A revolução será sobrevoada: o mundo dos drones “civis” que começam a conquistar o céu brasileiro

Em um quarto no segundo andar de um sobrado próximo ao Estádio do Pacaembu, Luiz Neto tem uma coleção de drones. Quadcópteros, hexacópteros, octacópteros (dependendo da quantidade de hélices) ou VANTs (Veículos Aéreos Não-Tripulados), tanto faz, todos são, em sua essência, drones. São coisas voadoras controladas por controle remoto que emitem um ruído parecido com […]

Em um quarto no segundo andar de um sobrado próximo ao Estádio do Pacaembu, Luiz Neto tem uma coleção de drones. Quadcópteros, hexacópteros, octacópteros (dependendo da quantidade de hélices) ou VANTs (Veículos Aéreos Não-Tripulados), tanto faz, todos são, em sua essência, drones. São coisas voadoras controladas por controle remoto que emitem um ruído parecido com o de alguns insetos.

Neto, apaixonado por aeromodelismo desde a infância, encontrou nos drones mais do que uma extensão do seu hobby: é o seu trabalho. E com a empresa GoCam, ele usa esses aparelhos para gravar vídeos com vistas aéreas de grandes eventos. Um dos trabalhos mais recentes foi para a Folha de São Paulo, quando ele usou o seu drone Phantom para filmar o povo que tomava as ruas da capital paulista durante as manifestações dos últimos dias.

O quarto alugado onde funciona o escritório da empresa – que tem apenas um funcionário (ele mesmo) – está ficando pequeno demais para a quantidade de drones que Neto tem. Além dos vários veículos parados, encontramos alguns aeromodelos pendurados nas paredes. Ele tem uma grande mesa para fazer a manutenção dos aparelho, com os equipamentos para solda e conserto dos aparelhos; uma outra mesa com um Mac (que estava com o Final Cut aberto, para a edição de um vídeo de outro trabalho) e uma terceira mesa com uma TV ligada a um notebook – Neto não é fã de Windows, mas precisou comprar um PC com Windows 7 já que a maioria dos seus equipamentos não são compatíveis com Mac OS X.

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O Phantom, como já falamos antes, é um pequeno quadcóptero de US$ 700 criado para uso com uma câmera GoPro. No dia 17 de junho, ao capturar as imagens do protesto em São Paulo para a Folha, Neto, o responsável por controlar o aparelho, trocava a bateria de seu brinquedo voador a cada oito minutos, em média – é o tempo que ela consegue manter o drone funcionando.

Fui com Neto até a entrada do Estádio do Pacaembu para ver o Phantom em funcionamento. As luzes LED abaixo de cada hélice ajudam a orientar quem está controlando o drone – as duas luzes verdes indicam a parte frontal, enquanto as vermelhas indicam a traseira do veículo. Outro LED redondo na lateral dá informações gerais sobre o funcionamento do aparelho – quando ele consegue detectar a posição via GPS, quando a bateria está acabando, coisas assim.

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Assistir Neto controlar o drone faz parecer que é tudo simples. Mas não é. Não é nada simples. Eu só toquei no controle remoto para ver de perto como ele é – nada além disso. No escritório da GoCam, brinquei com um simulador de drones instalado em um computador para ter a certeza absoluta que, se eu tentasse controlar um Phantom por conta própria, quebraria o Phantom em poucos segundos. No vídeo abaixo, você pode ver (e ouvir, com o som ambiente) como Neto controla o Phantom pelos céus de São Paulo, e o belo resultado que é criado:

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Mas Neto é especialista no assunto – afinal, ele é fã de aeromodelismo. Ele comprou um drone da MikroKopter há três anos pelo interesse no assunto. E depois percebeu que poderia ganhar dinheiro com isso. Hoje ele possui, além do primeiro drone de oito hélices e do Phantom, um modelo com seis hélices e mais de 7kg – este da foto abaixo.

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Além dos dispositivos usados para fins profissionais, ele também têm alguns para diversão. Como o Ladybird, um pequeno drone chinês com quatro hélices no formato de uma joaninha. Ele também faz um zumbido parecido com um inseto (o apelido “drone” foi dado exatamente por causa do zumbido feito pelos aparelhos).

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Para aumentar a diversão, Neto acopla uma pequena câmera-espiã ao LadyBird – que tem uma qualidade de imagem surpreendente considerando o seu tamanho reduzido. Na imagem abaixo, o LadyBird, controlado por Neto, voa pouco à frente de uma televisão. A imagem da TV é o que a câmera está filmando – no caso, um pedaço do meu braço e o Flavio Oota, o fotógrafo que me acompanhou na visita à GoCam.

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Além de poder transmitir as imagens diretamente para a TV, Neto também consegue fazer com que seus drones enviem o que está sendo gravado para uma tela portátil – é como as telas encontradas dentro de carros, mas com algumas adaptações. Ou então, no caso do Spy Hawk, um drone-espião com câmera embutida, as imagens são passadas direto para o controle remoto. Por fim, o mais legal – mas menos seguro – é um óculos com duas telas.

