser, bem, uma merda. “A parte ruim é que as amostras de fezes são conhecidas por espirrarem, e isso é ruim em todos os aspectos”, afirmou Huttenhower.
O campo das pesquisas de microbioma está avançando rapidamente, e existem várias maneiras de se envolver nele, desde programas de cientistas cidadãos, como o American Gut Project, nos Estados Unidos, até kits de testes caseiros, como o uBiome. Alguns são cautelosos em relação aos testes caseiros. Porém, talvez um dia os médicos conseguirão prescrever reparações específicas para o seu microbioma, te ajudando a superar uma doença específica, em vez de apenas recomendar pílulas probióticas gerais que você deve ter visto por aí.
“Quando os Estados Unidos decide recuperar os lobos no (Parque Nacional de) Yellowstone, não dá para simplesmente descer lobos de paraquedas, e não se pode replantar uma floresta inteira e importar tudo de uma vez”, afirmou Huttenhower. “Você precisa achar o jeito certo de trazer os lobos e seu sistema de suporte para dentro da ecologia. É dessa maneira que funciona com os micróbios também.”
Imagem do topo: Darryl Leja, NHGRI-NIH/Flickr