É possível modificar uma flor para ela ser realmente azul?

Na natureza, a cor azul é muito mais rara do que você pode imaginar. E até por meio da modificação genética, cientistas têm dificuldade em alcançar a cor

Na natureza, a cor azul é muito mais rara do que você pode imaginar. É claro, o céu é azul quando o clima está bom, assim como o oceano. Mas a maioria das plantas e dos animais é incapaz de produzir o pigmento azul. Pavões brilhantemente coloridos parecem ser azuis, mas não porque suas penas têm essa cor, mas pela maneira como refletem a luz. Menos de 10% das 280 mil plantas floríferas do mundo produzem flores azuis, o que pode ser a razão pela qual elas são retratadas como símbolo do inalcançável no folclore e na literatura.

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Por décadas, cientistas buscam utilizar a engenharia para superar as limitações da natureza e criar verdadeiras flores azuis. Nesta quarta-feira (26), um grupo de cientistas japoneses anunciou a primeira: crisântemos modificados para expressar dois diferentes genes de flores e uma tonalidade de azul.

“Crisântemos, rosas, cravos e lírios são as principais plantas floricultoras, [mas] elas não possuem cultivos de flores azuis”, disse Naonobu Noda, autor líder do estudo e cientista da Organização Japonesa Nacional de Pesquisa para Agricultura e Comida, em entrevista ao Gizmodo. “Ninguém conseguiu gerar cultivos de flores azuis por técnica de reprodução geral.”

Para transformar as flores tipicamente vermelhas ou rosas do crisântemo em azuis, Noda e sua equipe desenvolveram flores que expressam dois genes da flor do feijão-borboleta e da campânula – a flor de campainha – que estão ligados à coloração azul nessas flores. Esse método resultou em flores que pareciam estar dentro do espectro do azul. Eles descobriram que essa cor resultante veio a partir de um trabalho de “co-pigmentação”, uma interação química dentro da flor que eles esperam que também ajude a tornar outras populações de flores capazes de gerar o pigmento azul.

A Suntory, um conglomerado japonês mais conhecido por suas bebidas alcoólicas, já buscou as flores azuis por muito tempo. Em 2009, depois de duas décadas de pesquisa, eles lançaram a primeira rosa “azul” do mundo, uma flor que tinha uma coloração mais parecida com um roxo pálido do que com azul. Algumas pessoas podem notar que os novos crisântemos “azuis” parecem ter mais tons de violeta, lavanda e berinjela.

crisantemo-azul-2Crisântemos “azuis” geneticamente modificados. Crédito: Science Advances

“Suas flores são como uma lavanda, na melhor das hipóteses”, disse Sebastian Cocioba, artista e biohacker que está tentando criar sua própria rosa azul. “Eu nunca conseguiria me sentir confortável chamando isso de azul.”

E, ainda, a rosa de Suntory, a “Applause”, foi a coisa mais próxima de uma rosa azul já feita até agora. Da mesma forma com os crisântemos, que tecnicamente se encaixam dentro dos grupos de cor azul ou violeta-azul determinados pela Royal Horticultural Society. Eles podem não ser verdadeiramente azuis, mas os crisântemos modificados ainda assim são um grande feito. Os crisântemos não produzem o que é conhecido como antocianinas baseados em delfinidina, pigmentos responsáveis pelos tons de azul em determinadas flores. Noda e sua equipe conseguiram introduzir esses pigmentos no genoma da flor por meio de genes da flor do feijão-borboleta e da campânula e fizeram ainda com que a flor expressasse esses genes.

Existe uma grande demanda do mercado por tais criações de laboratórios. Quando estreou no Japão, a rosa azul da Suntory foi vendida com um preço dez vezes mais alto do que aquele cobrado por rosas normais. Crisântemos ocupam o segundo lugar entre as flores mais vendidas no mundo, perdendo só para as rosas. Noda diz que espera que novas flores azuis modificadas expandam drasticamente o desejo de comprar flores.

hfkg1ghf5asxh4d1mg9iA rosa azul de Suntory. Crédito: Suntory

Ainda assim, cientistas defendem que essas flores se parecem mais roxas do que azuis.

O desenvolvimento da cor azul nas flores é bem estudado, e elas atingem essa cor de diversas maneiras. Noda e seu time escolheram o método que acreditaram que teria mais chances de funcionar – a co-pigmentação. Outros métodos, como modificar os níveis de pH, poderiam desestabilizar as células das flores, de acordo com suas hipóteses. Mas uma vez que as flores não se tornaram tão azuis quanto eles esperavam, pode haver algo a mais a ser feito, escreveram em seu artigo.

No final das contas, talvez a quantidade de azul na natureza seja algo que não possamos simplesmente modificar.

“Existem ideias para torná-la mais azul”, disse Noda. “No entanto, como não existe nenhum [único] gene para realizar isso, talvez seja difícil.”

Imagem do topo: Crisântemos “azuis” geneticamente modificados. Crédito: Science Advances

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