Nada parece passar ileso na luta contra o plástico descartado na natureza. Nem parques, nem oceanos e, de acordo com novas descobertas, nem mesmo plantas. Em um estudo publicado na Nature Nanotechnology, cientistas afirmam que as plantas podem absorver pequenos pedaços de plástico através de suas raízes.
O grupo de pesquisadores analisou a capacidade das plantas de absorver plástico em um ambiente de laboratório. Eles expuseram diretamente a espécie de erva daninha Arabidopsis thaliana (agrião) a plásticos menores que 100 nanômetros. Para contextualizar, uma folha de papel tem 100.000 nanômetros de espessura, então estamos falando de pedaços extremamente pequenos de plástico. A equipe de pesquisadores avaliou a distância que o plástico viajou para as plantas, bem como seu impacto na biologia e genética do vegetal.
Para estudar a planta, os cientistas cultivaram o agrião em solo sujo e à base de ágar, que possui nutrientes semelhantes aos do solo, o que lhes permitiu estudar mais facilmente as raízes, pois separá-las poderia causar danos quando estão em solo regular. Em cada cenário, as plantas foram expostas a uma quantidade variável de nanoplástico, incluindo 10, 50 e 100 partes por milhão, bem como um grupo de controle sem plástico. Sob essas condições do solo, as plantas cresceram por 10 dias em uma câmara aquecida a cerca de 22 graus Celsius.
Apesar dos números parecerem complicados, o mais importante a saber é que as doses de plástico usadas pelos cientistas representam concentrações que são encontradas no meio ambiente.
O resultado mostrou que, por essas partículas serem tão pequenas, elas foram capazes de penetrar no tecido das raízes e pareciam impedir que elas absorvessem água adequadamente. Os autores também encontraram indícios de que os nanoplásticos impediram as plantas de crescerem de forma adequada, prejudicando o desenvolvimento das mudas.
Para piorar tudo, a equipe acredita que o plástico estava, de fato, alterando a composição genética: a sequência de RNA que testemunharam sugere que os nanoplásticos afetaram a capacidade da planta de resistir a doenças. No entanto, esta parte do estudo requer uma análise mais aprofundada, e os cientistas já estão trabalhando em uma pesquisa secundária para aprender mais sobre esses impactos genéticos.
Essas descobertas são preocupantes por várias razões. Uma delas é óbvia: nós comemos plantas. Apesar do agrião ser comestível, a verdadeira preocupação é com o que está acontecendo nas fazendas onde os campos podem ser protegidos com lonas de plástico. Se pequenos pedaços se fragmentarem de qualquer objeto de plástico maior, eles podem cair direto no solo usado para cultivar nossos alimentos. Mesmo fazendas que não usam coberturas podem ter suas plantações sob risco de contaminação por plástico, uma vez que o material pode ser transportado por centenas de quilômetros pelo vento e pela chuva.
“As plantas terrestres formam a base de muitas cadeias alimentares. Portanto, o acúmulo de nanoplásticos nas plantas pode ter implicações em outros níveis, o que pode representar um risco potencial para a produção, qualidade e segurança dos alimentos”, escreveu por e-mail o co-autor do estudo, Xian-Zheng Yuan, que atua como professor de ciência ambiental e engenharia da Universidade Shandong em Jinan, na China.
Embora algumas pesquisas tenham examinado as consequências dos nanoplásticos em plantas aquáticas, este artigo é o primeiro a encontrar evidências de que eles também afetam as plantas terrestres. Segundo Yuan, a equipe usou o agrião em sua investigação porque é um “modelo popular” para se estudar a biologia e genética de plantas. Foi a primeira a ter seu genoma sequenciado e é comumente utilizada em estudos como este.
A abordagem baseada em laboratório permitiu que a equipe aprendesse sobre os impactos diretos dos nanoplásticos nas plantas, mas também não é diretamente aplicável a plantas e plásticos na natureza. Isso porque o plástico que flutua transportado na atmosfera e depositado no solo não será tão “limpo” como o que a equipe usou em sua análise. Ao ar livre, os plásticos são decompostos por produtos químicos e clima, alterando sua composição. Dependendo de como eles mudam, os impactos podem ser diferentes em plantas fora do ambiente de laboratório.
O novo artigo cria uma base sólida para pesquisas futuras nesta área. Stapleton especula que este estudo pode sugerir que a absorção de nanoplásticos pode estar acontecendo em uma escala global, dadas as pesquisas recentes que descobriram que os microplásticos viajam através dos ventos atmosféricos.
Os impactos nas pessoas ainda são desconhecidos. Mas descobertas do ano passado mostram que, a cada semana, estamos comendo microplástico equivalente a um cartão de crédito. As preocupações com segurança alimentar são reais. E a única maneira de reduzir a exposição é o mundo reduzir o uso de plástico em primeiro lugar.