Microsoft sobre inovação: o que importa é a escala

Depois que o ex-vice-presidente Dick Brass criticou publicamente a administração e filosofia da Microsoft em um artigo do New York Times, a empresa tinha três opções: negar todas as acusações, deixar quieto ou admitir as falhas. Ou, pelo que parece, nenhuma das anteriores.

Depois que o ex-vice-presidente Dick Brass criticou publicamente a administração e filosofia da Microsoft em um artigo do New York Times, a empresa tinha três opções: negar todas as acusações, deixar quieto ou admitir as falhas. Ou, pelo que parece, nenhuma das anteriores.

A resposta da Microsoft veio em um post no blog oficial da empresa, assinado pelo vice-presidente de Comunicações, Frank Shaw. O post analisa o artigo mais ou menos ponto por ponto, então vamos comentar o post dele mais ou menos ponto por ponto.

Dick Brass acusou a Microsoft de reprimir inovação, e esticar até mesmo projetos pequenos por quase uma década — como a implementação do ClearType, uma função de alisamento de fontes para Windows. A resposta da Microsoft:

Vale lembrar que o ClearType hoje se encontra em toda cópia do Windows que fazemos, e está instalado em quase um bilhão de PCs ao redor do mundo. Este é um ótimo exemplo de inovação com impacto: inovação em escala.

Agora, você poderia argumentar que isto deveria ter acontecido mais rápido. E às vezes acontece. Mas, para uma empresa cujos produtos tocam um número vasto de pessoas, o que importa é inovação em escala, não inovação com velocidade.

Só que o que Brass estava argumentando é que isso deveria ter acontecido mais rápido. Dizer que escala é tudo o que importa é deixar implícito que muitas pessoas que potencialmente usariam o ClearType estavam atrasando a sua implementação, o que não faz muito sentido. Escala é obviamente — e tem que ser mesmo — importante para a Microsoft, mas acho que a ideia de Brass é que escala e agilidade não precisam ser perfeitamente inversas.

Brass também disse que pessoas na equipe do Office tinham tanta resistência à ideia de tablets que eles se recusaram a fazer uma interface amigável ao toque para a suíte de produtividade. A resposta da Microsoft:

Eu só vou apontar para este produto chamado OneNote, que foi criado essencialmente para o Tablet e hoje é uma parte chave do Office.

O OneNote é um programa de anotações. Dá para desenhar nele, e ele é ótimo em registrar input de caneta stylus. É um ótimo programa! O que ele não faz, no entanto, é tornar os outros programas do Office mais fáceis de usar em um tablet. A primeira geração de tablet PCs com Windows precisava de uma suíte Office sensível ao toque, não só de um programa novo.

Shaw acerta cheio em um ponto: consoles de jogos. Brass disse que o Xbox 360 é "no máximo um concorrente igual aos outros no mercado de consoles de jogos", e isso não parece ser verdade:

O fato é que o Xbox 360 foi o primeiro console de alta definição. Ele foi o primeiro a entregar digitalmente jogos, música, programas de TV e filmes em alta definição 1080p. O primeiro a levar o Facebook e o Twitter para a sala de estar. E, com o Project Natal para Xbox 360 a ser lançado este ano, ele será o primeiro a proporcionar experiências sem joystick que qualquer um pode ter — uma experiência mágica para todos que a Popular Science, Popular Mechanics e a revista Time nomearam, separadamente, uma das melhores invenções de 2009.

O 360 é a coisa mais próxima de justificar a filosofia da Microsoft da forma que é hoje: ele nasceu do projeto Xbox original, que foi por sua vez uma resposta da Microsoft depois de finalmente identificar que o mercado de consoles era algo do qual eles queriam participar, em uma escala que valia a pena para eles. No longo prazo, compensou. Dito isto, o sucesso do Xbox 360 (mesmo com uma taxa de falhas alta) dependeu altamente da incrível paciência da Microsoft, o que não serve muito para mudar a percepção de que a empresa se mexe muito devagar, a preocupação principal de Dick Brass.

E este é o problema principal aqui: você pode ficar contestando histórias e detalhes, mas histórias como o artigo do NYT são apenas ilustrações de um problema que é dolorosamente óbvio para qualquer um que esteja acompanhando o assunto. Para uma empresa gastar tanto dinheiro e talento para chegar atrasada em um monte de mercados — um sucessor decente para o Windows XP, um sistema operacional para celulares competitivo, um PMP que não seja irrelevante como o Zune —, fica bem claro qual é o principal problema da Microsoft. Brass só ilustrou o problema. [Microsoft]

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