Mudança para o horário de verão aumenta a probabilidade de acidentes de carro fatais

Um novo estudo relacionou a adaptação ao horário de verão nos Estados Unidos a um aumento de acidentes graves com veículos.
Fim de tarde de um dia de verão
Getty Images

Um novo estudo publicado nesta quinta-feira (30) destaca uma consequência perturbadora do horário de verão. Foram encontradas evidências de que o avanço dos relógios leva a acidentes de carro mais fatais nos EUA durante a semana seguinte.

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O novo estudo, publicado na Current Biology, analisou dados federais sobre acidentes de trânsito fatais entre 1996 e 2017 em estados onde o horário de verão é seguindo (Havaí e partes do Arizona excluídas). Eles se concentraram especificamente na semana da mudança, uma semana antes dela e uma semana depois.

Comparado às semanas adjacentes, a equipe descobriu que houve um aumento médio de 6% no risco de um acidente de carro fatal durante a semana da mudança do horário de verão. Esse aumento de risco foi observado até mesmo no domingo, quando muitas pessoas podem ter a chance de dormir. Mas de segunda a sexta-feira dessas semanas, a equipe estimou que havia cerca de cinco a seis acidentes extras por dia que não teriam acontecido se não fosse a mudança nos relógios. Ao longo dos 22 anos de dados analisados, isso representaria mais de 600 acidentes fatais evitáveis.

“O impacto na saúde pública da transição do horário de verão em relação ao risco de acidentes de trânsito fatais é claro a partir de nossos dados”, disse a autora do estudo, Céline Vetter, pesquisadora de sono e ritmo circadiano na Universidade da Colorado em Boulder, via e-mail. “Como nossos dados incluíram apenas os acidentes mais graves, ou seja, em que uma fatalidade foi registrada, essa estimativa provavelmente é uma subestimação do risco real.”

Como muitos que já tiveram a dor ou a delícia de experimentar o horário de verão sabe, adiantar o relógio em uma hora pode tornar nossas manhãs subitamente muito mais escuras. Essa mudança de cenário pode estragar nossos relógios corporais, aumentando o sono e diminuindo a capacidade de dormir bem. Os autores também observaram que as mudanças na iluminação natural durante a manhã e a noite podem afetar as condições de direção, embora isso provavelmente tenha um papel menor.

“Considera-se que este ‘mini-jetlag’,  juntamente com a perda de sono que geralmente o acompanha, leve à fadiga e à função cognitiva prejudicada, que por sua vez são preditores conhecidos de acidentes”, disse Vetter.

Desde 2007, os EUA determinam que o horário de verão — implementado originalmente como uma maneira de fornecer às pessoas mais horas de luz do dia e conservar energia que seria gasta na iluminação de nossos edifícios por mais uma hora à noite — deveria começar no segundo domingo de março. Anteriormente, ele começava em abril. Os autores encontraram algumas evidências de que a mudança para março pode ter aumentado a probabilidade de acidentes de carro fatais. Dito isto, eles não encontraram evidências de que o fim do horário de verão, agora no primeiro domingo de novembro, tenha causado um salto em acidentes fatais.

Ainda assim, juntamente com outras pesquisas que vinculam as mudanças de horário causadas pelo horário de verão a outros riscos à saúde pública, incluindo um aumento de ataques cardíacos, derrame e privação de sono, as descobertas do estudo são realmente apenas mais um prego no caixão dessa medida. Alguns estados dos EUA estão começando a concordar.

“Nossas descobertas estão alinhadas com todo um conjunto de evidências sugerindo que devemos abolir a alternância entre o horário de verão e o horário padrão”, disse Vetter.

Em 2019, o Oregon aprovou uma lei para tornar o horário de verão permanente, mas ela só entraria em vigor se Washington e Califórnia aprovassem uma lei semelhante, para facilitar a transição para todos os que vivem na costa oeste. Washington aprovou a versão deles no mesmo ano, mas ainda não se sabe quando ela poderá entrar em vigor. Em 2018, os moradores da Califórnia votaram a favor de uma medida semelhante, que tornava o horário de verão permanente, mas ela está parada no congresso estadual desde então.

“De um modo geral, há evidências de que seria melhor para o sono, o relógio corporal e a saúde geral ter mais luz da manhã e menos luz da noite, como é o caso se adotarmos o Horário Padrão permanente”, disse ela.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro acabou com o horário de verão em 2019, alegando que não havia mais tantas vantagens, já que a economia gerada durante o período era quase nula.

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