Se você já tentou falar com assistentes virtuais, como Alexa, Siri ou Google Assistente, provavelmente já passou pela frustração de ouvir alguma resposta que faz você lembrar que está falando com um robô. Mas já imaginou se essas tecnologias soassem (ou até mesmo se movessem por meio de uma imagem 3D) exatamente como uma pessoa real que você conhece?
Pois é exatamente isso que a Microsoft parece estar planejando criar no futuro. De acordo com o Protocol, a gigante de tecnologia registrou uma patente que descreve um chatbot que pode ser criado com base em “dados sociais”, ou seja, imagens, áudios, posts em redes sociais e mensagens, de pessoas específicas, inclusive de quem já morreu. Se isso te lembra alguma coisa, é porque isso realmente é muito Black Mirror.
Com a notícia, logo começaram as comparações com o episódio Be Right Back da série da Netflix. Se você não assistiu ou não se lembra, a história é sobre uma mulher que compra um robô com inteligência artificial capaz de imitar a aparência e o jeito de seu falecido marido com base nesses mesmos “dados sociais” citados na patente da Microsoft.
O que é mais impressionante (ou assustador) é que a tecnologia não seria como as assistentes virtuais que existem atualmente, pois ela poderia contar até mesmo com um modelo 2D ou 3D gerado a partir de imagens e vídeos associados a uma pessoa específica.
Segundo o documento encontrado pelo Protocol, essa “pessoas específica” representada pelo robô pode ser qualquer um, incluindo “uma entidade passada ou presente (ou uma versão dela), como um amigo, um parente, um conhecido, uma celebridade, um personagem fictício, uma figura histórica, uma entidade aleatória, etc”. Ou seja, imagine poder criar uma inteligência artificial com a cara, voz, e jeito do seu cantor preferido, um super-herói ou alguém da história que você admira.
Ou ainda, se você for um tanto narcisista, pode até criar uma versão de si mesmo. (O que também nos faz lembrar de outro episódio de Black Mirror, o Black Museum, em que uma das histórias é de uma mulher que cria um “cookie” de si mesma para servi-la como assistente virtual.) A patente da Microsoft diz que o próprio usuário pode criar e treinar o robô para criar sua versão digital. Dependendo de como o robô for treinado, ele pode ser capaz de imitar as características individuais de uma pessoa, como “estilo, dicção, tom, voz, intenção, complexidade do diálogo, tópico e consistência”.
Caso não haja dados suficientes para o chatbot dar uma resposta com base no que foi fornecido, serão utilizados dados de bancos coletivos para preencher as lacunas em um diálogo.
Apesar de ser algo extremamente interessante, caso o projeto saia do papel, é claro, a tecnologia também levantaria uma série de preocupações – como acontece com a maioria dos produtos e serviços que lidam com dados de pessoas reais. No caso de um robô capaz de imitar qualquer um, inclusive pessoas já falecidas, um dos questionamentos é se os familiares conseguiriam impedir que seus entes queridos sejam transformados em chatbots sem sua permissão ou conhecimento, por exemplo. Ou até mesmo se pessoas ainda vivas poderão optar por não participar do sistema e impedir que seus dados sejam utilizados por outros para criar versões digitais indesejadas.