Ministro da Saúde da Nova Zelândia renuncia após dois novos casos importados de COVID-19
A principal autoridade de saúde da Nova Zelândia deixou o cargo na quinta-feira (2) após um escândalo relativamente pequeno, mas que mostra a enorme diferença na maneira como os EUA e outros países estão lidando com a pandemia de COVID-19.
O ministro da Saúde da Nova Zelândia, Dr. David Clark, anunciou sua renúncia depois que, por engano, permitiu que dois visitantes da Grã-Bretanha — mulheres que depois testaram positivo para COVID-19 — viajassem pelo país para comparecer a um funeral no mês passado. Por outro lado, ninguém no governo Trump renunciou ou foi demitido pelas repetidas falhas do governo americano em controlar o pior surto de coronavírus do mundo.
“Para mim, ficou cada vez mais claro que minha continuação no cargo está sendo uma distração à resposta geral do governo ao COVID-19 e à pandemia global”, disse Clark em uma entrevista coletiva em Wellington transmitida ao vivo no YouTube.
Duas irmãs britânicas de 30 e 40 anos desembarcaram na Nova Zelândia no início de junho para visitar um familiar doente. Elas estavam na quarentena de 14 dias do país — agora necessária para todos os visitantes internacionais — quando a pessoa morreu.
As viajantes solicitaram uma isenção especial para sair da quarentena e comparecer ao funeral, que foi concedida pelo Departamento de Saúde antes de serem testadas para COVID-19. Quando eles ficaram doentes e os resultados foram positivos após o funeral, a falta de supervisão adequada se transformou em um escândalo nacional na Nova Zelândia.
A Nova Zelândia identificou apenas 1.530 casos e 22 mortes por COVID-19 e agora erradicou a doença, de acordo com o rastreador de coronavírus da Universidade Johns Hopkins. Enquanto isso, os EUA tiveram mais de 2,86 milhões de casos e mais de 128 mil mortes. Os EUA registraram mais de 50 mil casos na quarta-feira (1º), um novo recorde, de acordo com o COVID-19 Tracking Project.
Enquanto isso, as únicas pessoas que perderam o emprego nos níveis federal e estadual nos EUA durante a crise do coronavírus foram pessoas que denunciaram erros, como o especialista em vacinas Dr. Richard Bright, do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, e a cientista de dados Rebekah Jones, que trabalhava para a estado da Flórida.
Bright disse ao Congresso que foi forçado a sair depois de não promover suficientemente o medicamento chamado hidroxicloroquina que o presidente Donald Trump havia elogiado tratar COVID-19. Estudos demonstraram que a droga pode, na verdade, causar taxas de mortalidade mais altas em pessoas com o novo coronavírus.
E Jones, que trabalhava no painel de coronavírus on-line da Flórida, diz que foi afastada depois de se recusar a manipular dados públicos para fazer com que a pandemia da Flórida parecesse melhor do que a realidade, de acordo com uma entrevista que deu à NPR nesta semana.
Anteriormente, o ministro da Saúde da Nova Zelândia também foi criticado por fazer um longo passeio de bicicleta não autorizado com sua família durante o confinamento em abril, e a primeira-ministra Jacinda Ardern disse na época que ela o teria demitido em circunstâncias normais, mas ela simplesmente não queria quaisquer interrupções no enfrentamento ao COVID-19, de acordo com Clark.
Por outro lado, o presidente Donald Trump, que repetidamente desrespeitou as diretrizes de seu próprio governo sobre tudo, desde máscaras a aglomerações, realizando inclusive um comício em Tulsa, Oklahoma, no mês passado, que qualquer presidente teria cancelado. Trump também continua fazendo afirmações ridículas sobre a pandemia.
“Acho que estamos lidando muito bem com o coronavírus. Eu acho que em algum momento isso simplesmente desaparecerá, espero”, disse Trump à Fox Business Network em uma entrevista amigável concedida na quarta-feira — a Fox faz uma cobertura bastante favorável ao presidente.
Trump disse várias vezes que o vírus desapareceria sozinho, algo que objetivamente não é verdade. E estados como Arizona, Califórnia, Texas e Flórida estão passando por um aumento preocupante em casos que serão sentidos nas próximas semanas, se não meses.
O Arizona registrou 4.878 novos casos ontem e 88 mortes, um recorde estadual para casos e mortes diários. O Texas registrou 8.076 novos casos ontem e 57 mortes, um recorde em número diário de novos casos e o segundo maior número de mortes em um dia, perdendo apenas para a contagem de 58 mortes em 14 de maio no Texas. A Flórida registrou 6.563 novos casos e 46 novas mortes ontem.
Além disso, especialistas como o ex-comissário da FDA Scott Gottlieb acreditam que os EUA provavelmente estão identificando apenas cerca de 10% do número real de casos de COVID-19 no momento.
“Essas infecções entre 40 mil e 50 mil que estamos diagnosticando todos os dias atualmente representam realmente entre 400 mil e 500 mil infecções”, disse Gottlieb à CNBC na quarta-feira. “Nem todas as pessoas são sintomáticas, mas provavelmente 200 mil a 300 mil delas são sintomáticas.”
Existem pessoas irresponsáveis em todos os países. Na Nova Zelândia, na Alemanha e na Austrália, entre muitos outros, há quem pense que a pandemia é uma farsa envolvendo 5G e Bill Gates com o objetivo de tentar vacinar as pessoas contra sua vontade. Mas o exemplo da Nova Zelândia mostra que você não precisa confiar na boa vontade das pessoas para fazer a coisa certa se tiver uma liderança real nos principais níveis do governo. Todos esses governos instituíram um lockdown adequado, fizeram testes e empregaram funcionários de saúde pública para estabelecer uma vasta rede de rastreamento de contatos.
As pessoas “razoáveis” geralmente querem pôr a culpa pelo aumento do coronavírus em quem não está usando máscara ou em quem está agindo de forma irresponsável. E embora essas pessoas devam certamente ser criticadas, você não consegue controlar uma pandemia colocando a responsabilidade apenas em indivíduos. É preciso haver uma resposta coordenada do governo e, quando esses líderes fracassam, como o ministro da Saúde da Nova Zelândia, essas pessoas precisam deixar seus cargos.