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Ele é o mais legal porque, bem, é um óculos com duas telas. Mas não é muito seguro – ele fecha todo o seu campo de visão. Portanto, o seu uso depende muito do lugar em que as imagens são gravadas. Nas manifestações em São Paulo, Neto levou a tela portátil. Não era, definitivamente, um lugar adequado para ter a visão tampada pelo óculos.

Perigo?

Não é difícil encontrar alguém que relacione drones a naves perigosas, algo relacionado a armas e militares. Os veículos não-tripulados ganharam destaque após denúncias de que o governo dos Estados Unidos havia matado civis com o uso de drones enquanto caçava terroristas. No fim de maio, após críticas pelo uso dos drones, Obama disse que criaria uma restrição ao uso deles.

O desenvolvimento de drones para uso militar não é recente. Na verdade, os veículos usados pelo governo Obama são frutos de pesquisas de mais de 15 anos, muito antes do atual presidente dos Estados Unidos ser eleito. Uma reportagem da Rolling Stone americana, em 2012, falou bastante sobre o surgimento dos drones assassinos:

Com um preço estimado de US$ 6 milhões, o drone foi produto de mais de 15 anos de pesquisa e desenvolvimento, começando com um projeto sombrio chamado DarkStar supervisionado pela Lockheed Martin. O primeiro teste de voo do DarkStar foi feito em 1996, mas após quedas e outras falhas, a Lockheed anunciou que o programa tinha sido cancelado. De acordo com especialistas militares, foi apenas uma desculpa conveniente para “ir para o escuro”, o que significa que o desenvolvimento do DarkStar ocorreria em segredo.

O uso de drones em guerra rapidamente mudou a situação e colocou os Estados Unidos em ampla vantagem. Não apenas pela possibilidade de um drone matar alguém no chão. Na terra, um líder de esquadrão pode receber informações sobre o campo de batalha que são coletadas pro drones – eles sobrevoam o lugar e mandam as informações sobre quem e o que está por perto.

Uso civil

Mas não vamos nos concentrar no uso em guerras. O uso particular dos drones mesmo é algo bastante discutido. Eles podem ser usados apenas para gravar imagens de determinados eventos – como costuma fazer Neto – ou então para segurança pública, ou monitoramento de propriedades particulares.

Os drones ainda causam algum estranhamento por aqui (o Phantom de Neto foi confundido com OVNIs), mas seu uso é cada vez mais comum. Além dos fins militares (a segurança da Copa de 2014 será feita com drones), existem ao menos 200 drones civis voando no Brasil sem nenhum tipo de regulamentação. Mas não são pequenas aeronaves como as usadas por Neto, são veículos maiores e com outros fins.

Não faz muito tempo que a empresa XMobots recebeu o Certificado de Autorização de Voo Experimental (CAVE) da Anac, autorizando o drone Nauru 500 a voar no céu brasileiro – é o primeiro drone civil a conseguir tal certificação.

NAURU 500A

Mas o Nauru 500 não é como um Phantom. Ele é muito maior, semelhante a um avião. Segundo Fábio Assis, diretor da XMobots, trata-se de um VANT de médio porte. Ele tem 1,83 metros de comprimento e 2,3 metros de envergadura de asa, e pesa 15kg. Para decolar, um piloto controla o aeromodelo. A partir do momento que ele está no ar, ele passa a ser controlado remotamente e segue instruções previamente definidas – o piloto, que fica no chão, apenas observa se tudo está de acordo com o planejado. Seu uso, segundo Assis, envolve monitoramento em áreas ambientais e agrícolas – ele verifica, por exemplo, o desmatamento, ou atividades de garimpo ou pesca ilegais.

O Nauru 500 não foi completamente desenvolvido no Brasil. Suas peças vieram de fora, mas o software usado por ele é 100% brasileiro. E o desenvolvimento dos softwares para drones também é o negócio explorado pela Storm Defense, que testa os sistemas em um SpyHawk, um dos drones de Neto. A Storm Defense – e o seu fundador, Wanderley Abreu Junior – foi assunto de uma extensa (e excelente) matéria na edição 81 de revista piauí (você pode ler aqui, caso seja assinante). Wanderley, um hacker que invadiu a NASA na adolescência, agora vende drones para uso particular para empresas como a Globosat, para o PSDB e até mesmo para uso militar em Gana.

A cada dia, mais veículos não-tripulados conquistam o céu do Brasil. São drones de todos os tamanhos – da pequena joaninha chinesa aos enormes aviões que vigiarão as fronteiras do país. Da próxima vez que você olhar para o céu e encontrar luzes estranhas, não pense que são OVNIs: é bem mais provável que seja apenas mais um drone sobrevoando as ruas das nossas cidades.

Fotos: Flávio Oota. 

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