Ciência

Mistério da surdez de Beethoven pode ser decifrada com chumaço de cabelo

200 anos após Nona Sinfonia, cientistas encontraram substâncias tóxicas, como o chumbo, em mechas de cabelo que explica surdez de Beethoven
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Em 7 de maio de 1824, Beethoven estreou mundialmente sua Nona Sinfonia, a última que ele completou. No momento, o compositor evidenciou para seu público que estava surdo, ao mesmo tempo que tocava a música em que traduzia o que sentia sobre a condição – desespero, superação e, por fim, um ode à alegria.

 

Agora, 200 anos depois, por meio da análise de mechas do cabelo de Beethoven, exames da Mayo Clinic identificaram o possível motivo de sua perda de audição: chumbo. Os resultados foram divulgados em carta na revista Clinical Chemistry.

Além de divulgar a descoberta, o comunicado também refuta a análise anterior da mesma equipe envolvida na investigação: William Meredith, diretor fundador do Ira F. Brilliant Center for Beethoven Studies, da Universidade Estadual de San Jose; Paul Jannetto, diretor do laboratório; e Kevin Brown, um empresário australiano com paixão por Beethoven.

Em 2023, a mesma equipe disse que Beethoven não tinha envenenamento por chumbo. Contudo, frente aos novos testes minuciosos, eles afirmam que o compositor tinha chumbo suficiente em seu sistema para, no mínimo, explicar sua surdez e doenças.

A surdez de Beethoven

Durante a estreia da Nona Sinfonia, a surdez de Beethoven fez com que ele não percebesse o sucesso do primeiro movimento de sua composição. Enquanto a plateia de 1800 pessoas aplaudia veementemente, ele estava de costas, contando o tempo, e teve de ser chamado por um solista que estava presente.

Mas além da surdez de Beethoven, que o atingiu a partir dos 20 anos de idade, ele também sofria com outros problemas de saúde, como cólicas abdominais e diarreia.

Dessa forma, para a pesquisa sobre o possível motivo de suas debilidades, a equipe procurou mechas de cabelo do compositor em leilões e em museus. No total, encontraram cinco mechas que  foram confirmadas por uma análise de DNA como provenientes da cabeça de Beethoven.

Envenenamento por chumbo

Em uma análise de substâncias tóxicas, descobriram que uma das amostras continha 258 microgramas de chumbo por grama de cabelo. Além disso, outra mecha tinha 380 microgramas a cada grama de cabelo.

Em geral, o nível normal no cabelo é inferior a 4 microgramas de chumbo por grama da amostra. “Definitivamente mostra que Beethoven foi exposto a altas concentrações de chumbo. Esses são os valores mais altos no cabelo que já vi”, disse o Dr. Jannetto ao New York Times.

De acordo com os especialistas, o chumbo afeta o sistema nervoso, o que pode explicar a surdez do compositor. Também é compatível com os problemas gastrointestinais.

Além do chumbo, o cabelo de Beethoven também tinha níveis de arsênico 13 vezes maiores que o normal e níveis de mercúrio que eram 4 vezes a quantidade considerada normal.

De onde vinha tanto chumbo?

Para os pesquisadores envolvidos no estudo, o chumbo que envenenou Beethoven foi ingerido inconscientemente pelo próprio compositor. Isso porque, no século XIX, o chumbo era usado em vinhos, alimentos e medicamentos na Europa.

O compositor não negava seu apreço por um vinho, que nas versões mais baratas continha acetato de chumbo. Além disso, a bebida era fermentada em caldeiras soldadas com o metal. No total, Beethoven bebia cerca de uma garrafa por dia.

Quando começou seus diversos tratamentos para os problemas de saúde, o compositor também utilizou pomadas e medicamentos que provavelmente agravaram o envenenamento.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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